Que estranha a atitude que temos para com as crianças hoje em dia! Impomos restrições à liberdade delas quando o assunto são jogos, alimentação e a desordem da vida escolar. Não deixamos que saiam de casa, com medo de que sejam sequestradas ou encontrem alguma planta à qual estamos convencidos de que elas sejam alérgicas. As escolas proíbem a seus paladares o prazer de um doce açucarado ou a alegria do sal em suas batatas fritas. Monitoramos como uns loucos suas interações com outras crianças, com medo de que uma delas diga uma palavra feia ou comece uma briga inofensiva de socos.

No entanto, quando se trata de escolherem o próprio “gênero”, de remodelarem por inteiro a sua identidade, nós dizemos: “Fiquem à vontade”.

Esta sociedade que não confia nos filhos para darem uma volta de bicicleta no parque confia neles, no entanto, para decidirem a que sexo vão pertencer; para insistirem que a natureza cometeu um erro para com eles; para afirmarem que o médico que disse que eles eram um menino ou uma menina estava errado.

Que as crianças estejam mais mimadas do que nunca e, no entanto, sejam encarregadas de derrubar séculos de razão em matéria de sexo, deveria fazer-nos desconfiar da tendência para discutir assuntos de gênero nas escolas. Esta campanha se identifica como uma campanha libertadora, destinada a dar às crianças a possibilidade de se encontrarem com seu verdadeiro “eu”. Mas seria mais fácil dar crédito a esse discurso se os mesmos “especialistas” que aplaudem quando o pequeno João se transforma em Maria não fossem também o tipo de pessoas interessado em proibir tanto o João quanto a Maria de jogarem bola na rua ou comerem um pedaço de bolo.

Fotografia da exposição “You Are You”, tirada em um acampamento de verão para crianças “gender-nonconforming”.

Não, o incentivo da confusão de gênero em crianças com idade escolar não tem nada a ver com liberdade; tem tudo a ver, isso sim, com relativismo. Diz respeito não a algum instinto entre os jovens de se livrarem dos supostos grilhões das definições de sexo, mas sim ao fato de os adultos terem abdicado de suas responsabilidades com relação à identidade e ao futuro de seus filhos; diz respeito, isso sim, a uma profunda perda de foco no mundo dos adultos, especialmente na educação, ao ponto de muitos agora acharem difícil dizer: “Não, José, você não pode entrar no banheiro das meninas.”

Crianças precisam de limites. É assim que elas aprendem. Esses limites podem ser físicos: “Não vá para o meio da rua”; morais: “Esta palavra é feia”; ou, muito frequentemente, biológicos: “Homem não chora”, “Seja uma boa menina”, “Quem é a princesa do papai?”

A distinção sexual é central para a compreensão de mundo das crianças e para o modo como elas entendem a si mesmas e aos outros. Nós sabemos disso. Sabemos que mães dão carinho e pais dão castigos. Que meninos formam gangues e meninas formam “panelinhas”.

Qualquer um que já tenha deparado com uma criança de três anos de idade percebe que, embora elas não conheçam muita coisa, de uma coisa, no entanto, elas sabem: existem dois sexos e eles desempenham papéis diferentes. (Nem sempre, evidentemente. Há exceções. Algumas mães podem dar medo e alguns pais podem ser mais flexíveis.)

É incrivelmente irresponsável por parte das escolas — agora com uma aprovação da Igreja Anglicana — tentar apagar a estrutura por meio da qual as crianças vêm a conhecer o mundo à sua volta: mamãe e papai, masculino e feminino, diferenças. É como tomar um mapa de pessoas perdidas em uma imensa selva. Trata-se de algo cruel. Crueldade nascida de um relativismo que não dirá sequer: “Este é um homem e esta é uma mulher”, quanto mais será capaz de sustentar verdades maiores do que estas e mais elevadas.

As igrejas, bem como as escolas confessionais, devem estar na linha de frente para resistir à pressão de inundar as escolas com “fluidez de gênero”. Porque, se uma escola não pode dizer: “Você é um menino” ou “Você é uma menina”, então ela não pode fazer, em absoluto, nenhum julgamento moral.

O culto da fluidez de gênero é uma ameaça ao ensino da verdade, ao oferecimento de cuidado pastoral conforme as necessidades específicas das crianças e à responsabilidade dos adultos de ajudarem os mais jovens a compreender o mundo. Ou seja, é uma ameaça a todas as coisas que deveriam constituir a missão de toda boa escola.

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