Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5, 1-12)
Naquele tempo, vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los:
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim.
Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
Retomando o caminho da vida espiritual no Tempo Comum, a Igreja começa a ler novamente os evangelhos em sequência. Por isso, retomamos nas homilias semanais o evangelho de São Mateus. Começamos hoje com o belíssimo texto que inicia o Sermão da Montanha. São as bem-aventuranças.
É providencial tratar desse tema no início de junho, mês do Sagrado Coração de Jesus, exatamente na semana em que celebramos a festa do Sagrado Coração. Por quê? Porque as bem-aventuranças são uma espécie de fotografia do Coração de Jesus. Antes mesmo de ler as bem-aventuranças como dirigidas a nós ou aos santos, é importante ver nelas uma revelação da alma de Cristo. Porque é disso que se trata. É importante primeiro ter ideias claras a respeito de Cristo.
Ora, do que estamos falando quando falamos do Sagrado Coração de Jesus? Da alma de Nosso Senhor. Deus se fez homem, ou seja, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade criou para si uma humanidade, corpo e alma, à qual está tão unida, que se deve dizer que aquele homem, Jesus, é verdadeiramente uma Pessoa divina. Sim, Jesus tem uma alma igual à nossa, mas agraciada por Deus, unida à Pessoa do Verbo eterno, que nos ama. Deus quis nos amar com um Coração humano. Isso é lindo! Deus, amor infinito e eterno, quis nos amar com uma alma humana e dirigir-se a nós para que, vendo o amor de Cristo, também nós tenhamos a nossa alma transformada e configurada à dele. Olhando para o Coração de Jesus, essa alma sublime que quer tocar em nós para nos tornar semelhantes a si, o nosso próprio coração vai-se moldando ao dele.
Pois bem, o que Jesus diz de sua alma no Evangelho de hoje? Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos Céus. A carta de São Paulo aos filipenses, no capítulo 2, nos lembra que Jesus, embora fosse igual a Deus, se esvaziou e se humilhou. Por isso, é Ele o verdadeiro pobre em espírito. A alma criada deve pôr-se diante de Deus com temor e tremor, sabendo de sua pequenez e da majestade divina. Ora, quando fazemos nossa alma pequenina, pobre em espírito, Deus não resiste e derrama sobre ela os tesouros do seu Reino. Daí se vê por que Jesus recebeu de Deus a capacidade de amar infinitamente.
Por que a alma humana dele pode nos amar com o amor infinito do próprio Deus? Porque é humilde, de uma humildade que não há como medir. O Coração de Jesus é humílimo, é a maior humildade que existe, e é nela que está a sua riqueza, porque a humildade abre no Coração de Cristo como um “vazio” capaz de receber de Deus uma imensidão de graça e de amor. Eis a bem-aventurança fundamental, que contém quase em germe todas as outras. Vivendo nossa pequenez, isto é, aquilo que Santa Teresinha chamaria de pequena via, um caminho de humildade e pobreza de espírito, nós alargamos a alma para receber as graças de Deus. Olhemos, pois, para Jesus. Ele mesmo disse: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de Coração”.
A humildade é fundamental para a vida espiritual. Sem ela, todo o edifício vem abaixo. De nada adiantaria ter todas as virtudes, experimentar orações místicas e elevadas, mas não ter humildade. A falta dela arruína todo o resto, fazendo com que até as almas mais santas se tornem como demônios. De fato, os Santos Padres recordam que, se a alma fosse uma carroça carregada com todas as virtudes, mas guiada pela soberba, ela estaria a caminho do inferno; mas uma carroça cheia de vícios, guiada porém pela humildade, está a caminho do céu, porque a humildade, “com jeitinho”, faz abandonar os vícios e torna o coração semelhante ao de Cristo. Por isso, bem-aventurados são os pobres em espírito porque deles é o Reino dos Céus!
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