São Bavão nasceu nas fronteiras de Brabante. Seu pai era conde; sua mãe, de linhagem real; e ambos eram muito piedosos. Bavão foi conduzido por eles no caminho que leva ao Céu. Ao chegar à idade adulta, uniu-se, com o consentimento dos pais, a Ageltrude, filha do conde Adilião, que era senhor de uma parte de Brabante. Por vários anos, Bavão viveu com sua esposa no amor e na união cristã, e, quando ela lhe foi tirada pela morte, ele ficou profundamente triste e passou a compreender mais do que nunca a vaidade de tudo o que é temporal e a inconstância de toda a felicidade terrena

Daí nasceu a sua resolução de buscar, no futuro, apenas a felicidade eterna. Ouvindo dizer que o santo bispo Amando pregava a Palavra de Deus com grande sucesso em Gand, que, naquela época, ainda se encontrava na cegueira do paganismo, ele foi até lá a fim de ouvir o homem apostólico e pedir-lhe conselhos. Depois de ouvir várias pregações do bispo, seu coração ficou tão comovido que, em vez de deixar o santo, ele passou a acompanhá-lo por todos os lugares. 

“São Bavão é acolhido por Santo Amando”, de Peter Paul Rubens.

Por fim, manifestou o desejo de entrar para a vida religiosa e oferecer seus serviços à igreja de Gand. Depois de se convencer das capacidades e virtudes de Bavão, o bispo ordenou-o sacerdote. Então, Bavão vendeu a maior parte de sua propriedade, usou o dinheiro arrecadado para socorrer os pobres e construir uma igreja, e decidiu servir a Deus, a partir daquele momento, em pobreza voluntária. Mortificava seu corpo com vigílias, jejuns e outras penitências, a ponto de ser necessário moderar o próprio fervor. Dedicava à oração e à meditação todo o tempo de que podia dispor.

Algum tempo depois, mudou-se para uma densa floresta, onde se instalou num grande carvalho oco e levou uma vida de extraordinária santidade. Ao tomarem conhecimento deste fato, muitas pessoas dos arredores iam visitá-lo, mas ele, relutante em chamar tanto a atenção, deixou sua pequena residência, que lhe era tão agradável, e procurou em outro bosque, a três quilômetros de Gand, uma moradia mais tranquila. 

Quanto mais se esforçava por ocultar-se, mais seu piedoso modo de viver ficava conhecido nas aldeias vizinhas, e o grande número de pessoas que o procuravam, levando-lhe comida ou pedindo-lhe conselhos, fê-lo deixar novamente o seu refúgio. Retornou a Santo Amando, em Gand, e foi ordenado por ele diácono da Igreja de São Pedro, à qual estava ligado um mosteiro, cheio de monges fervorosos, que viviam sob a regra de São Bento. 

Escultura de São Bavão, na igreja a ele dedicada em Rijsbergen, na Holanda.

Numa parte isolada desse mosteiro, foi preparado um pequeno quarto, onde São Bavão passou o resto de sua vida sob a direção do primeiro abade do lugar. Quando o aconselhavam a abrandar um pouco a excessiva severidade que tinha consigo, respondia: “Toda a severidade, todo o sofrimento, são como nada quando comparados com a glória que nos espera no Céu.” Jamais demonstrou o menor aborrecimento nas cruzes ou provações, porque se julgava merecedor de ainda mais por seus pecados passados. Nunca se queixava quando tinha de sofrer inocentemente, mas agradecia a Deus por castigá-lo neste mundo. 

Enquanto isso, seu corpo foi ficando cada vez mais macilento e esgotado pelas muitas e austeras penitências, o que o levou ao desejo de livrar-se desta vida temporal e unir-se ao seu Deus. Seu desejo foi atendido, e o Céu enviou-lhe uma grave doença, da qual, depois de ter recebido os últimos sacramentos, morreu calma e pacificamente, na presença de Santo Amando. Seu santo corpo foi sepultado com grande solenidade na Igreja de São Pedro, atualmente chamada de São Bavão. Os numerosos milagres que ocorreram em seu santuário tornaram-no, após a morte, ainda mais famoso que quando vivia na terra. 

Considerações práticas 

São Bavão não reclamava com ninguém quando sofria inocentemente. Acreditava que, por causa de seus pecados, merecia sofrer ainda mais. Nas provações, animava-se com o pensamento da grande glória que tinha motivos para esperar no Céu. As mesmas lições encontramos na vida de muitos santos. 

São Bavão, em retrato de Geertgen tot Sint Jans.

E você, como se comporta em seus sofrimentos? Imediatamente, conta o que tem de suportar a todos com quem convive. Todas essas pessoas precisam saber, de qualquer forma, o que lhe aconteceu, e como você foi injustamente oprimido e perseguido. Mas, diga-me, como isso o beneficia? De modo algum. Ao contrário, isso o prejudica, pois assim você perde o mérito que poderia tirar de seus sofrimentos e talvez até ofenda o Todo-Poderoso. 

Se você se preocupa com seu próprio bem, suporte os sofrimentos em silêncio e não se queixe a ninguém a partir de agora, exceto, talvez, àqueles que puderem ajudá-lo com palavras ou ações. Confie tudo a Deus e deixe tudo nas mãos dele. Na hora da provação e da tribulação, pense nos pecados que cometeu, pelos quais merece um sofrimento muito maior; pense também na glória que o espera no Céu, se suportar pacientemente a sua cruz. 

São Gregório Magno diz: “Quando pensamos nos pecados que cometemos, podemos suportar com paciência todo o mal que nos é feito, porque sabemos que merecemos muito mais.” E ainda: “Se os eleitos usarem a imaginação para contemplar a glória eterna, perceberão quão insignificante é o nosso sofrimento aqui embaixo, quando comparado com a recompensa sem fim. O mais insuportável dos sofrimentos é atenuado pela contemplação da recompensa que virá depois dele.”

Referências

  • Extraído, traduzido e adaptado passim de: Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 417ss.

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