Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 6, 22-29)
Depois que Jesus saciara os cinco mil homens, seus discípulos o viram andando sobre o mar. No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar constatou que havia só uma barca e que Jesus não tinha subido para ela com os discípulos, mas que eles tinham partido sozinhos.
Entretanto, tinham chegado outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças. Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram à procura de Jesus, em Cafarnaum.
Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?” Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”. Então perguntaram: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que Ele enviou”.
A fé, como pensava Lutero, não se contrapõe às obras, como se uma e outras disputassem o cargo de meio único de salvação. E não se contrapõe, porque a fé é obra, e as obras são extensão da fé. É o que diz Cristo no Evangelho de hoje, ao afirmar: “Esforçai-vos” (v. 27), isto é, “Fazei a obra de Deus”, que é acreditar em quem Ele enviou (cf. v. 29). A fé, por conseguinte, não é um mero sentimento de confiança, por mais profundo que seja, mas a primeira obra que o homem deve realizar para ser salvo. Por ela, somos incorporados a Cristo, e é dela que dependem, como de sua raiz, todas as virtudes sobrenaturais que devemos exercitar por amor a Deus. A fé, em outras palavras, está para santificação como a vida e a alma estão para as potências e operações, e é para a salvação o que o princípio e a semente são para o término e a árvore. É por isso que muitos doutores lhe chamam também fundamento da vida espiritual, como se fosse a base sobre a qual se erguem, no edifício da santidade, as paredes da esperança e a cúpula da caridade, adornada com todas as outras virtudes infusas. Nem fé sem obras nem obras sem fé, mas uma única grande obra é que nos pede Jesus Cristo, obra que começa pelo ato de fé, se realiza pelos frutos da fé e se cumpre pela posse do que nos promete a fé, pois “a obra de Deus”, sem a qual não podemos nem amar nem chegar à visão de Deus, “é que acrediteis naquele que Ele enviou”.
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