"Assisti a 242 eucaristias ( sic) e com as hóstias consagradas guardadas formei a palavra #Pederastia". Foi o que publicou em seu Twitter o "artista" espanhol Abel Azcona, no dia 2 de agosto de 2015. Para comprovar o crime, no dia 22 de novembro, ele postou em sua mesma conta "imagens de câmera oculta com a 'recolhida' de hóstias 'consagradas' em igrejas de #Navarra e #Madri".
Em resposta à profanação, católicos se reuniram ontem (24), no interior e do lado de fora da Sala de Exposições Conde Rodezno, do município de Pamplona, onde a obra sacrílega estava sendo exibida. Um leigo já tinha entrado no edifício e levado as hóstias para um lugar seguro, sob os protestos de Azcona, que prometera repor a sua obra "com mais hóstias consagradas". Agora, no lugar, só estão as fotos da blasfêmia. A arquidiocese já marcou celebrações em desagravo pela violação e pelo desrespeito ao Santíssimo Sacramento.
Enquanto isso, sob o pretexto de defender a "liberdade de expressão e de criação artística", o Parlamento de Navarra se nega a condenar a profanação. "A arte é um direito de expressão, muitas vezes para provocar, quer se goste quer não", disse um parlamentar socialista.
Uma mente perturbada
O autor da peça sacrílega, Abel Azcona, é um homem perturbado, para dizer o mínimo. É o que se depreende, em primeiro lugar, da pequena biografia que ele escreve de si, em seu perfil no site Vimeo:
"Sua exploração artística considerada altamente biográfica retrata a sua própria infância, experiências marcantes de abuso, abandono e maus tratos, sendo sua mãe biológica uma referência chave de sua experiência e, portanto, de sua profissão artística. O sentimento de abandono experimentado pela primeira vez por causa de sua mãe, que era prostituta, e sua passagem por múltiplos orfanatos, instituições mentais e diferentes lares adotivos, são determinantes para a maneira como Azcona se expressa. A sua experiência de vida, marcada por drogas, prostituição e várias tentativas de suicídio durante a sua adolescência, estão ligadas à sua criação e, por isso, ele não hesita em compartilhá-las com os expectadores por meio da sua obra. Em seus trabalhos sobre essa intimidade, Azcona é conhecido por experimentar dor e resistência física, expondo-se a espancamentos, intoxicações, agressões e várias torturas tanto físicas quanto psicológicas, sem medo de confrontar a si mesmo. Ele assegura que quando pratica autoagressão, é sua própria escolha alterar a forma do seu corpo, em oposição a uma criança ou mulher abusada, sem chances de decidir."
É o que se conclui, afinal, quando se toma nota de sua exposição chamada "Empatia e prostituição", uma peça "onde o artista pratica prostituição com o seu próprio corpo de várias formas". Em uma das vezes em que se prostituiu, Azcona consumiu altas quantidades de álcool e drogas para esquecer os "intercâmbios sexuais". Resultado: teve que ser internado – "uma vez mais", ele conta – em uma clínica psiquiátrica. Sem arrependimentos, nem remorsos.
Quem deveria chorar, aplaude
O estado em que se encontra a alma desse "artista" denuncia o organismo doente que é a sociedade europeia, tendo abandonado Deus e os valores que moldaram a sua civilização. Alguns séculos atrás, o sacramento da Eucaristia era retratado pelos pintores com as mais belas formas artísticas. A hóstia consagrada estava sempre encerrada em um recipiente digno, ostentada por um anjo, reinando gloriosa sobre os homens. Só sobre a Última Ceia, foram inúmeras as obras produzidas, uma mais bela que a outra.
Agora, tragicamente, o escárnio é o mainstream. "Blasfêmia", "profanação" e "sacrilégio" são vocábulos empoeirados, de um tempo em que a Europa tinha religião. Hoje, eles já não significam nada, nem para Azcona, nem para a turba anticlerical, que aplaude as suas bizarrices na Internet e zomba da fé católica.
A cena a evocar é a de um cego, atirando para todos os lados, sem saber se está acertando o inimigo ou os próprios companheiros. A ordem é destruir, mesmo que seja o próprio galho no qual se está sentado. Os europeus não conseguem enxergar que é justamente por abandonarem a sua raiz e identidade cristãs que a sua casa está do jeito que está – imersa em uma crise sem solução ou previsão de término. O terrorismo bate à porta, mas a única coisa que algumas pessoas conseguem fazer é rir e brincar sobre as ruínas das suas cidades.
A analogia da guerra não é exagerada. É justamente esse o clima em que vive a Europa hoje, especialmente depois dos recentes atentados ocorridos na França.
Outra guerra, no entanto, de ordem cultural, preparou o terreno para todo esse caos. O "multiculturalismo", tão louvado pelas classes intelectuais, é apenas uma palavra bonita para o que Joseph Ratzinger chamava de "relativismo", a ideia ilógica e destrutiva de que tudo é relativo e de que não há nem verdade, nem bondade, nem beleza absolutas. Admite-se, ao contrário, uma liberdade total e ilimitada: de desrespeitar a fé e os valores alheios, de viver uma vida louca e amargurada, e até de matar os próprios filhos – pois é disso que se trata a defesa e a promoção do aborto.
É verdade que, para Azcona e boa parte da Europa pagã, a religião não é mais que um muro a restringir as suas "liberdades". A decadência que eles experimentam, todavia, prova justamente o contrário: a religião de um lugar é uma muralha a proteger os seus habitantes. Sem ela, os homens só estão livres para se autodestruírem.
Um crime para acordar o nosso amor
A profanação de Pamplona deve acender o alerta de todos os católicos para o valor do sacramento da Eucaristia. Além de suscitar o nosso repúdio e indignação, esse crime precisa acordar o nosso amor, fazendo cessar um fenômeno que acontece todos os dias em nossas igrejas, sem que ninguém se manifeste ou ouse protestar.
Seu nome é desleixo.
Primeiro, porque, se os sacerdotes tomassem os devidos cuidados para distribuir adequadamente a Comunhão, dificilmente um criminoso se apropriaria das espécies sagradas para fazer o que fez. Ao contrário, as hóstias consagradas passam pelas mãos dos fiéis como se fossem um alimento qualquer e ninguém vigia o modo como o Senhor está sendo recebido pelas pessoas. Isso sem falar das inúmeras comunhões sacrílegas que acontecem às escuras, com Jesus sendo maltratado pelos membros de Sua própria família.
Tanta indiferença só permite concluir uma das duas coisas: ou nós, católicos, perdemos o temor de Deus ou deixamos de crer na presença real de Jesus na Eucaristia. Porque não é possível que, estando o próprio Deus presente no Santíssimo Sacramento do altar, continuemos a tratá-Lo com tanta frieza e irreverência; que, sabendo da dignidade de tão grande mistério, ousemos nos aproximar da Comunhão em pecado mortal, participando simultaneamente da mesa do Senhor e da mesa dos demônios (cf. 1 Cor 10, 21)!
Contra o sacrilégio de Pamplona, é preciso ir além do protesto público e resgatar uma autêntica devoção eucarística dentro da Igreja. Nosso Senhor não quer simplesmente uma multidão que O comungue (por comungar), mas uma legião que O adore, "em espírito e em verdade" (Jo 4, 23): almas de oração que queiram amá-Lo, substancialmente presente na hóstia consagrada, e consolar o Seu Coração ofendido pela ingratidão e pelos pecados dos homens. Para isso, também nós precisamos da conversão e do espírito dos grandes amantes da Eucaristia: os santos e santas de Deus.
O sangue de São Tarcísio – que um dia banhou o território europeu, defendendo a honra do Santíssimo Sacramento – desperte os católicos do mundo inteiro para o amor e a adoração reparadora ao Corpo e Sangue de Cristo, e interceda também pela alma de Abel Azcona e de todos os europeus, para que se convertam e redescubram depressa a grandeza que se esconde sob o véu desse tão sublime sacramento.
"Os navarros e os católicos de todo o mundo Te adoram, Senhor!"
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