"A mensagem de Fátima, no seu núcleo fundamental, é o chamamento à conversão e à penitência, como no Evangelho. Este chamamento foi feito nos inícios do século vinte e, portanto, foi dirigido, de um modo particular a este mesmo século. [...] O apelo à penitência é um apelo maternal; e, ao mesmo tempo, é enérgico e feito com decisão." [1]
(Papa São João Paulo II)
Neste ano de 2017, a Igreja celebra o Centenário dos milagrosos eventos ocorridos em Fátima, recordando a maravilhosa aparição de nossa Mãe do Céu e a mensagem de vida que Ela nos veio trazer. Considerando o significado desse acontecimento e o que ele tem a dizer ao mundo de hoje, lembro-me de algo que a Irmã Lúcia escreveu em uma carta ao Cardeal Caffarra:
O confronto final entre o Senhor e o reino de Satanás será sobre a família e sobre o matrimônio. [...] Não tenha medo, porque qualquer um que trabalhar pela santidade do matrimônio e da família será sempre combatido e contrariado de todos os modos, porque este é o ponto decisivo. No entanto, Nossa Senhora já lhe esmagou a cabeça.
Nas minhas muitas viagens, eu experimento em primeira mão as proféticas palavras da Ir. Lúcia quanto ao Matrimônio e à família. Essas instituições sagradas estão no coração da batalha porque se referem aos fundamentos mesmos da Criação, ou seja, à verdade sobre a relação entre o homem e a mulher, feitos à imagem e semelhança de Deus. Se essas instituições divinas são comprometidas, então se põe em perigo de ruir todo o edifício.
Não devemos ver a mensagem de Fátima meramente como um momento histórico, mas antes como uma mensagem viva propositadamente para os dias de hoje. A crise moral que vemos no mundo demanda de nossa parte orações, penitências e sacrifícios. Nossa resposta à cultura perversa deste século é nossa renovação espiritual e conversão contínuas. Estamos sendo chamados à santidade.
Pelo exemplo dos videntes Francisco, Jacinta e Lúcia, nós somos impelidos a oferecer atos de mortificação com virtude heroica. Do alto de suas inocências, as duas crianças mais jovens, Francisco e Jacinta, ofereceram-se como vítimas de expiação. A Ir. Lúcia, por sua vez, avisada de que teria pela frente uma longa vida, gastaria o resto de seus dias no serviço da oração e da mortificação pela salvação das almas. Tendo perguntado a Nossa Senhora, de fato, se ela os levaria para o Céu, a resposta recebida foi esta:
A Jacinta e o Francisco levo-os em breve, mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no Mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação, e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o Seu trono.
— Fico cá sozinha? — disse, com tristeza [Lúcia].
— Não, filha. Eu nunca te deixarei. O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus. [2]
O apelo de Nossa Senhora para rezar e fazer penitência, ao qual as crianças responderam com alegria e completa obediência, também se aplica a nós. A luta pela santidade, através da mortificação dos nossos sentidos, torna-nos fervorosos na oração; dá-nos força interior para resistir às tentações; ajuda a nos desapegarmos de preocupações mundanas; e liberta o nosso coração, por fim, de vaidades terrenas. A busca da santidade aumenta a clareza de pensamento, fazendo-nos mais sensíveis ao discernimento do que é sagrado e do que é abominável aos olhos de Deus.
O inimigo também conhece o significado do Matrimônio e da família, e é por isso que os ataca — assim como atacou Adão e Eva, nossos primeiros pais. O Matrimônio é a única instituição que une os pais aos seus filhos, que reconhece o direito natural de uma criança a ter um pai e uma mãe. A família é a primeira célula da sociedade, a "Igreja doméstica", o primeiro governo, a primeira escola, o primeiro hospital, a primeira economia e a primeira instituição mediadora da sociedade. Dentro dessa escola primária, os filhos aprendem os valores da moral e do Evangelho, os quais dão forma, em última instância, às nossas culturas e sociedades. Toda a sociedade passa, afinal de contas, pela família, que é a primeira de todas as escolas.
É certo que defender a verdade sobre a vida, o Matrimônio e a família é uma tarefa custosa. As crianças de Fátima, por exemplo, sofreram bastante por causa das aparições. Familiares e amigos perseguiram-nas. Os jornais conduziram uma campanha implacável para desacreditar tanto as aparições quanto os videntes. Mesmo assim, apesar de todo o tratamento negativo, os três suportaram tudo com paciência e caridade, lembrando sempre do pedido de Nossa Senhora para que oferecessem os seus sacrifícios em favor dos pobres pecadores.
Ao entrarmos no bom combate sobre o Matrimônio e a família, entramos cientes de que também nós seremos cercados pelo ódio e pela rejeição. "Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro odiou a mim", lembra-nos Nosso Senhor. "Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como ama o que é seu; mas, porque não sois do mundo, e porque eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos odeia." (Jo 15, 18-19) Estamos diante de duas visões opostas: uma enraizada no caminho da obediência e da vida, e outra no da desobediência e da morte.
Sabemos também que os ataques contra o plano divino para o Matrimônio e a família não vêm só de fora da Igreja, mas também de dentro — nascidos dos pecados a que dão origem a desobediência, a divisão e a heresia. É por isso que a Igreja, povo de Deus, precisa da mensagem de Fátima como uma lembrança constante do chamado universal à penitência, à conversão e à renovação. Somente neste espírito, renovação de coração e de alma, poderemos ser o fermento na massa de que fala o Evangelho (cf. Lc 13, 18-21). "No amor não há temor. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor" (1Jo 4, 18). Nós obtemos forças e conforto de Nossa Senhora de Fátima, que lembrou à Ir. Lúcia que ela não estaria sozinha nessa grande batalha — no seu Imaculado Coração nós encontramos refúgio.
Ainda temos muito a aprender com Nossa Senhora de Fátima. A sua mensagem é um sinal de esperança para um mundo destruído pelo confronto e pela discórdia. E nossa resposta aos ataques desferidos contra o Matrimônio, a família e a sociedade é a mesma hoje como 100 anos atrás: arrepender-nos de nossos pecados e obedecer à vontade de Deus.
Nossa Senhora de Fátima,
rogai por nós!
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