Há uma beleza na Santa Missa sobre a qual normalmente não se fala: nela, as categorias de espaço e tempo estão suspensas. É um sentido de mistério que muitas vezes não é devidamente realçado. Muitos dos que hoje assistem à Missa não têm consciência disso, mas é assim mesmo.

Para explicar a Missa — especialmente aos mais jovens — podemos usar o seguinte exemplo. Imagine que é possível voltar no tempo, como na ficção científica: pegar uma espécie de “máquina do tempo” e viajar pela história. Pois bem: a Missa é uma espécie de “máquina do tempo” para voltar ao passado e colocar-nos verdadeiramente, e não só com a imaginação, aos pés da Cruz de Cristo no Calvário.

Jesus é Deus que se fez homem. Nele se realizou a união de duas naturezas (humana e divina) numa única pessoa (divina). Sabemos que a dignidade das ações é determinada pela dignidade do sujeito que as realiza. Uma coisa é um homem qualquer passear em frente ao seu prédio; outra coisa é o Presidente da República fazê-lo. Neste último caso, você não só espreitaria pela janela, mas encontraria uma multidão em frente ao seu prédio. Portanto, a dignidade das ações individuais é conferida pela dignidade da pessoa que as realiza. Se o sujeito é humano, as ações terão um valor humano, ou seja, finito; se o sujeito é divino, as ações terão um valor divino, ou seja, infinito. Voltando a Jesus, devemos dizer que todas as suas ações, precisamente por serem desejadas e realizadas por uma pessoa divina, tiveram um valor infinito, ou seja, elas não se esgotam no espaço e no tempo.

Quando Jesus, na Última Ceia, instituiu o sacramento da Eucaristia, celebrou a primeira Missa e antecipou verdadeiramente, mas não de forma sangrenta, o que se realizaria no dia seguinte no Calvário. Ele pôde fazê-lo porque aquele gesto teria um valor infinito; portanto, não se esgotou nem se esgota no tempo e no espaço. Aquele gesto foi antecipado, mas teria sido possível realizá-lo perpetuamente depois.

Portanto, no altar-Calvário realiza-se verdadeiramente, mas de forma incruenta, o mesmo sacrifício que Jesus realizou na Cruz. De fato, no Calvário, a vítima era Jesus; e no altar, a vítima (hóstia) é o mesmo Jesus. No Calvário, o sacerdote era Jesus que se oferecia ao Pai eterno; no altar, o verdadeiro sacerdote é Jesus que oferece a si próprio através do padre, outro Cristo.

“Primeiros cristãos em Kiev”, pintura de Vasily Perov.

Eis, portanto, a Missa. Enquanto toda oração — por mais importante que seja — tem sempre um valor finito, porque é o homem que reza a Deus e se oferece a Ele, a Missa tem sempre um valor infinito, porque é o próprio Deus que se oferece ao Pai. Vejamos outro exemplo: tomemos uma balança, daquelas antigas, com os dois pratos clássicos. Coloquemos num prato todas as orações deste mundo e no outro uma única Missa. Ora, a balança penderia para o lado da única Missa. Muitas ações finitas formam uma realidade finita, enquanto o infinito permanece sempre infinito.

Se as pessoas compreendessem essa realidade, assistiriam à Missa com frequência. São Pio de Pietrelcina costumava dizer que, se as pessoas soubessem o que é a Missa, seria necessário chamar a polícia para controlar as multidões diante das igrejas. E acrescentava: é mais fácil o mundo existir sem o sol do que sem a Santa Missa.

Objeções como: Por que ir à Missa? Por que não posso rezar sozinho e em casa? podem surgir devido ao desconhecimento do que seja a Missa e, portanto, de seu caráter insubstituível. É possível viver plenamente a experiência cristã sem se colocar aos pés da Cruz de Cristo ao menos uma vez por semana?

Muitas vezes também ouvimos a pergunta: Como podemos rezar melhor? Como podemos obter graças com mais facilidade? Bem, o momento mais proveitoso para rezar é precisamente o momento da consagração eucarística (ou seja, o centro da Missa): pode Deus negar-nos algo no momento em que está oferecendo a vida por nós?

Dito isto, perguntemo-nos: por que parece que ninguém mais conhece essas coisas? Sem falar dos jovens, que não conhecem nada, nada mesmo! Para respondermos à pergunta, bastaria dar um único exemplo: o altar de antigamente simbolizava o Calvário; hoje, porém, é uma mesa [1]. Não há mais nada a acrescentar.

Notas

  1. Vale apontar a falsa dicotomia que muitas vezes se inventa nessa matéria. São Paulo diz, por exemplo: “Não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios” (1Cor 10, 21). O termo grego que aparece no original é trapezēs (τραπέζης). Trapeza, em grego, é isto mesmo: “mesa”. O Apóstolo reconhece, portanto, a comensalidade da Eucaristia — e quem não a vê, sabendo que Nosso Senhor instituiu este sacramento durante uma verdadeira ceia, e que nós verdadeiramente comemos de seu Corpo ao comungarmos? O problema está em ressaltar este aspecto do sacramento em detrimento de seu caráter sacrificial — que foi sobretudo o que aconteceu em meados do século XX, redundando nas grandes mudanças litúrgicas e pastorais que conhecemos, e nos tantos abusos e sacrilégios que lamentamos. Para mais detalhes a esse respeito, veja-se a aula O Calvário e a Missa, de nosso curso A Batalha dos Missais.(N.T.)

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Maria Borges
24 Jul 2025

muito bom!!!

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ÁL
Álerson Lima
18 Jul 2025

Amém!

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