O relato a seguir foi publicado pelo jornalista Sandro Magister em 2004. Trata-se do testemunho de um sacerdote idoso da Igreja Greco-Católica da Romênia, que passou 16 anos nas prisões comunistas. Seu nome é Tertulian Ioan Langa, e sua história veio a lume no Vaticano, durante a apresentação do livro Faith and Martyrdom: The Eastern Catholic Churches in Twentieth Century Europe [“Fé e Martírio: As Igrejas Católicas Orientais na Europa do Século XX”, sem tradução portuguesa].
Segundo Magister, o testemunho “é ao mesmo tempo espiritual e muito concreto — parte Soljenítsin, parte martirológio antigo. Desdobra-se entre o mistério da iniquidade — levado até os limites da imaginação — e o mistério da graça, com a ‘divina Providência’ que trabalha pelas mãos inconscientes dos carcereiros”. Para nós, é também uma prova da crueldade do regime socialista, que se repete onde quer que ele seja implantado.
Leiam e reflitam se este não é um mal que precisamos evitar a qualquer custo.
“Mas o céu acima de nós é maior”
por Tertulian Ioan Langa
Meu nome é Tertulian Langa, e 82 são os anos de minha vida que não tornarei a ver. Destes, 16 foram concedidos às prisões comunistas.
Aos 24 anos, em 1946, eu era um jovem professor assistente na faculdade de filosofia da Universidade de Bucareste. As tropas russas tinham ocupado quase um terço da Romênia e, como era membro da faculdade, fui intimado a me inscrever com urgência no sindicato manipulado pelo Partido Comunista, colocado no poder pelos blindados soviéticos.
Desde então eu conhecia a posição firme do Magistério da Igreja Católica contra o comunismo, definido por ela como intrinsecamente mau. Portanto, não havia lugar em minha consciência para concessões. Renunciei à carreira universitária e refugiei-me no campo como trabalhador agrícola; mas isso não foi suficiente, pois eu era conhecido, já na faculdade, como católico militante e anticomunista. Um dossiê acusatório foi rapidamente improvisado contra mim; e como as acusações se fundavam em fatos ainda não criminalizados pelo Código Penal (relações com bispos e com a nunciatura, apostolado leigo), meu dossiê foi juntado ao dos grandes industriais. Após interrogatórios acompanhados de um tratamento atroz, o procurador declarou com perfeita lógica comunista: “No dossiê do acusado não consta nenhuma prova de sua culpa, mas pedimos ainda assim a pena máxima: 15 anos de trabalhos forçados. Afinal de contas, se ele não fosse culpado, não estaria aqui”. Protestei: “Mas não é possível que vocês me condenem sem que haja nenhuma prova!” E ele: “Não é possível? Eis como é possível: 20 anos de trabalhos forçados por ter protestado contra a justiça do povo”. E esta foi a sentença.
Isso aconteceu antes de a Igreja Greco-Católica da Romênia ser proibida pela lei. Eles tinham como certo que minha prisão e as torturas a mim aplicadas conseguiriam me transformar num instrumento para a futura incriminação de bispos e padres da Igreja Greco-Católica e da nunciatura.
Narrarei apenas alguns dos momentos de meu interrogatório e de minha prisão nos campos de extermínio comunistas.
Fui preso em Blaj, no gabinete do bispo Ioan Suciu, administrador apostólico da sé metropolitana greco-católica da Romênia e futuro mártir. Eu tinha me apresentado a ele, a cabeça de nossa Igreja, para pedir a iluminação da divina Providência, porque meu pai espiritual, o bispo Vladimir Ghika, outro futuro mártir, estava escondido na época. Alguém tinha me oferecido a possibilidade de deixar o país. Como este era um passo importante, não queria tomar a decisão sem determinar se era a vontade de Deus. E a resposta veio: minha prisão. Compreendi que teria de passar a minha vida nas prisões criadas pelo regime comunista, mas permaneci sereno: eu estava seguindo o caminho da divina Providência.
O bastão de ferro
Lembro-me da Quinta-feira Santa de 1948. Por duas semanas, todos os dias, eles me batiam com um ferro na sola dos pés, através dos meus sapatos: era como se um raio percorresse minha coluna vertebral e explodisse no meu cérebro, mas eles não me faziam perguntas. Estavam me preparando com o ferro para me tornar mais macio para o interrogatório. Minhas mãos e meus pés estavam atados, eu estava pendurado de cabeça para baixo e meus carcereiros enfiaram na minha boca uma meia que já havia sido usada muitas vezes nos sapatos e nas bocas de outros beneficiários do humanismo socialista. A meia tinha se tornado o redutor de ruído que impedia o som de passar para além do local de interrogatório. Por outro lado, era praticamente impossível emitir um único gemido. Além disso, eu estava bloqueado psicologicamente: já não era capaz de gritar nem de me mexer. Meus torturadores interpretavam esse comportamento como fanatismo da minha parte. E continuavam cada vez mais implacáveis, revezando-se na tortura. Noite após noite, dia após dia. Eles não me perguntavam nada, porque estavam interessados não em respostas, mas no aniquilamento da pessoa, algo que demorava a acontecer. E como o esforço para aniquilar minha vontade e ofuscar minha mente foi prolongado, também a tortura foi indefinidamente prolongada. Os sapatos surrados caíram dos meus pés, pedaço a pedaço.
Naquela noite de Quinta-feira Santa, numa igreja próxima, o ofício litúrgico foi celebrado, acompanhado como que por um pranto de sinos assustados. Estremeci. Jesus deve ter ouvido meu grito sufocado quando (não sei como) eu uivava de dentro daquele inferno: “Jesus! Jesus!” O som do meu grito, que foi capaz de passar pela meia, era incompreensível para os carcereiros. Como era o primeiro som que ouviam de mim, eles disseram que estavam satisfeitos, seguros de terem acabado comigo. Usaram um cobertor para me arrastar até a cela, onde desmaiei. Quando acordei, o inquisidor estava diante de mim com uma resma de papel na mão. “Você tem sido obstinado, bandido, mas só sairá daqui depois de pôr para fora tudo o que estiver escondendo. Aqui tem quinhentas folhas de papel. Escreva sobre todos os detalhes de sua vida: tudo sobre sua mãe, seu pai, suas irmãs, irmãos, sogros, parentes, amigos, conhecidos, bispos, padres, religiosos, políticos, professores, vizinhos e bandidos como você. Só pare quando tiver terminado o relatório”. Mas eu não escrevi nada. Não por uma espécie de fanatismo, mas porque não tinha a força necessária: até minha mente parecia vazia.
A loba
Após quatro dias, o mesmo indivíduo: “Já terminou de escrever?” Vendo que os papéis não tinham sido tocados, ele disse: “Se é assim, tire a roupa! Quero ver você como Adão no paraíso”. Assim eu passei vários dias, dias de pele nua sobre o chão, um conforto típico do humanismo socialista. Outro indivíduo apareceu à porta depois de um tempo: “Vamos ver, o que temos no papel? Nada? Ainda teimoso! Você vai ver que temos outros métodos”. Então ele saiu. E retornou com um enorme cão-lobo, com suas presas ameaçadoras à mostra. “Está vendo ela? É Diana, a cadela heroína que foi baleada por seus bandidos na montanha. Ela ensinará a você o que fazer. Comece a correr!” E eu: “Como assim, correr? Em uma sala de três metros?” Na sala havia também uma lâmpada de 300 watts, brilhante demais para uma sala de três por dois metros, e fixada não no teto, mas na parede, ao nível dos olhos. “Corra!” A loba, rosnando, estava pronta para atacar. Corri por seis ou sete horas, mas só percebi isso perto do amanhecer, ao ver a luz entrando na cela e ao ouvir o movimento no prédio. Às vezes, o homem deixava a loba sair para fazer suas necessidades. A mim, isso não era permitido. Quando comecei a perder o equilíbrio e a parar, a loba vigilante, como que por comando, afundou os dentes em meu ombro, na nuca e em meu braço.
Eu havia corrido sob a mira de seus olhos e presas durante 39 horas, sem interrupção. No final, desmaiei, e a loba saltou sobre mim. Ela mordeu meu pescoço, mas sem me estrangular. Então senti algo quente e cortante na minha testa e nos meus olhos, e entendi que o animal estava urinando no meu rosto. E foi pelas palavras dos meus carrascos que compreendi que tinha corrido por 39 horas. “Podíamos enviar esse para a maratona do Rio! Que resistência a do porco fascista!” Mas quando perceberam que nem a maratona tinha conseguido me convencer a fazer uma declaração sobre os bispos e a nunciatura, ou sobre algum amigo que procuravam, eles pensaram que seria útil passar para outra forma de persuasão: o saco de areia.
O saco de areia
No dia seguinte, num escritório, amarraram minhas mãos e meus pés, e me puseram diante de uma mesa sobre a qual havia um pequeno saco. Atrás de mim estava um carcereiro, pálido e mudo. Sentado a uma mesa num canto, estava um homem careca com uma barbicha, claramente tentando se parecer com Lênin. Também estava mudo, mas fez um sinal com a cabeça. Meu algoz compreendeu a ordem. Pegou o saco e golpeou minha cabeça ritmicamente; a cada pancada seguia-se a palavra: “Fale!” Dezenas de vezes, centenas de vezes, não sei, talvez milhares: “Fale!” Mas ninguém me perguntava nada. Só aquela voz cavernosa, monótona, martelava em meu cérebro a ordem para que eu falasse, respondesse a qualquer pergunta apresentada pelo inquisidor à minha consciência. Não foi difícil para mim decifrar a ideia satânica de que queriam dominar a minha vontade. Depois de aproximadamente vinte golpes, comecei a aplicar o princípio moral age contra (“faça o contrário”), dizendo a mim mesmo a cada golpe: “Não falo!” Dezenas de vezes, centenas de vezes. Por meio da autossugestão, inculquei em mim a resposta: “Não falo!”, com o risco de me tornar escravo dessa forma única de me expressar. E foi o que aconteceu: a partir daquele momento, passei a responder automaticamente: “Não falo” a qualquer pergunta que me fosse feita, sobre qualquer assunto. Levei um ano inteiro de esforço mental para me livrar desse reflexo sinistro.
Vinte e oito centímetros
Por ser alguém desprovido de valor e interesse para os interrogadores, fui transferido para a prisão localizada a oito metros abaixo do terreno pantanoso de Jilava, construída para a defesa da capital, mas que se tornou inutilizável devido à grande infiltração de água. Nada sobrevivia lá exceto o homem, maior tesouro do materialismo histórico. Nas celas de Jilava, os pobres homens eram embalados como sardinhas — não em óleo, mas em seus próprios líquidos, uma mistura de suor, urina e a água que se infiltrava e gotejava incessantemente pelas paredes. O espaço era explorado da forma mais científica possível: uma área de dois metros de comprimento por 28 centímetros de largura para cada pessoa, desde que deitada de lado no chão. Alguns, os mais velhos, se deitavam sobre mesas de madeira, sem lençóis nem cobertores. Seus fêmures, a parte externa dos joelhos e dos tornozelos jaziam ao longo da madeira. Deitávamos sobre as extremidades dos nossos ossos, a fim de ocupar o menor espaço possível. Nossas mãos só podiam repousar sobre o quadril ou o ombro de um vizinho. Não conseguíamos suportar isso por mais de meia hora; assim, a um comando, todos se viravam para o outro lado, porque era impossível fazer isso individualmente. A pilha de corpos disposta dessa forma tinha dois níveis, como nos beliches. Mas abaixo desses havia um terceiro nível, onde os detentos se deitavam sobre o cimento descoberto. No cimento, o vapor condensado da respiração de setenta homens, juntamente com a água que entrava e a urina que saía da latrina, formava uma mistura viscosa na qual os infelizes se molhavam. No centro da cela-túmulo estava instalado um recipiente metálico, com cerca de setenta a oitenta litros de capacidade, para a urina e as fezes de setenta homens. Não tinha tampa, e o cheiro e o líquido saíam dele abundantemente. Para chegar ao local, era necessário passar pelo “filtro”, um controle rigoroso aplicado à pele nua, uma inspeção na qual todo o corpo e todos os seus orifícios eram examinados.
O “filtro”
Com um bastão de madeira, eles raspavam a área debaixo das nossas línguas e gengivas, na boca, a fim de verificar se nós, os criminosos, tínhamos ali alguma coisa escondida. O mesmo bastão penetrava nossas narinas e orelhas, o ânus e debaixo dos testículos; era sempre o mesmo bastão, rigorosamente o mesmo para todos, como sinal de igualitarismo. As janelas de Jilava foram feitas não para permitir a passagem da luz, mas para obstruí-la, pois todas elas foram completamente seladas por tábuas de madeira presas com pregos. A falta de ar era tal que, para respirar, íamos até a porta por turnos, três de cada vez, de bruços, com a boca contra a abertura por baixo da porta, posição em que contávamos sessenta respirações. Em seguida, os outros reclusos se aproximavam para se recuperar dos desmaios e da falta de oxigênio.
Desta forma, contribuímos à nossa maneira para a construção do sistema mais humano do mundo. Será que Churchill e Roosevelt sabiam essas coisas quando, com uma canetada, na mesa da vergonha em Teerã, estabeleceram que nós, romenos, devíamos ser moídos pelas mandíbulas do Moloc vermelho do Oriente, e ser usados como cordão de segurança para a conveniência deles? E a Santa Sé, podia ter imaginado algo a esse respeito?
Despidos no frio
Após longos anos de profanação da nossa humanidade, fomos transferidos (com cadeias nos pés) de Jilava para a prisão de isolamento máximo chamada Zarka, o pavilhão de terror da prisão de Aiud. O acolhimento seguiu o mesmo ritual sinistro e diabólico da profanação do homem, criado pelo amor de Deus. Eram as mesmas raspagens, as mesmas botas pesadas que se afundavam em nossas costelas, estômagos e rins. Apesar disso, notamos uma diferença: já não estávamos sujeitos ao regime de preservação em urina, suor, condensação e falta de oxigênio, mas estávamos sujeitos a um tratamento intensivo de oxigenação com o corpo nu e exposto ao frio, criminoso após criminoso (ou seja, ministros, generais, professores universitários, cientistas, poetas) — inclusive eu, que não passava de um “não falo” gigante, uma confiança firme e humilde na graça, a qual me faria suportar aquela provação.
Como éramos considerados inimigos do povo, todos tínhamos de desaparecer. Caso contrário, como poderia surgir o tão apregoado “novo homem soviético”? A cela em que fui colocado não continha nada: nenhuma cama, cobertor, lençol, almofada, mesa, cadeira ou tapete — nem sequer uma janela. Havia apenas as barras de ferro, e eu, como todos os outros, estava sozinho na cela. Eu ficava maravilhado comigo, pois estava revestido apenas com minha pele e coberto pelo frio.
Era o final de novembro. O frio se tornava cada vez mais penetrante, como um desagradável companheiro de cela. Após cerca de três dias, arrebentaram a porta e me atiraram calças esfarrapadas, uma camisa de manga curta, roupa íntima, um uniforme listrado e um par de sapatos gastos sem cadarços nem meias. Não havia nada com que cobrir a cabeça. Também me deram uma espécie de latrina, um recipiente miserável de cerca de quatro litros. Vesti-me como um foguete. No quarto dia, contaram a nós, detentos, que estávamos congelando. Em vez de nome, deram-me um número: K-1700, o ano em que a Igreja da Transilvânia se uniu a Roma. No registro público, eu já estava morto. Sobrevivi apenas como um número, uma estatística. Depois veio o caldo, servido com uma concha de 125 gramas: um líquido fino produzido pela fervura de farinha de milho. No almoço nos deram sopa de feijão, na qual eu pude contar oito ou nove grãos cheios. Havia muitas cascas vazias. Para o jantar, deram-nos chá com uma crosta de pão queimado. Após uma semana, substituíram o feijão por um mingau de farelo, no qual contei catorze grãos inteiros. De vez em quando alternavam o feijão com o purê de farelo. Nós vivíamos com menos do que é dado a uma galinha.
Andar ou morrer
Para sobreviver ao frio, tínhamos de nos movimentar constantemente, a fim de fazer ginástica. Logo que caíamos, prostrados pelo cansaço e pela fome, mergulhávamos no sono, mas num sono muito curto, pois o frio era muito intenso. Uma voz do outro lado da parede me acordou em um dia de um sono como esse: “Sou o professor Tomescu. Quem é você?” Era um ex-ministro da saúde que, tendo ouvido meu nome, continuou: “Já ouvi falar de você. Ouça-me com atenção: fomos trazidos aqui para ser exterminados. Nunca iremos colaborar com eles. Mas quem não andar morre, e assim se torna um colaborador. Diga aos outros: quem para, morre. Caminhem sem parar!” Imerso no silêncio sombrio da morte, o pavilhão ecoava os sons dos nossos sapatos sem ritmo. Éramos animados pela misteriosa vontade de um povo de permanecer na história, e pela vocação da Igreja de permanecer viva. Deixávamos de trabalhar só por volta das 12h30min, durante meia hora, quando o sol escasso se detinha para nós num canto da sala. Aí, aninhado com o sol sobre o meu rosto, eu podia dormir um pouco e ter um raio de esperança. Quando o sol me abandonava, ainda assim eu sentia que não tinha sido abandonado pela graça.
Eu sabia que tinha de sobreviver. Caminhava, repetindo para mim como um refrão, silabando: “Eu não quero morrer! Eu não quero morrer!” E não morri! A cada passo, eu cadenciava na mente uma oração, compunha ladainhas, recitava versículos de salmos.
Por dezessete semanas, continuamos caminhando dessa maneira, para não sucumbir à morte. Qualquer pessoa que perdesse a força ou a vontade de se mover, morria. Dos oitenta homens que entraram em Zarka, só trinta sobreviveram. As barras de ferro, pouco a pouco, foram se vestindo de camadas de gelo, formadas a partir das exalações do nosso sopro vivo, uma deslumbrante vestimenta de passagem para o Céu.
Mas tudo é graça
Muitas vezes acreditei firmemente que tinha chegado ao limite da escuridão. Mas eu ainda tinha uma longa estrada a percorrer. Tendo alcançado, anos mais tarde, o que imaginei que fosse a liberdade, constatei que na realidade aquilo nada mais era do que outra forma de viver na escuridão; que a frieza entre a Igreja Greco-Católica e a hierarquia da sua Igreja irmã Ortodoxa ainda não iria desaparecer; que as nossas igrejas continuavam a ser confiscadas, e o nosso rebanho continuava a diminuir, morto por promessas. Mas Cristo Senhor também só obteve a vitória quando pôde pronunciar, com seu último suspiro: Consummatum est, tudo está consumado.
Não escrevi muito sobre minhas experiências dramáticas. Quem pode acreditar no que parece inacreditável? Quem pode acreditar que a vontade é capaz de superar as leis da natureza? E se eu relatasse os milagres que experimentei? Não seriam considerados mera fantasia? Seria mais difícil para mim suportar essa descrença do que sofrer mais anos de prisão. Mas nem todos os que viram Jesus acreditaram nele: “Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele” (Jo 6, 66).
Nada na vida acontece por acaso. Cada momento que o Senhor nos dá está cheio de graça — a impaciência benevolente de Deus — e da nossa vontade de responder a ela ou recusá-la. Cabe a cada um de nós não reduzir tudo a um relato duro, feroz e inacreditável, e compreender que a aceitação da graça não atrapalha o homem, mas o conduz para além de suas expectativas e poderes. Espero sinceramente que esse testemunho abra uma janela para o Céu. Porque o Céu acima de nós é maior do que a terra debaixo dos nossos pés.
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