"Ao longo da última década, a Islândia praticamente eliminou novos casos de síndrome de Down": é a chamada de uma reportagem da rede CBS, dos Estados Unidos. O modo como isso foi feito, no entanto, é assustador: as crianças diagnosticadas com a deficiência são simplesmente… mortas antes de nascer.

Foi no começo dos anos 2000 que o teste pré-natal para identificar a síndrome de Down começou a ser realizado na ilha nórdica. Desde então, o exame tornou-se uma rotina na vida das gestantes islandesas e, como a prática do aborto é livre no país, quase 100% das crianças diagnosticadas previamente com Down não sobrevivem por escolha de suas mães [1].

"Sim, é claro", algumas mulheres se sentem culpadas por abortar seus filhos deficientes, uma conselheira de abortos explica à repórter da CBS. Ela também mostra um cartão, com uma oração e a impressão do pezinho de um bebê, que os pais podem guardar como lembrança do filho abortado. De qualquer modo, ela continua:

Nós não olhamos para o aborto como assassinato. Olhamos para ele como uma "coisa" a que nós damos fim. Nós damos fim a uma "vida possível" que poderia ter grandes complicações. Trata-se de prevenir sofrimento para a criança e também para a família. Assim é melhor. Ver isso como um assassinato é muito "preto e branco", a vida não é "preto e branco". A vida é "cinza". [...] A mídia vende a imagem de uma criança bonitinha de três anos, mas você precisa olhar para a síndrome de Down como um espectro. Você tem essa bonitinha com síndrome de Down… mas também há pessoas com a síndrome e mais um monte de outras complicações.

Na reportagem da CBS, algumas pessoas manifestam sua preocupação com uma sociedade que simplesmente "seleciona e descarta" seres humanos, só porque possuem esta ou aquela doença genética. Nesta matéria, é claro, a Islândia não está sozinha. A pequena ilha do Atlântico Norte, juntamente com outros países da Europa, são campeões em "direitos reprodutivos" — um jeito delicado e politicamente correto de dizer que eles são especialistas em matar os próprios filhos.

Um fator que influencia essa tomada de decisões, como a reportagem também aponta, é a alta secularização em que vivem países como a Islândia. Assim, enquanto em alguns lugares onde o aborto é liberado a religião ainda exerce certa influência na vida das pessoas, impedindo-as de realizar a prática, na Islândia até mesmo os cristãos se renderam ao espírito dos tempos: a Igreja Evangélica Luterana é a religião oficial do país e dá todo o suporte a quem quer que procure fazer um aborto.

O fator "secularização" é importante porque, para citar uma frase conhecida de Dostoiévski, "se Deus não existe, tudo é permitido". Não nos esqueçamos que o biólogo e escritor Richard Dawkins, famoso por suas apologias apaixonadas do novo ateísmo, já chegou a defender abertamente no Twitter o aborto de crianças com síndrome de Down. "Aborte-a e tente novamente", ele respondeu certa vez a uma internauta em dúvida sobre o que faria caso tivesse uma criança com a síndrome. "Imoral" seria, na verdade, "trazê-la ao mundo, se você pode escolher não fazê-lo".

A nós, cristãos, que ainda não alcançamos esse patamar "elevado" de moralidade de que desfrutam os "avançados" países nórdicos, a nós que ainda não estamos "para além do bem e do mal", só nos resta repetir o óbvio: tentar erradicar uma deficiência ou um defeito físico simplesmente exterminando quem os possui é uma loucura completa. Os eugenistas do século XX ficariam tremendamente orgulhosos.

Notas

  1. É a informação colhida diretamente da reportagem da CBS. No original: "The vast majority of women -- close to 100 percent -- who received a positive test for Down syndrome terminated their pregnancy." Algumas correções foram feitas na matéria hoje, dia 17 de agosto, a fim de eliminar informações imprecisas, fornecidas pela própria reportagem norte-americana. Também a expressão "erradicou", que constava no título, foi alterada para outra, mais branda -- "está erradicando" --, a fim de não passar de imediato uma impressão errada -- que se desfaz, de qualquer modo, com a simples leitura da matéria --, a saber, de que não existiriam mais crianças com Down vivendo na Islândia. O site El País já havia apresentado, em abril deste ano, um contra-argumento à ideia de que a Islândia estivesse exterminando crianças com síndrome de Down. A verdade, porém, nua e crua, é que eles estão, sim. O debate com relação aos números é importante, sem dúvida, mas preferimos deixá-lo para os especialistas na matéria.

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