Jesus Cristo, o Filho de Deus, é também o sumo sacerdote de Deus (cf. Hb 6, 20). Esse mesmo sacerdócio, Ele o compartilhou com os Apóstolos durante a Última Ceia, na Quinta-feira Santa, de modo que os clérigos ordenados — diáconos, padres e bispos — são homens muito especiais. Mas, afinal, quais são os efeitos das Ordens Sacras no homem que recebe este sacramento?

Como acontece com todos os sacramentos, a Ordem aumenta a graça santificante e dá uma graça sacramental particular ao homem ordenado, a fim de que ele consiga cumprir os propósitos do sacramento. Ele também imprime um caráter indelével na alma, como fazem os dois sacramentos da iniciação cristã, o Batismo e a Confirmação.

O aumento da graça santificante é necessário para que todas as pessoas cumpram o preceito dado por Cristo em Mt 5, 48: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste”. Isso é especialmente importante para quem recebe as Ordens Sacras. Como sacerdote, ele deve não só salvar a própria alma, mas também ser um modelo de Cristo para as almas que pastoreia.

Detalhe de “Ordenação e Primeira Missa de São João da Mata”, por Vicente Carducho.

Os frutos da graça. — A graça sacramental da Ordem confere ao sacerdote os dois principais poderes sobrenaturais. O primeiro é o poder de transformar o pão e o vinho comuns no Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia — o santo sacrifício da Missa. Cristo mandou que o recebêssemos na Eucaristia para a vida de nossas almas.

O segundo poder é a capacidade de perdoar os nossos pecados no sacramento da Penitência. Esta graça sacramental dos padres é especialmente evidente no confessionário. Quando um penitente vai ao mesmo confessor com regularidade e frequência, o padre começa a conhecer intimamente a alma do penitente. A graça sacramental que recebe ao ser ordenado ajuda o sacerdote a guiar as almas no caminho da perfeição em Deus descrito em Mt 5, 48.

A graça sacramental de um padre, portanto, não beneficia só o homem ordenado, mas também os fiéis leigos. Ela dá ao padre, bispo ou diácono proclamar fielmente o Evangelho, cumprir o ministério da Palavra da Verdade e renovar as pessoas para muito além do “banho de regeneração” batismal.

Os bispos também têm um tesouro na graça sacramental das Ordens Sacras: a capacidade de governar suas dioceses e apresentar os ensinamentos da Igreja Católica de um modo que beneficie as almas de seus rebanhos. Isso é verdade mesmo que um prelado recuse esse benefício.

Celibato: dedicação total. — Como observa o Catecismo no parágrafo 1579, os sacerdotes da Igreja latina normalmente não podem se casar. Dando uma razão para esse celibato, o Catecismo cita as palavras de Cristo em Mt 19, 12: “por causa do Reino dos céus”. E acrescenta:

Chamados a consagrar-se com indiviso coração ao Senhor e a “cuidar das coisas do Senhor”, entregam-se inteiramente a Deus e aos homens. O celibato é um sinal desta nova vida a serviço da qual o ministro da Igreja é consagrado; aceito com coração alegre, ele anuncia de modo radiante o Reino de Deus.

Ao contrário dos padres, um homem já casado pode se tornar “diácono permanente” — alguém que não fará a transição ao sacerdócio. Mas, se a sua esposa morre, ele não pode se casar novamente, nem um homem solteiro pode se casar depois de ordenado ao diaconato.

Embora os diáconos não tenham os mesmos poderes sobrenaturais dos sacerdotes, eles têm um grande propósito na Igreja. Os diáconos são auxiliares dos bispos e sacerdotes e estão sujeitos à sua autoridade. Os diáconos podem assistir a casamentos, realizar batismos, levar a Sagrada Comunhão aos que não podem sair, presidir a funerais e ritos de sepultamento, proclamar o Evangelho na Missa e servir em várias outras funções não-litúrgicas.

Padre: autoridade de Cristo. — Os não-católicos que negam a existência do sacerdócio sacramental nos criticam por chamar nossos sacerdotes de “padres”. Geralmente, esses não-católicos citam a exortação de Jesus em Mt 23, 9: “Não chameis a ninguém na terra de pai, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus”. Mas, ao fazer isso, essas pessoas estão tirando as palavras de Nosso Senhor do contexto e desconsiderando a totalidade da Sagrada Escritura.

Cristo nos diz para não chamar nenhum homem de pai, mas Deus nos dá o quarto mandamento: “Honra teu pai e tua mãe”. Portanto, ou existe uma contradição entre Deus Pai e Deus Filho, ou os opositores do sacerdócio interpretam erroneamente as palavras de Cristo.

“Consummatum Est”, de James Tissot.

Ora, Cristo não estava criticando a palavra pai; Ele estava nos ensinando que somente Deus é a fonte de toda autoridade. De fato, o sacerdote age in persona Christi no cumprimento de seus deveres litúrgico-sacramentais. Santo Tomás de Aquino, como citado no parágrafo 1548 do Catecismo, ensina: “Cristo é a origem de todo sacerdócio: pois o sacerdote da [Antiga] Lei era figura dele, ao passo que o sacerdote da nova lei age em sua pessoa” (STh III 22 4c.).

A repreensão de Jesus não foi pelo uso da palavra pai, mas pelo orgulho dos fariseus. Se a repreensão fosse da palavra pai, ninguém estaria certo em chamar seu pai biológico de pai.

Os primeiros cristãos nunca interpretaram essas palavras literalmente. São Paulo refere-se a Timóteo como seu “filho amado” em duas de suas epístolas, apresentando-se assim como o pai espiritual de Timóteo. Ele também se refere a si mesmo como o pai espiritual de seus convertidos em 1Cor 4, 15.

Ao escrever para outros líderes cristãos, São João os chamou de pais em 1Jo 2, 13. Devemos acreditar que esses dois grandes apóstolos, aos quais foi prometido que se lembrariam de tudo o que Cristo havia ensinado a eles com a ajuda do Espírito Santo, desobedeceriam direta e descaradamente a Cristo? A objeção feita contra nossa prática de dois mil anos não tem fundamento.

No fim das contas, o sacerdócio é, sim, digno de nossa reverência. E esses homens das Ordens Sacras são homens muito especiais com poderes sobrenaturais, como vimos neste artigo.

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