“Prometo ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amar-te e respeitar-te todos os dias da minha vida”. 

No dia do casamento, a maioria dos casais faz esses votos olhando para o futuro, rezando para que tenham muito mais momentos bons do que ruins, muito mais bem-estar do que doença.

Porém, durante a pandemia, enquanto o mundo enfrenta a pior doença global em um século e milhões de pessoas passam por momentos verdadeiramente difíceis, aquelas palavras assumem um sentido adicional.

Uma das coisas que mais têm me impressionado e inspirado nos últimos meses é o número de casais que tenho preparado para o Matrimônio e se têm mostrado dispostos — de modo profético e corajoso — a pronunciar e a viver aquelas palavras hoje.

Mesmo tendo de reduzir a lista de convidados de centenas a apenas dez pessoas.

Mesmo tendo de adiar festas e lua de mel.

Mesmo tendo de superar vários obstáculos para conseguirem permissão para contrair matrimônio e inventarem soluções para vestidos, ternos, flores e outros elementos básicos de uma cerimônia de casamento, porque os seus fornecedores foram tachados de negócios “não essenciais” e tiveram de fechar as portas.

Em suma, mesmo tendo de abrir mão de muitos elementos de um  “casamento dos sonhos”.

Um jovem casal me disse que rezaram para descobrir o que Deus queria deles durante esta pandemia. Concluíram que Ele lhes pedia que dessem testemunho do sacramento do Matrimônio.

“Não podemos fazer nada a respeito das decisões tomadas quanto à disponibilidade dos sacramentos do Batismo, da Eucaristia, da Confissão, da Confirmação e da Unção dos Enfermos durante a crise”, disseram-me. “Mas, na medida em que a decisão está sob o nosso controle, desejamos mostrar aos nossos familiares, aos nossos colegas católicos e todas as outras pessoas o quanto o sacramento do Matrimônio é importante”.

Há duas semanas, celebrei em Atlanta a Missa nupcial de um casal acompanhado apenas por familiares próximos. Todos os outros convidados, inclusive os amigos mais próximos, tiveram de assistir à celebração pela internet. O noivo me disse o seguinte durante as nossas sessões de preparação em Nova Iorque: “Matrimônio significa unir-se a outra pessoa e a Deus, e amar essa pessoa em cada reviravolta, mudança e acontecimento inesperado que a vida nos proporciona”.  

Não pude deixar de dizer o seguinte durante a homilia: “Sem dúvida, a vida os colocou numa situação inesperada durante os dois últimos meses; mas, unidos, conseguirão superá-la. Todos os que aqui estão presentes e os que assistem à transmissão online torcem por vocês neste início de vida conjugal”. 

Não obstante, muitos amigos e familiares que não puderam estar presentes na igreja organizaram, logo após a cerimônia, um alegre momento para cumprimentar de carro o novo casal. 

Outro casal está se preparando para o Matrimônio em julho, em San José, onde reside a família da noiva. Na semana passada, eles me disseram que havia ocorrido um problema: o estado da Califórnia estava concedendo licenças de casamento apenas aos casais em que uma das parte residisse no estado, a fim de evitar, teoricamente, os chamados destination weddings (cerimônias realizadas em local diferente da cidade de origem dos noivos, muitas vezes no lugar da lua de mel) e a possibilidade de transmitir o novo coronavírus. Esta foi a resposta deles: “Padre, se não conseguirmos uma licença lá, seria possível nos casarmos em Connecticut, Nova Iorque ou qualquer local onde pudermos conseguir uma licença?” Eu disse a eles que ficaria honrado em celebrar o seu casamento em qualquer igreja católica do planeta

Disse-me outro casal, ambos de famílias numerosas, que, compreensivelmente, estavam frustrados porque só teriam uns poucos irmãos na cerimônia: “O mais importante, padre, é que o senhor, nós dois e as nossas duas testemunhas estarão lá, porque desse modo o casamento poderá acontecer”.

Manifestaram, porém, a sincera esperança de que a sua diocese lhes permitiria celebrar uma Missa nupcial, para poderem receber, depois de vários meses, a Sagrada Eucaristia. Fico feliz em dizer que a diocese acabou de retirar a suspensão das Missas públicas. Além disso, a igreja onde se casarão é tão grande, que todos os familiares e amigos que esperavam convidar no início poderão comparecer sem dificuldades, respeitando plenamente as novas orientações de distanciamento social e do percentual de ocupação.   

Nenhuma dessas decisões foi tomada sem desconforto. Alguns casais que estou preparando para o Matrimônio neste ano também decidiram adiar a celebração para 2021, porque não conseguem imaginar uma cerimônia sem a presença de todos os amigos e familiares, ou sem uma alegre recepção depois dela. Independentemente da decisão, quando esses casais ficaram noivos e começaram a falar comigo, nenhum deles jamais imaginou que teria de postergar um dia tão esperado por causa de uma pandemia.  

No entanto, percebi algumas características comuns aos casais que escolheram manter as datas. 

A primeira delas é uma forte consciência de sua vocação. Sabem que são chamados por Deus ao Matrimônio e querem responder prontamente a Ele.

Como parte da preparação para o Matrimônio, quando um casal me diz que espera ser abençoado por Deus com filhos, embora pretenda esperar uns dois anos antes de tentar engravidar, recordo-lhe gentilmente que uma das grandes tentações do demônio é nos fazer pensar que “sempre há tempo”.

Eu lhes pergunto: “Se soubessem que ficariam casados por apenas cinco anos antes de um dos dois falecer heroicamente, isso mudaria o que vocês pensam a respeito do momento adequado para começar a ter filhos?” Essa pergunta sempre os leva a mudar de cabeça e de planos.

Fiquei muito satisfeito quando um dos casais, ao ser confrontado com a decisão de adiar ou não o Matrimônio, disse o seguinte: “Padre, se, pela vontade de Deus, só conseguirmos ficar casados por cinco anos antes que um de nós dê a vida para salvar a do outro”, disse a futura esposa, “preferimos passar esse tempo como marido e mulher. Nossa vocação é o Matrimônio, não o noivado!

A segunda característica é um profundo apreço pelo que acontece no sacramento do Matrimônio, a convicção e a fé em dar prioridade ao vínculo criado por Deus, antes que à presença de todos os familiares e amigos na celebração, à recepção, à viagem de lua de mel e às diversas coisas que, embora belas e significativas, eles não consideram tão importantes. Numa época em que muitos noivos vivem juntos e outros se comportam como se fossem casados, em geral os casais que escolhem manter as datas tratam o casamento como um acontecimento em que Deus cria algo profundamente novo, uma comunhão consigo e entre o casal, desejada por eles e que não pretendem adiar.  

O terceiro traço é o seguinte: aqueles que mantêm a data de Matrimônio estão vivendo de forma patente a castidade. Como qualquer outro casal, esses noivos sentem desejo um pelo outro, mas sabem que, do ponto de vista moral, só poderão consumá-lo e tornar-se uma só carne quando Deus os unir. Não estão dispostos a esperar mais um ano para terem enfim uma celebração completa, pois esperaram ansiosamente a vida inteira para encontrar a pessoa certa e começar a “receber com amor os filhos que Deus lhes enviar e educá-los segundo a lei de Cristo e da Igreja”.

A decisão de se casarem em plena pandemia e em tempos difíceis é um poderoso anúncio de que os noivos levam realmente a sério o que professam um ao outro em seus votos. De forma dramática, eles põem em prática aquelas palavras desde o primeiro dia de sua convivência conjugal. E dão à Igreja e ao mundo um belo, estimulante e instigante testemunho.

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