O Espírito Santo põe na boca do profeta Isaías "um sinal": "a jovem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel" (Is 7, 14). Aquilo que então era desconhecido para os homens já era sabido da parte de Deus. Desde todos os séculos, Ele havia escolhido uma mulher para ser a mãe do Verbo, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Se o fato de Jesus ter nascido de uma virgem fosse tão irrelevante, como alguns protestantes irreverentemente gostam de dizer, por que mereceu ser consignado nas Sagradas Escrituras? Se a maternidade de Maria fosse tão pouco importante, como sugerem, como explicar que os primeiros discípulos de Cristo fossem tão ligados e guardasse tanto amor à Mãe de Deus?

O título "Mãe de Deus" (Θεοτόκος, em grego), por exemplo, é uma herança dos primeiros cristãos. Proclamada no Concílio de Éfeso, em 431, o uso da expressão gerou controvérsias, mas estava bem claro para todos os presentes que conceder ou não este título a Maria era apenas resultado de uma concepção ortodoxa ou herética sobre Jesus Cristo. De fato, se Maria, mãe de Jesus, não fosse "mãe de Deus" – como objetava Nestório –, então Jesus não era "verdadeiro Deus" e "verdadeiro homem". Se Maria não podia ser chamada "mãe de Deus", tampouco podia "o homem Jesus" ser chamado de Deus, já que ele foi verdadeiramente gerado por ela. É claro que uma criatura não pode gerar a divindade, mas o mistério da união hipostática revela que não se pode cortar Jesus ao meio: "são diversas as naturezas que se unem numa verdadeira unidade, mas um só o Cristo e Filho que resulta de ambas" [1].

Alguém poderia objetar que esta decisão foi tomada "muito tarde", "quando a Igreja romana já se tinha corrompido". A isso se deve responder do seguinte modo.

Primeiro, em relação à Igreja, Jesus prometeu que "as portas do Inferno não poderão vencê-la" (Mt 16, 18). Isto inclui, entre outras coisas, a autoridade infalível do Magistério da Igreja. Por isso, o mesmo Jesus diz aos Seus discípulos: "Quem vos escuta, a Mim escuta; quem vos despreza, a Mim despreza" (Lc 10, 16). Insinuar que os bispos da Igreja – sucessores dos Apóstolos – teriam errado em matéria tão grave significa dizer que ou Jesus errou – o que é impossível – ou que Ele não assistiu a Sua Igreja – o que também não é possível, pois mesmo "se Lhe somos infiéis, Ele (...) permanece fiel, pois não pode negar-Se a Si mesmo" (2 Tm 2, 13).

Segundo, em relação ao fato de a Igreja ser romana. Embora muitos usem esta expressão de modo pejorativo, como se fôssemos católicos apostólicos romanos por causa de uma suposta fusão do Cristianismo com o paganismo romano no século IV, é importante notar que a Igreja não é romana senão pelo sangue de São Pedro ter banhado a cidade de Roma, durante as primeiras perseguições aos cristãos. Além disso, bem antes de Constantino a primazia do bispo de Roma era reconhecida: leia-se, por exemplo, uma carta de São Clemente, do século I, na qual ele pede que se obedeça "àquilo que por ele [Cristo] é dito através de nós" [2].

É dito que em um determinado momento da história antiga "a Igreja se corrompeu". Resta perguntar que momento histórico foi esse, se os primeiros escritores cristãos já chamavam a Igreja de "católica" [3], já reconheciam a autoridade da Sé de Roma e já celebravam o Santo Sacrifício da Missa [4], tal como é celebrado hoje. Novamente: se a Igreja se desviou, onde fica a fiabilidade da palavra de Cristo, que prometeu não abandonar a Sua Igreja?

Terceiro, em relação ao culto à Virgem Santíssima, Éfeso foi apenas a proclamação solene de uma consciência que já existia no coração de todos os fiéis cristãos, muito antes do século IV. O mais antigo ícone retratando Maria remete ao século II, nas catacumbas de Priscila, em Roma.

O padre Reginald Garrigou-Lagrange faz, notar, por exemplo, que, "no Ocidente, pelo menos desde o século II, as palavras natus ex María Virgine (nasceu da Virgem Maria) estão incluídas no símbolo que se explicava aos catecúmenos"; e, ainda, que "desde a época de São Justino, Santo Irineu e Tertuliano, Maria, a Mãe do Salvador, é chamada a nova Eva, a Mãe espiritual dos cristãos". A conclusão não pode ser outra: "Este culto nasceu espontaneamente nos fiéis por razão de sua fé no mistério da Encarnação redentora" [5].

Diante de tantas provas históricas, é difícil continuar acreditando na verborragia protestante de que "o culto a Maria foi uma invenção dos pagãos". Absolutamente, não. O culto à Virgem Santíssima é uma expressão amorosa dos cristãos, desde os tempos mais remotos da Igreja.

E a invocação de Nossa Senhora como Mãe de Deus nada mais é que o reconhecimento da sólida fé católica na "união hipostática" e na divindade de Jesus. Quase 16 séculos após o Concílio de Éfeso, a heresia nestoriana continua viva em ambientes protestantes, semeando o erro e a confusão. "A experiência demonstra", conclui o pe. Garrigou-Lagrange, "que a fé na divindade de Cristo se conserva entre os católicos que rendem culto a Maria, enquanto vai desaparecendo entre os protestantes" [6].

Referências

  1. Concílio de Éfeso, 1ª sessão dos cirilianos, 22 jun. 431 (DS 250).
  2. Clemente I de Roma, Carta aos Coríntios, ca. 96 (DS 102).
  3. Santo Inácio de Antioquia, Epístola aos Esmirnenses, 8 (PG 5, 713-714).
  4. São Justino, Primeira Apologia, 65-67 (PG 6, 427-431).
  5. La Madre del Salvador y Nuestra Vida Interior, p. 258.
  6. Ibidem, p. 259.

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