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Doutrina
O que são as “virtudes teologais”?
Ao ser justificado por Deus, o homem recebe de uma só vez, com a remissão de seus pecados, três dons infusos que a tradição católica, amparada na Sagrada Escritura, identifica como “virtudes teologais”. O que são elas?
Equipe Christo Nihil Praeponere
21.Out.2020Tempo de leitura: 4 minutos
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Antes de estudarmos as chamadas virtudes teologais, é necessário considerar primeiro duas coisas: (I) os diversos modos de significá-las, ou seja, os distintos nomes por que são conhecidas, (II) e a realidade significada por tais nomes.
I. Nome. — Quanto aos modos de significação, deve-se saber que as virtudes teologais costumam ser designadas de duas maneiras: 1) em geral (lato sensu), por referência quer ao sujeito, quer à causa, quer ao meio por que são conhecidas, e 2) em particular (stricto sensu), em função do objeto ou da forma própria de cada uma delas. Assim:
1) Em geral ou em sentido amplo, as virtudes teologais podem ser designadas como:
Virtudes católicas, em razão de seu sujeito, por serem próprias do fiel cristão;
Virtudes infusas, em razão de sua causa, que é Deus pela graça;
Virtudes teológicas, em razão do meio por que são conhecidas, que é a divina revelação.
2) Em sentido estrito, as virtudes teologais costumam ser designadas em função de sua forma ou objeto próprio, e por isso se distinguem em:
Fé, cujo objeto é a Verdade primeira dita ou comunicada;
Esperança, cujo objeto é a suma Bondade enquanto bem para nós [1];
Caridade, cujo objeto é a suma Bondade enquanto bem em si mesmo.
II. Realidade. — Quanto às realidadessignificadas por tais nomes, cumpre saber o seguinte: 1) se existem (an sint); 2) o que são (quid sint); 3) por que e como se dividem; 4) e que tipo de ordem se pode estabelecer entre elas. Assim:
1) É de fé que existem virtudes teologais, ao modo de hábitos operativos infusos, responsáveis por nos unirem a Deus, nosso fim último sobrenatural. A Igreja, com efeito, o ensinou em uma multidão de documentos ao longo dos séculos [2].
2) É doutrina certa que estes hábitos versam sobre o fim, que é Deus em si mesmo, e por isso se distinguem das virtudes morais infusas, que têm por objeto os meios, isto é, as criaturas. No entanto, é possível que essa doutrina seja ao menos próxima da fé, em virtude do teor das palavras de Bento XII na Constituição “Benedictus Deus” [3].
3) Há três virtudes teologais por cujos atos nos unimos a Deus [4], já que são três os principais atos de nossas duas potências espirituais, o intelecto e a vontade:
A fé, que é um hábito do intelecto, nos une a Deus pelo ato de entendimento (intelligere), por anuência às verdades reveladas.
Na vontade radicam outros dois hábitos: α) a esperança, cujo ato é querer (velle) ou aspirar a Deus como bem sumamente árduo, mas possível; β) e a caridade, cujo ato é propriamente o amor a este bem. A esperança, portanto, se distingue da caridade como o movimento em direção ao fim (motus in finem) se distingue da conformidade do apetite com o fim (coaptatio ad finem) [5].
4) Por último, entre as três virtudes teologais se pode distinguir uma dupla ordem: a) uma ordem de prioridade ou geração, fundada nos atos próprios de cada uma delas por analogia com os atos correspondentes das potências em que radicam; b) e uma ordem de perfeição ou dignidade, fundada no aspecto formal sob o qual atingem o seu objeto, isto é, Deus em si mesmo [6]. Nesse sentido:
Na ordem da geração, primeiro vem a fé, depois a esperança e por último a caridade, assim como primeiro é o conhecimento, depois a volição imperfeita (ou tendencial) e por último a volição perfeita (conformativa ou fruitiva). Com efeito, assim como a vontade só pode apetecer e chegar à posse do bem, se lho apresentar antes o intelecto (nihil volitum nisi præcognitum), do mesmo modo a esperança só pode querer e a caridade só pode amar a Deus se ele for conhecido pela fé.
Na ordem da perfeição, primeiro vem a caridade, que tem a Deus por objeto enquanto bem divino a ser amado em si mesmo com amor de benevolência; depois vem a fé, que tem a Deus por objeto enquanto verdade divina a ser conhecida sob a luz da graça; e por último vem a esperança, que tem a Deus por objeto enquanto bem divino a ser apetecido com amor de concupiscência.
Ora, dado que um ato é tanto mais meritório quanto mais perfeita é a virtude de que é ato [7], pode-se estabelecer um terceiro critério de ordenação entre as virtudes teologais, também do ângulo da perfeição. Assim, a virtude mais perfeita de todas é a caridade, cujo ato é o amor a Deus em si mesmo, ao passo que a esperança é agora mais perfeita do que a fé, já que a esperança de certa forma direciona ou move os nossos afetos a Deus, enquanto pela fé é Deus quem passa a estar presente em nós ao modo de objeto conhecido (cf. STh I-II 68, 8 c.).
Daí dizer S. Paulo, em 1Cor 13, 13, que a caridade, das três virtudes teologais, é a maior, pois ela não só se especifica por um objeto formal, de certo ângulo, mais excelente como também aperfeiçoa os atos das outras duas, tornando-os meritórios, por certo influxo informativo, da vida eterna [8].
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