O exorcismo do possesso de Gerasa é, sem dúvida, uma das passagens mais impressionantes de toda a Escritura (cf. Mc 5, 1-20) [i].
Diz o Evangelho que Jesus e seus discípulos chegaram ali de barco, e um endemoninhado foi ao seu encontro saindo “do meio dos túmulos” — ou seja, do cemitério!
E por que do cemitério? Porque era ali que ele morava!
O rapaz “muitas vezes tinha sido preso com grilhões e correntes”, mas sempre os arrebentava, e “ninguém conseguia dominá-lo”. “Dia e noite”, ele “andava entre os túmulos e pelos morros, gritando e ferindo-se com pedras”. Um cenário digno de filme de terror!
Até que veio Nosso Senhor. E ao vê-lo, “de longe, o homem correu, caiu de joelhos diante dele e gritou bem alto: ‘Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Por Deus, conjuro-te, não me atormentes!’”
Ora, quem foi esse que falou com Jesus? Não foi o homem possesso, definitivamente! Uma outra pessoa estava presente ali. Uma pessoa que intuía em Cristo a presença e o poder de Deus, tanto que lhe pediu: “Não me atormentes!”
Essa mesma pessoa (ou “Legião”, já que eram vários), ante a ordem de Jesus para que saísse daquele homem, dirigiu-se a Ele em tom suplicante: “Manda-nos entrar nos porcos”.
Mas, ó espíritos maus — poderíamos perguntar —, por que pedir “autorização” para infestar os animais, se já estáveis a tanto tempo aninhados num ser humano? Não pode menos quem pode mais? Donde vos vem tal submissão?
Responde um monge muito sábio que assim foi só para que ficasse claro que os demônios “não podem fazer mal aos homens a não ser com permissão divina” [ii].
Os anjos maus “entraram nos porcos”, então, “e a manada — uns dois mil porcos — precipitou-se pelo despenhadeiro e afogou-se no mar”.
Mas, ó Senhor, que cuidais das aves do céu e lhes dais alimento, por que permitir tamanha crueldade com esses outros animais?
Para “mostrar a todos a fúria dos demônios contra os homens” — responde São João Crisóstomo —, pois, “se eles pudessem e não fossem impedidos pelo poder divino”, fariam conosco coisas muito piores do que fizeram a esses porcos [iii].
Eis um pouco da riqueza escondida nesta passagem bíblica tão surpreendente! Nela vemos a Providência divina que governa todas as suas criaturas, tirando bens até mesmo daqueles que nos parecem os piores dos males [iv]!
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