No rito romano da Missa, por muito tempo só a Oração Eucarística I era rezada pelos sacerdotes. Tanto que seu nome era simplesmente Canon Missæ, isto é, “Cânon da Missa”. A palavra “cânone” passa essa ideia de “norma”, “regra” a ser seguida; e ela era mesmo a única à disposição dos padres.
Hoje, essa oração antiquíssima continua a ser recomendada sobretudo nas celebrações mais festivas e importantes, o que só reforça sua primazia no rito romano. No Natal e na Páscoa, em Pentecostes e nas outras solenidades, algumas partes do Cânon são próprias; por isso, o ideal é que sempre se dê preferência a ele, sobre todas as outras orações eucarísticas.
Mas, até para que possa ser mais rezada pelos padres — e amada pelos católicos em geral —, a Oração Eucarística I precisa ser antes de tudo conhecida. O princípio de que “ninguém ama o que não conhece” é válido também na divina liturgia. (Justamente por isso, Padre Paulo Ricardo dedicou não menos que três aulas do curso História da Missa a meditar sobre o Cânon Romano. Vale a pena assistir a elas e perscrutar as riquezas desta bela oração.)
É marcante nela, por exemplo, a presença dos santos, de numerosos santos, adornando o culto público da Igreja ao Santíssimo Sacramento. No altar se fazem presentes o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo; e onde Ele está, não pode faltar também a corte celeste — que já o adora na eternidade, por todos os séculos dos séculos.
Por isso, neste texto, vamos conhecer um pouco quem foram esses santos “canônicos”. A Igreja os menciona há bastante tempo na Missa, os padres repetiam seus nomes todos os dias, antes e depois de consagrar a Eucaristia; não obstante isso, boa parte deles permanece “desconhecida” dos católicos — o que é uma grande perda, não só para nosso “arcabouço cultural”, mas também para a vida de piedade. (Afinal, é muito útil saber na companhia de quem estamos na hora de subir ao altar de Deus!)
“Em comunhão com toda a Igreja”
Uma das primeiras partes do Cânon Romano é o Communicántes (assim chamado em referência ao termo latino com que se inicia). Na atual tradução litúrgica brasileira, ouvimos o padre dizer: “Em comunhão com toda a Igreja…”. Segue-se então uma lista “caprichada” de santos:
Communicántes, et memóriam venerántes, in primis gloriósæ semper Vírginis Maríæ, Genitrícis Dei et Dómini nostri Jesu Christi, sed et beáti Joseph, ejúsdem Vírginis Sponsi, et beatórum Apostolórum ac Mártyrum tuórum, Petri et Pauli, Andréæ, Jacóbi, Joánnis, Thomæ, Jacóbi, Philíppi, Bartholomǽi, Mathǽi, Simónis et Thaddǽi: Lini, Cleti, Cleméntis, Xysti, Cornélii, Cypriáni, Lauréntii, Chrysógoni, Joánnis et Pauli, Cosmæ et Damiáni: et ómnium Sanctórum tuórum; quorum méritis precibúsque concédas, ut in ómnibus protectiónis tuæ muniámur auxílio. Per eúmdem Christum Dóminum nostrum. Amen. — Unidos na mesma comunhão, honramos a memória, em primeiro lugar, da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor nosso Jesus Cristo, e também de São José, o Esposo da mesma Virgem, e dos vossos bem-aventurados Apóstolos e Mártires, Pedro e Paulo, André, Tiago, João, Tomé, Tiago, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Simão e Tadeu, Lino, Cleto, Clemente, Sisto, Cornélio, Cipriano, Lourenço, Crisógono, João e Paulo, Cosme e Damião, e de todos os vossos santos. Por seus méritos e preces, concedei que sejamos sempre fortalecidos com o vosso auxílio e proteção. Pelo mesmo Cristo Senhor nosso. Amém.
Obviamente, Nossa Senhora, São José e os Apóstolos dispensam apresentações. Eles estão nos Evangelhos e são celebrados na Igreja com várias festas. Mas os doze nomes que aparecem logo depois não são tão óbvios assim: “Lino, Cleto, Clemente, Sisto, Cornélio, Cipriano, Lourenço, Crisógono, João e Paulo, Cosme e Damião”. Quem são eles?
Os três primeiros nomes — Lino, Cleto e Clemente — fazem referência aos primeiros sucessores imediatos de São Pedro em Roma. Santo Irineu de Lião dá testemunho de todos eles em seu livro Adversus Hæreses, “Contra as heresias” (III 3):
Os bem-aventurados apóstolos que fundaram e edificaram a Igreja transmitiram o governo episcopal a Lino, o Lino que Paulo lembra na carta a Timóteo (cf. 2Tm 4, 21). Lino teve como sucessor Anacleto. Depois dele, em terceiro lugar, depois dos apóstolos, coube o episcopado a Clemente, que vira os próprios apóstolos e estivera em relação com eles, que ainda guardava viva em seus ouvidos a pregação deles e diante dos olhos a tradição [i].
Mais algumas curiosidades: São Lino era companheiro de São Paulo. O Liber Pontificalis diz que ele era da Toscana, mas essa informação não possui outra fonte. A Igreja recorda sua memória em 23 de setembro. São Cleto (ou Anacleto), por sua vez, governou a Igreja de 76 a 88 d.C., e teria sido o primeiro Papa romano de nascimento. Seu dia é 26 de abril.
De São Clemente a história já nos fornece mais informações. Seu pontificado foi de 88 a 97 d.C. e Tertuliano mantém, de acordo com a tradição romana, que foi o próprio São Pedro a ordená-lo. O Martirológio Romano registra seu nome a 23 de novembro, data em que se comemora seu sepultamento na Cidade Eterna.
Ele escreveu, ademais, uma conhecida epístola à comunidade de Corinto, alguns trechos da qual estão no famoso manual Denzinger-Hünermann. Novamente, é Santo Irineu que nos fornece o contexto em que foi redigida a carta:
No pontificado de Clemente surgiram divergências graves entre os irmãos de Corinto. Então a Igreja de Roma enviou aos coríntios uma carta importantíssima para reuni-los na paz, reavivar-lhes a fé e reconfirmar a tradição que há pouco tempo tinham recebido dos apóstolos, isto é, a fé num único Deus todo-poderoso, que fez o céu e a terra, plasmou o homem e provocou o dilúvio, chamou Abraão, fez sair o povo do Egito, conversou com Moisés, deu a economia da Lei, enviou os profetas, preparou o fogo para o diabo e os seus anjos. Todos [...] podem aprender desta carta que este Deus é anunciado pelas Igrejas como o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo e conhecer a tradição apostólica da Igreja, [...] mais antiga do que os que agora pregam erradamente outro deus superior ao Demiurgo e Criador de tudo o que existe [ii].
Em seguida, o Cânon nomeia São Sisto. Na Igreja primitiva, houve dois Papas com esse nome, mas, de acordo com vários comentários, o mencionado na Missa é Sisto II.
A razão é que, apesar de breve (São Sisto só reinou como Papa de 257 a 258), seu pontificado foi coroado com um glorioso martírio, durante as perseguições do Imperador Valeriano. Uma carta de São Cipriano dá a entender que ele foi capturado na catacumba de Calisto e imediatamente executado, embora se discuta o modo como foi morto. Ainda hoje sua memória, e a de seus companheiros mártires, é celebrada no calendário romano a 7 de agosto. O Martirológio diz sobre eles o seguinte:
O papa São Sisto, quando celebrava os santos mistérios e ensinava aos irmãos os mandamentos celestes, por força do edito do imperador Valeriano foi inesperadamente preso pelos soldados e degolado no dia 6 de agosto; com ele sofreram o martírio quatro diáconos, que foram sepultados com o pontífice em Roma, no cemitério de Calisto, junto à Via Ápia. No mesmo dia também os santos Agapito e Felicíssimo, seus diáconos, padeceram o martírio no cemitério de Pretextato, onde também foram sepultados.
Também lhes faz companhia o diácono São Lourenço, servidor do mesmo Papa e morto pela fé na mesma ocasião histórica. A tradição o venera como santo padroeiro da Cidade Eterna, juntamente com São Pedro e São Paulo, e sua festa sempre foi uma das mais importantes do ano eclesiástico.
Quando viu Sisto ser levado ao martírio sem ele, Lourenço teria lhe dirigido as seguintes palavras: “Aonde vais sem teu filho, pai? Para onde corres, sacerdote santo, sem teu diácono? Nunca ofereceste o sacrifício sem ministro. O que, pois, te desagradou em mim, pai? Porventura me achaste indigno?” O Papa, por sua vez, respondeu a ele: “Não te deixo nem abandono, filho, mas te são devidas maiores batalhas. Logo tu virás, deixa de chorar: após três dias me hás de seguir. Convém ao levita seguir o sacerdote”.
Dito e feito. Três dias depois, Lourenço é colocado sobre uma grelha ardente por ordem do imperador, e aí ele entrega seu espírito a Deus — mas não sem antes dizer a Valeriano: “Vê, infeliz, que assaste um lado; vira-me agora do outro, e come”.
Pulamos dois nomes na lista do Cânon: São Cornélio, que foi Papa de 251 a 253, e São Cipriano, bispo de Cartago, decapitado no ano 258. Na liturgia, eles são celebrados juntos, em 16 de setembro. Mas dois dias antes o Martirológio registra o sepultamento do primeiro e a morte do segundo:
Em Roma, junto à Via Ápia, na cripta de Lucina do cemitério de Calisto, o sepultamento de São Cornélio, papa e mártir, que se opôs tenazmente ao cisma de Novaciano e recebeu com grande caridade na comunhão da Igreja muitos dos que tinham caído no cisma; exilado pelo imperador Galo para Civitavécchia, sofreu, segundo o testemunho de São Cipriano, tudo o que se podia sofrer [...].
Em Cartago, na hodierna Tunísia, a paixão de São Cipriano, bispo, admirável pela sua santidade e doutrina, que dirigiu excelentemente a Igreja em tempos muito adversos, encorajou os confessores da fé nas suas tribulações e, no tempo dos imperadores Valeriano e Galieno, depois de um atribulado exílio, consumou o seu martírio diante de uma grande multidão, morto ao fio da espada por ordem do procônsul.
De São Crisógono pouco se sabe, mas a Igreja o venera como mártir a 24 de novembro, aniversário de dedicação da basílica que leva o seu nome em Roma. Sua morte teria se dado na Aquileia, nordeste da Itália, durante as perseguições de Diocleciano. São João e São Paulo, por sua vez, são dois irmãos que foram martirizados na época de Juliano, o Apóstata, meio-irmão do Imperador Constantino. A eles está dedicada uma basílica no Monte Célio, também em Roma. Sua memória se faz em 26 de junho.
Os últimos santos do Communicántes são os médicos Cosme e Damião, martirizados na antiga cidade de Ciro, atual Síria, também por ordem do Imperador Diocleciano. Seu culto é muito forte no Oriente, mas sua memória também foi preservada no calendário romano a 26 de setembro.
As oblações antigas
Esta não é a única lista de santos contida no Cânon Romano. Após a Consagração, encontramos outra, na parte que começa com Nobis quoque peccatóribus (na atual tradução litúrgica, “E a todos nós, pecadores…”).
Antes de ir a ela, porém, façamos alguma menção do Supra quæ, já que estamos tratando em geral das várias personagens citadas no Cânon:
Supra quæ propítio ac seréno vultu respícere dignéris: et accépta habére, sícuti accépta habére dignátus es múnera púeri tui justi Abel, et sacrifícium patriárchæ nostri Abrahæ: et quod tibi óbtulit summus sacérdos tuus Melchísedech, sanctum sacrifícium, immaculátam hóstiam. — Sobre estas ofertas, dignai-vos lançar olhar propício e complacente; aceitai-as, assim como vos dignastes aceitar os dons do justo Abel, vosso servo, o sacrifício de Abraão, nosso pai, e o que vos ofereceu o vosso sumo sacerdote Melquisedec, sacrifício santo, hóstia imaculada.
Infelizmente a tradução brasileira do Missal omitiu vários elementos importantes do texto latino original. Ficou assim: “Recebei, ó Pai, esta oferenda, como recebestes a oferta de Abel, o sacrifício de Abraão e os dons de Melquisedeque”. Ou seja, sumiram o “semblante propício e sereno” de Deus Pai, a justiça de Abel, a patriarquia de Abraão e o sacerdócio de Melquisedec; o “santo sacrifício” e a “hóstia imaculada” também. O texto foi simplificado e empobrecido.
Seja como for, aqui o padre recorda essas três personagens antigas, que ofereceram sacrifícios agradáveis a Deus (cf. Gn 4, 4; 14, 18-20; 22), e pede a Ele que aceite também a “hóstia imaculada” que acaba de ser oferecida sobre o altar: seu próprio Filho, Nosso Senhor.
“E a todos nós, pecadores…”
Feita essa breve observação, voltemo-nos ao principal ponto de nosso interesse, o Nobis quoque, já na última parte da Oração Eucarística I:
Nobis quoque peccatóribus fámulis tuis, de multitúdine miseratiónum tuárum sperántibus, partem áliquam et societátem donáre dignéris, cum tuis sanctis Apóstolis et Martyribus: cum Joánne, Stéphano, Matthía, Bárnaba, Ignátio, Alexándro, Marcellíno, Petro, Felicitáte, Perpétua, Agatha, Lúcia, Agnéte, Cæcília, Anastásia, et ómnibus Sanctis tuis: intra quorum nos consórtium, non æstimátor mériti, sed véniæ, quǽsumus, largítor admítte. — A nós também, pecadores, vossos servos, confiados nas vossas infinitas misericórdias, dignai-vos conceder entremos a fazer parte da sociedade dos vossos santos Apóstolos e Mártires, João, Estêvão, Matias, Barnabé, Inácio, Alexandre, Marcelino, Pedro, Felicidade, Perpétua, Águeda, Luzia, Inês, Cecília, Anastácia, e de todos os vossos santos, em cujo consórcio vos pedimos nos admitais com vossa liberalidade, não já em consideração dos nossos méritos, mas sim pela vossa indulgência.
O João com que começa esta segunda lista é certamente São João Batista e não o apóstolo. Segundo o estudioso Archdale King, “a Congregação dos Ritos emitiu um decreto neste sentido em 1824. Por alguma razão, ele foi anulado em 1898. Portanto, nós podemos escolher qual João é homenageado, mas seria improvável que a mesma pessoa fosse mencionada duas vezes nas listas do Cânon” [iii].
Na sequência aparecem Santo Estêvão, diácono e protomártir, cujo martírio está relatado nos Atos dos Apóstolos, capítulos 6 e 7; São Matias, o apóstolo que substituiu Judas Iscariotes (cf. At 1, 15-26); São Barnabé, companheiro de São Paulo no livro dos Atos; e Santo Inácio de Antioquia, bispo martirizado no reinado de Trajano (ca. 98-117 d.C.). Este último é autor de inúmeras epístolas, importantíssimas para que se tenha uma noção da catolicidade da Igreja desde o início: nelas se fala da hierarquia eclesiástica, do sacramento da Eucaristia e também do primado de Roma sobre as demais comunidades cristãs.
Santo Alexandre é mencionado sozinho no Cânon, mas na liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II ele era celebrado todo dia 10 de julho juntamente com seis irmãos seus, todos mártires. A festa era, por assim dizer, a versão cristã dos sete irmãos macabeus do Antigo Testamento (cf. 2Mb 7) — e não deixava de ser um lembrete aos fiéis de que famílias numerosas são um dado natural da sociedade humana (ao menos de uma que se queira sadia e fecunda).
Seguem-se, enfim, os nomes de Marcelino e Pedro, comemorados no dia 2 de junho e elogiados assim no livro dos mártires:
Os santos mártires Marcelino, presbítero, e Pedro, exorcista, de quem o papa São Dâmaso conta que, durante a perseguição do imperador Diocleciano, condenados à morte e conduzidos ao lugar do suplício no meio da floresta, foram obrigados a cavar com as próprias mãos a sua sepultura, para que os corpos ficassem ocultos a toda a gente; mas uma piedosa mulher, chamada Lucina, inumou dignamente os seus santos corpos em Roma, junto à Via Labicana, no cemitério ad Duas Lauros.
As santas mártires do Cânon
Restam as santas mulheres do Cânon Romano: “Felicidade, Perpétua, Águeda, Luzia, Inês, Cecília, Anastácia” — todas elas populares e bem conhecidas, com exceção talvez de Anastácia, martirizada na antiga Panônia (atual Sérvia) e lembrada a 25 de dezembro, dia do Natal.
Felicidade e Perpétua foram duas mártires africanas, celebradas a 7 de março e mortas sob o Imperador Septímio Severo, no ano 203. Sobre elas o Martirológio diz que foram
presas em Cartago com outros jovens catecúmenos no tempo do imperador Septímio Severo: Perpétua, mulher patrícia de cerca de vinte e dois anos de idade, era mãe de uma criança de peito; Felicidade, sua escrava, estando grávida, segundo as leis devia ser conservada até dar à luz; mas, apesar das dores de parto, mostrava-se serena diante das feras. Passaram ambas do cárcere para o anfiteatro, de rosto alegre, seguras de que iam para o Céu.
Santa Águeda viveu no século III, durante as perseguições do Imperador Décio, e foi morta por volta de 250, na Sicília, com apenas 15 anos de idade. Tendo consagrado a Deus a sua virgindade, preferiu sofrer o martírio a ver violada a sua pureza. Antes, porém, de ser martirizada, ela foi colocada no ecúleo, uma mesa de tortura em que as pessoas eram amarradas e puxadas pelas duas extremidades; puseram sobre ela placas de ferro incandescentes e, por fim, cortaram-lhe o seio.
Ainda assim, Águeda não morreu e acabou sendo jogada na prisão, onde, durante a noite, milagrosamente lhe apareceu São Pedro, que a curou. Então, ela se apresentou curada diante dos seus juízes, que mesmo assim não desistiram de matá-la. Para fazê-lo de forma cruel, então, jogaram-na em cacos de telha com carvões incandescentes, e assim sua alma partiu ao encontro de Deus. Sua festa é celebrada em toda a Igreja dia 5 de fevereiro.
Também da Sicília é a mártir Santa Luzia, famosa padroeira dos olhos, que padeceu sob o império de Diocleciano no começo do século IV. No processo em que foi acusada de ser cristã, o juiz ameaçou jogá-la num prostíbulo, mas a santa respondeu, mostrando o que é a moral cristã: “Não há pecado se a alma não consente”. Ou seja, mesmo que o corpo fosse entregue a atos sexuais profanadores, se o espírito se mantivesse casto, ela permaneceria virgem. E, de fato, Deus a protegeu por um milagre: deixou-lhe o corpo tão pesado, que ninguém pôde transportá-lo, até que finalmente a martirizaram. Sua memória é lembrada todos os anos dia 13 de dezembro.
As virgens Inês e Cecília, por sua vez, consumaram na Cidade Eterna os seus martírios. Da primeira, celebrada a 21 de janeiro, Santo Ambrósio diz que seus membros eram tão pequenos, que não havia grilhões estreitos o bastante para prendê-la. A segunda, célebre patrona dos músicos, é festejada pela Igreja em 22 de novembro e também morreu martirizada.
Repare a diversidade contemplada por esta antiga oração litúrgica: homens e mulheres, jovens e anciãos, virgens e mães de família, bispos e irmãos de famílias fecundas — todos eles estão diante do altar do Senhor quando o padre oferece o santo sacrifício da Missa.
Por isso, na próxima vez que formos à igreja e ouvirmos o Cânon Romano ser rezado pelo sacerdote, tomemos parte na celebração eucarística com a consciência de não estar sozinhos: na divina liturgia, o Céu desce à terra; assistem a ela conosco os santos e santas de Deus. “Portanto, com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós, deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve” (Hb 12, 1).
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