Para os cristãos do Oriente Médio, a chamada Primavera Árabe não tem passado de um verdadeiro pesadelo, uma situação de terror que em nada se assemelha a primavera alguma. São inúmeras as agressões de grupos rebeldes islâmicos à vida e à liberdade religiosa de minorias – entre as quais se contam os católicos, os ortodoxos e também os judeus.

Há alguns dias, foram reportados aqui os lamentáveis atentados de radicais da Irmandade Muçulmana a templos coptas, comunidades e entidades de caridade religiosas do Egito. Impossível não se comover ante o cenário de guerra montado na capital do país e o vasto número de imagens retratando as ruínas materiais e o sofrimento espiritual dos cristãos egípcios.

Hoje, os olhares de todo o mundo se voltam especialmente para a Síria. O território que há dois milênios testemunhou a conversão do apóstolo Paulo também tem sido palco dos protestos de civis contra o poder político vigente. Uma guerra devastadora tem colocado, de um lado, uma revolta popular comandada por facções extremistas e, de outro, o governo do inflexível Bashar al-Assad, cuja linhagem se mantém há 40 anos no poder da Síria.

O conflito tem se estendido há dois anos, sem soluções à vista. A própria incerteza em determinar a origem dos últimos atentados com bombas químicas, que fizeram centenas de vítimas inocentes, ilustra a dificuldade em identificar heróis e vilões. O presidente da Comissão dos EUA para Liberdade Religiosa Internacional, Robert George, diz que não se deve expressar "qualquer simpatia" pelos ditadores que ainda remanescem no poder, como é o caso de Assad. "Frequentemente eles foram os protetores dos cristãos e de outras minorias não porque eles particularmente gostavam destes, mas porque era politicamente viável para eles fazê-lo", explica.

Do lado dos rebeldes, porém, a conduta com relação aos cristãos também não é muito receptiva. "A situação na Síria é mais complicada. Nós não temos muito poder de influência, certamente, no regime de Assad. Quando se fala da força rebelde, estamos falando errado, porque não há força rebelde unificada ou algo remotamente parecido. Há várias, várias facções diferentes. Muitas são tão más e brutais quanto o próprio regime", conta George.

Em uma terra onde extremismos religiosos são recorrentes, a guerra civil só agravou a situação das minorias, como se esta já não fosse suficientemente lamentável. Com efeito, apenas 10% da população síria se declara cristã. O número de muçulmanos sunitas presentes no país é sete vezes maior. "Uma crescente pressão social causada pela radicalização da parcela sunita dificultou a situação dos cristãos nas últimas décadas. Por esse motivo e por causa de uma estagnação econômica geral, vários cristãos decidiram deixar o país para ir para o Ocidente", constata M. K. Tozman, autor de um relatório recente sobre o Cristianismo no Oriente Médio, publicado pela Agência Síria de Notícias.

Hoje, com a guerra civil, muitos cristãos têm suas igrejas atacadas deliberadamente por jihadistas e há relatos de explosão de carros-bomba em frente a alguns templos, como nas cidades de Aleppo e Damasco. Reféns de grupos sectários islâmicos no decorrer da guerra civil, muitas das famílias cristãs foram coagidas ou a renunciar a seu patrimônio ou a abandonar a sua fé. Isto quando não têm de abandonar a Síria e procurar abrigo nos territórios vizinhos.

No entanto, até nesta tentativa de procurar um refúgio reside grande dificuldade. "Grupos minoritários cristãos", conta Tozman, "não têm nenhum país que se sinta responsável por eles". Muitos correm o risco de serem ainda mais perseguidos no exílio, já que o Oriente Médio tem sido há muito palco de hostilidade crescente aos cristãos.

Ler que os pequenos grupos de cristãos ali presentes "não têm nenhum país que se sinta responsável por eles" é, ao mesmo tempo, comovedor e emblemático. De fato, os cristãos, independente do lugar em que estiverem, são cidadãos da Pátria Celeste; têm consciência de que sua morada definitiva não é nesta vida, não é neste mundo.

Disto lhes advém a força para resistir às tempestades: eles entregaram suas vidas a Cristo e concederam um sentido autêntico a suas vidas. Não, não é verdade que o homem não seja capaz de enfrentar o sofrimento, o exílio ou a perseguição. "O homem pode suportar tudo, dizia Viktor Frankl, menos a falta de sentido".

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