Tahira, de 21 anos, e Reema Bibi, de 20, são duas mulheres cristãs paquistanesas que, em 2 de dezembro de 2015, foram abduzidas em uma região próxima de suas casas, em Sargodha, 250 quilômetros ao sul da capital Islamabad. Elas foram capturadas enquanto retornavam juntas do trabalho. Os dois sequestradores — Muhammad Mustafa, de 29, e Muhammad Kashif, de 30 — estupraram as jovens e forçaram as duas a se casarem com eles. Depois, foram mantidas em cativeiro em algum lugar da cidade de Islamabad.

A notícia é trazida pela Associação Cristã Anglo-Paquistanesa, um grupo que milita ativamente pela liberdade religiosa no Paquistão, monitorando as contínuas violações que acontecem aos direitos das minorias (especialmente as mulheres), sem que ninguém seja punido por nada. Casamentos forçados têm sido há anos um flagelo para essa nação muçulmana — e o problema está muito longe de ser devidamente resolvido.

O caso de Tahira e Reema é emblemático. Em 11 de fevereiro, Tahira conseguiu escapar da mão de seus sequestradores, mas o seu "marido" muçulmano preencheu um boletim de ocorrência junto à polícia, que imediatamente prendeu seis membros de sua família. Os parentes foram liberados graças à pressão de grupos de direitos humanos, mas as autoridades ordenaram à família que devolvesse Tahira ao seu "marido".

Um caso similar foi reportado alguns dias atrás pela mesma associação cristã. Fouzia Sadiq, de 30 anos, foi capturada e forçada a casar com o muçulmano dono da casa em que ela trabalhava como faxineira. Depois que conseguiu escapar, graças a uma colega, a polícia ordenou à família que entregasse a filha às autoridades, sob pena de que um de seus familiares fosse preso.

De acordo com uma pesquisa conduzida pelo Movimento pela Solidariedade e Paz (MSP-PK), todos os anos, pelo menos mil mulheres e jovens paquistanesas são forçadas ao casamento muçulmano e obrigadas a se converterem ao Islã. O número real, contudo, é certamente muito maior, já que muitos incidentes não são noticiados.

A pesquisa também descobriu que casamentos forçados geralmente seguem um padrão: as vítimas são mulheres entre 12 e 25 anos. Mesmo quando um caso vai à Justiça, as vítimas são ameaçadas e pressionadas por seus "maridos" e famílias a declarar que a sua conversão foi voluntária. As mulheres são geralmente violadas e forçadas a uma vida de prostituição, sofrem violência doméstica ou acabam terminando no mercado de tráfico humano. As que tentam se rebelar contra a situação são avisadas de que "agora são muçulmanas e que a punição por apostasia é a morte".

O presidente da Associação Cristã Anglo-Paquistanesa, Wilson Chowdhry, considera "apavorante" a frequência com que esses crimes vêm acontecendo em seu país. "Nossas jovens mulheres estão sendo oprimidas em relacionamentos brutais e degradantes para satisfazer aos prazeres de homens com mentes sórdidas e corrompidas", ele diz. "Esse crime debilitante só aumenta enquanto as autoridades paquistanesas intencionalmente fecham os olhos e asseguram a impunidade."

O tema dos casamentos forçados, na verdade, é apenas um dos vários assuntos que as minorias étnicas e religiosas do país têm que enfrentar, muitas vezes sem a representação política adequada para atender às suas demandas mais básicas.

Para Wilson Chowdhry, o problema no Paquistão é mais profundo e diz respeito às próprias raízes religiosas do país. Mais de 95% da população local é muçulmana, com a orientação de boa parte sendo o salafismo sunita radical. "Além disso, imãs no Paquistão ensinam que a conversão forçada acarreta bênçãos, criando uma falsa justificação moral para os criminosos muçulmanos", ele diz.

Também ajudam a ilustrar o extremismo no país as dezenas de milhares de muçulmanos que lotaram as ruas de Islamabad para prestigiar o funeral de Mumtaz Qadri, o atirador que assassinou, em 2011, o político Salman Taseer, governador paquistanês que pedia o fim da pena de morte por blasfêmia no país. Taseer se tornou alvo dos fundamentalistas islâmicos por defender Asia Bibi, a camponesa condenada à pena capital em 2010 pelo simples fato de ser cristã.

Depois de buscar água em um poço comum e ser constrangida por mulheres muçulmanas a mudar de religião, Asia Bibi teria respondido: "Cristo morreu na cruz pelos pecados da humanidade. O que Maomé fez por vocês?" Frases como essas são punidas com a morte pela lei islâmica — e tal legislação tem o respaldo popular no Paquistão. Enquanto jogavam flores sobre o caixão de Qadri, a multidão gritava palavras de ordem assustadoras, para dizer o mínimo: "Qadri, seu sangue trará a revolução" e "A punição para um blasfemador é a decapitação".

"Os cristãos enfrentarão um longo período de incerteza enquanto o país fica de luto pela perda de um assassino", escreve Wilson Chowdhry. "A verdade que emerge desse apoio criminoso a um assassino conhecido é que o ódio às minorias está arraigado na sociedade paquistanesa. Advogados de um extremo ao outro do país mantiveram dois dias de luta em simpatia por Mumtaz Qadri, o que ilustra claramente que muitos na elite mantêm posições fundamentalistas", conclui.

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