A Igreja vive agora os chamados novemdiales: nove dias de luto e oração pelo Sumo Pontífice Romano falecido.
É momento de rezar pelo Papa, na convicção de que, como diz o Prefácio dos Defuntos, para os que creem em Cristo, “a vida não é tirada, mas transformada”.
Contra essa doutrina, sustentada pelos cristãos desde os primeiros séculos, os reformadores protestantes se insurgiram no século XVI, alegando uma espécie de “sono inconsciente” dos mortos. (Os adventistas e outros mais ainda hoje defendem essa tese.)
Para estes, além do repouso do corpo, há uma espécie de anulação da alma, que fica realmente dormindo, inconsciente, à espera da ressurreição dos mortos no fim dos tempos. Até lá, os finados estão “mortinhos da silva”, por completo, corpo e alma.
Não é difícil ver como disto para um materialismo prático vai uma distância muito curta.
É esta, aliás, uma das bases para negar a possibilidade de os santos intercederem por nós, ou de as almas do Purgatório se beneficiarem de nossas orações. Citando a Bíblia, eles contestam: “Os mortos não louvam ao Senhor” (Sl 115, 17); “Os mortos não sabem coisa nenhuma” (Ecle 9, 5)...
Contra esses versículos, porém, soltos e tirados de seu devido contexto, temos São Paulo, que desejava partir, morrer mesmo, para estar com Cristo (cf. Fl 1, 23); e ninguém menos que o próprio Jesus, declarando solenemente a Dimas: “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). — Hoje, disse o Mestre: não no fim dos tempos. Era naquele dia mesmo seu julgamento e sua sentença (cf. Hb 9, 27): nada de uma soneca intermediária.
Se os trechos bíblicos parecem contraditórios, se precisamos de um “tira-teima”, o jeito de resolver é bem simples: a Igreja Católica tem Magistério. Jesus não nos deixou um livro e disse: “Se virem para interpretá-lo”. Não, Ele deixou-nos os Apóstolos, deu ao príncipe deles as chaves do Reino, e tudo o que ligar ele na terra, será igualmente ligado nos céus.
Nestes dias de luto, a Igreja se detém ante o cadáver de seu pastor e reza por sua alma, mas não esmorece em sua fé: Vita mutatur, non tollitur.
Afinal de contas, nós cremos na vida eterna. E, para o Papa Francisco, ela já começou.
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