São Luís era filho de Carlos II, rei de Nápoles e da Sicília, e de Maria, filha de Estêvão V, da Hungria. Na infância, deu muitos sinais de que seria santo. Nunca manifestou qualquer inclinação para os esportes que costumam ser o passatempo dos jovens príncipes. Seus únicos prazeres eram a oração, a leitura de livros religiosos e os sermões piedosos.
Com apenas sete anos de idade, mortificava o corpo para preservar a pureza, era muito modesto em seus hábitos e cultivava a mais terna devoção à Santíssima Virgem. Jamais permitia que uma mulher entrasse em seu quarto e nunca falava com uma a sós, exceto com a mãe e a irmã. Também não encarava ninguém e geralmente dirigia o olhar sempre para baixo.
Quando a Rainha da França, sua parente mais próxima, quis saudá-lo com um beijo, segundo o costume do país, ele não o permitiu. Quando fez o mesmo com sua própria mãe, ela lhe disse: “Mas, meu filho, eu sou tua mãe”. Ao que ele respondeu: “Sei bem que és minha mãe, mas sei também que és uma mulher; e não é apropriado que uma mulher beije um servo do Altíssimo.” Esta modéstia virginal suscitou uma tal veneração a ele que, na corte, só o chamavam de anjo.
Deus também o destinou a praticar a paciência desde cedo na vida. Seu pai, desafortunado na guerra, foi capturado em Barcelona. Apesar de ter sido libertado por meio de um acordo, seus três filhos — dentre eles, Luís — e cinquenta nobres foram mantidos como reféns pelo rei de Aragão, até que as cláusulas fossem cumpridas. Assim, Luís tornou-se prisioneiro, embora jamais tenha se queixado disso. Estava sempre alegre e contente, e dizia frequentemente aos seus companheiros: “Acreditai em mim, para aqueles que desejam servir a Deus, a adversidade é mais salutar do que a prosperidade contínua; pois esta última cega e seduz os homens.”
Durante o período de reclusão, intensificou ao máximo os seus exercícios de piedade. Foi também muito aplicado no estudo da teologia, sob a direção dos padres da ordem de São Francisco, por quem nutria uma amizade muito sincera. Mesmo na condição de refém, Luís tinha permissão para circular dentro dos muros da cidade, mas a nenhum lugar ia com tanta frequência quanto às igrejas e aos hospitais. Naquelas apresentava-se sempre com tal devoção, que servia de modelo a todos; nestes realizava todas as ações possíveis de bondade para com os doentes.
Durante uma enfermidade que o acometeu enquanto esteve em cativeiro, prometeu tomar o hábito dos franciscanos, se Deus lhe restituísse a saúde. Tão logo ficou convalescente, solicitou sua admissão à ordem, que, no entanto, lhe foi recusada, por medo de que seu pai se enfurecesse.
Depois de ter sido libertado, foi-lhe proposto um casamento com a irmã do rei de Aragão, e seu pai prometeu que ele seria seu sucessor no trono de Nápoles. O príncipe, porém, manteve-se firme em seu propósito de deixar o mundo, desprezando a coroa e todos os bens temporais, a fim de servir a Deus e trabalhar por sua salvação. Assim, depois de muito suplicar, Luís foi autorizado por seu pai a entrar para o sacerdócio.
Pouco depois de sua ordenação, morreu o bispo de Toulouse, e o Papa Bonifácio VIII imediatamente nomeou Luís para a sé vacante. O santo empregou todos os meios ao seu alcance para se esquivar dessa dignidade, mas vendo que era inútil resistir, acabou consentindo, sob a condição de que primeiro lhe fosse permitido cumprir sua promessa e tomar o hábito dos franciscanos. Obtida a autorização, entrou no mosteiro, foi instruído nas regras da vida religiosa, realizou os três votos e foi depois sagrado bispo pelo próprio Papa.
Em sua nova posição, levou a vida de um pobre religioso, mas cumpriu seu ofício com o zelo e a sabedoria de um verdadeiro bispo. Percorreu toda a diocese e fundou instituições de caridade em muitos lugares. Sua maior alegria era visitar, confortar e socorrer os doentes. Guardava dos seus rendimentos apenas o suficiente para seu sustento de pobre religioso; o restante, Luís dava aos necessitados, dentre os quais recebia vinte e cinco todos os dias à sua mesa, fazendo questão de servi-los pessoalmente. Tinha enorme compaixão pelos pobres leprosos e abraçava-os com ternura, lavava-lhes os pés, acomodava-os à sua própria mesa e servia-os como se fosse seu criado.
Certa vez, Luís teve a felicidade de acolher o próprio Cristo, que lhe apareceu na forma de um leproso. Com sua pregação fervorosa, converteu muitos pecadores e encorajou os fiéis a servirem, com zelo, o Todo-Poderoso. Apesar de ter feito muito bem dessa maneira, ainda desejava entrar num convento e dedicar-se exclusivamente à sua própria salvação. Por essa razão, foi a Roma pedir autorização ao Papa. Tendo chegado no castelo em que nasceu, localizado em Brignoles, na Provença, ficou gravemente doente.
Na festa da Assunção da Santíssima Virgem, confessou-se, recebeu a Sagrada Comunhão e a Extrema Unção, depois da qual permaneceu absorto em fervorosa oração. Em seu leito, repetia frequentemente a Ave Maria e, quando lhe perguntavam por que o fazia, respondia: “Sempre depositei minha confiança na Santíssima Virgem, além de depositá-la em Deus, e ela me ajudará em meus últimos momentos.”
Por fim, o santo bispo entregou sua alma pura ao Criador, enquanto beijava o crucifixo. Na mesma hora, um santo irmão franciscano viu, enquanto rezava, a alma de São Luís subir ao Céu acompanhada de um grande número de anjos, e ouviu claramente as palavras: “Esta é a recompensa daqueles que servem o Todo-Poderoso com um coração puro.” Muitos milagres operados por intercessão deste santo deram ao seu nome grande notoriedade no mundo cristão, após sua partida.
Considerações práticas
I. São Luís cultivava uma modéstia singular no comportamento, mantinha um perfeito domínio do olhar e não admitia um único beijo, mesmo quando não havia perigo de pecado. Fazia tudo isso para conservar sua pureza angélica. O mesmo fizeram todos aqueles que tiveram uma vida casta e pura. Aqueles que têm uma postura livre e desregrada, que não guardam o olhar, que consideram inofensivos os beijos e outras frivolidades imodestas, que até zombam do confessor quando este lhes mostra o perigo, podem muito bem ser considerados sem pureza de coração. “Um olhar impetuoso é sinal de um coração impuro”, diz Santo Agostinho.
O mesmo se pode dizer da conduta atrevida. Se você deseja levar uma vida casta, imite São Luís e procure comportar-se com modéstia. Controle seu olhar. Não o deixe vagar com muita liberdade, pois assim você dará a si mesmo oportunidades de pecar. Não permita liberdades injustificadas. Davi e muitos outros não teriam cometido pecados tão grandes, se não tivessem concedido tais liberdades aos seus olhos. “Afasta os teus olhos da mulher enfeitada, e não olhes com insistência para a formosura alheia. Por causa da formosura da mulher pereceram muitos, e por ela se acende a concupiscência como fogo” (Eclo 9, 8-9).
II. A alma do casto Luís foi levada pelos anjos ao Céu com as palavras: “Esta é a recompensa daqueles que servem a Deus com um coração puro.” Para onde e por quem é levada a alma do impuro? Certamente não para o Céu, pois nada de impuro pode entrar no reino de Deus. Tampouco é levada pelos anjos, pois eles são espíritos puros e detestam tudo o que é impuro. Só restam os espíritos impuros, os demônios, cujo maior prazer reside na impureza. São eles que levam as almas dos infiéis para o Inferno. Mas o que os aguarda lá? Ah! Muito terão de pagar por esses prazeres efêmeros aos quais se entregaram, contrariando as leis do Todo-Poderoso.
Os impuros sofrerão as mais terríveis dores, sem cessar, sem fim. É possível que um ser humano creia nisso e depois cometa um pecado cujo castigo é tão certo? Será possível? Infelizmente, não só é possível, como é algo muito frequente. Por quê? Porque não meditamos seriamente sobre o que confessamos com nossos lábios.
Se quiser incutir em seu coração um verdadeiro horror pelo pecado da impureza, pense com frequência nas penas do Inferno, para onde esse pecado lança todos os que são viciados nele. “Lembrai-vos das terríveis penas do Inferno. O calor do fogo infernal extinguirá em vós o calor da vossa concupiscência”, diz São Bernardo.
O que achou desse conteúdo?