Em um ato flagrante de abuso de poder, o governo da Noruega tomou cinco crianças de sua família, depois de os seus pais serem acusados de "radicalismo e doutrinação cristã". Ruth e Marius Bodnariu estão desde o dia 16 de novembro sem os filhos – dois meninos, duas meninas e um bebê, ainda em fase de amamentação –, que foram transferidos a diferentes lares adotivos, por decisão do Barnevernet, o departamento de "proteção à infância" da Noruega. Uma petição online pedindo o retorno das crianças à sua família já foi assinada por mais de 35 mil pessoas.
De acordo com Daniel Bodnariu, irmão de Marius, toda a confusão começou com uma denúncia "feita pela diretora da escola onde as meninas estavam". As acusações – que ele revela em uma página do Facebook criada justamente para esse propósito – são estarrecedoras:
"A diretora chamou o Barnevernet expressando 'preocupações': as meninas contaram-lhe que estavam sendo disciplinadas em casa. Na sua mensagem, ela também disse que os pais são fiéis cristãos, 'muito cristãos', e que a avó tem uma forte convicção de que Deus castiga o pecado, o que, na opinião dela, cria uma inabilidade nas crianças. De acordo com a declaração da diretora, os tios e tias das meninas compartilham da mesma crença. A denúncia também diz que, ainda que as garotas sejam notáveis por seus bons resultados na escola e que a diretora não acredite que elas sejam abusadas fisicamente em casa, ela acha que os pais precisam de 'ajuda' e orientação do Barnevernet para criar os seus filhos."
Depois da queixa da escola, todas as coisas aconteceram muito rápido.
No dia 16 de novembro, as duas filhas mais velhas, Eliana e Naomi, foram literalmente "raptadas" da escola, sem o conhecimento dos pais. O Barnevernet ainda foi à casa da família, levou embora Matthew e John – sem nenhum mandado judicial –, e conduziu Ruth e o bebê para a delegacia. Marius, que estava no trabalho, também foi levado para um interrogatório. Depois de várias horas, o casal foi autorizado a voltar para casa, mas somente com Ezekiel, o filho de três meses.
No dia seguinte, porém, os agentes do Estado voltaram à casa dos Bodnariu e levaram também o bebê de três meses. A alegação era de que a mãe se tratava de uma pessoa "perigosa". Na mesma hora, a mãe foi avisada de que seus outros quatro filhos tinham sido colocados em diferentes casas adotivas e que já teriam se adaptado ao lugar, não sentindo mais a falta dos pais (!).
Depois de consultar um advogado, o casal obteve acesso ao documento com as acusações legais preenchidas contra eles. Entre outras coisas, havia a denúncia de que os pais e avós da família eram "cristãos radicais" e que estavam "doutrinando os filhos".
Até o momento, o casal Bodnariu ainda está separado de seus cinco filhos. Ruth e Marius estão impedidos de ver os quatro mais velhos e a mãe só pode ver o pequeno Ezekiel esporadicamente. "O que eles não entendem é por que os seus filhos foram tirados de si sem serem previamente alertados", explica Daniel, no Facebook. "Por que foram tratados como criminosos ou maus pais – como os adictos em drogas e alcóolatras? Por que ainda lhe estão sendo negados os seus direitos como pais, que deveriam prevalecer contra qualquer direito que o Estado possa presumir?"
Não é a primeira vez que o departamento de "proteção à infância" da Noruega é acusado de intrometer-se indevidamente na vida das famílias, com alguns líderes políticos chegando a qualificar o Barnevernet de "nazista". Diante de episódios como esses, é realmente difícil não evocar as cruéis imagens dos regimes totalitários do século XX, que, detendo a "fórmula" de uma sociedade perfeita, tentaram impô-la a todo o custo, desprezando as instituições e os direitos mais elementares dos indivíduos.
No rol desses "princípios inegociáveis" – os quais, longe de serem meramente religiosos, constituem normas de direito natural –, o Papa Bento XVI não se cansava de elencar a "tutela do direito dos pais de educar os próprios filhos". A Igreja leva tão a sério essa verdade, que Santo Tomás de Aquino, ainda na Idade Média, condenava que se ministrasse o batismo a filhos de pais judios, reconhecendo que as crianças "estão sob o cuidado dos pais segundo o direito natural". São os pais, portanto, que devem formar os próprios filhos, cabendo ao Estado um papel simplesmente subsidiário, alternativo, nesse processo. Daqui o problema do slogan "Pátria Educadora", adotado recentemente pelo governo federal brasileiro. A Educadora por excelência é a família, não o Estado.
Na verdade, o caso da família Bodnariu revela um drama crescente nos países nórdicos, dominados por um secularismo anticristão agressivo e por um Estado cada vez maior e mais autoritário. Na Suécia, por exemplo, as crianças não são mais criadas por um pai e uma mãe, mas por "funcionários públicos" das "creches do Estado". Lá, assim como em outros lugares dominados por uma ferrenha engenharia social, a "Pátria Educadora", mais que um projeto, é já uma triste realidade.
Tragicamente, a ascensão e fortalecimento da educação estatal é acompanhada por uma crise familiar praticamente sem precedentes na história humana. Com a ausência da figura paterna e as mulheres cada vez mais fora de casa, os filhos vão sendo empurrados para escanteio. Como alertou recentemente o Papa Francisco, os pais e as mães "se auto-exilaram da educação dos próprios filhos" e, por outro lado, "multiplicaram-se os assim chamados 'especialistas', que passaram a ocupar o papel dos pais até nos aspectos mais íntimos da educação". Também a "cultura da morte" se alimenta de tudo isso. Sem o profundo desprezo de nossos contemporâneos pela paternidade, de fato, dificilmente seria possível falar de uma "indústria" em torno da prática do aborto e dos métodos anticoncepcionais.
A todo esse show de horrores se juntam o ódio e a intolerância flagrantes à religião cristã. Nunca se ouviu falar tanto de "liberdade" – as pessoas "são livres" para fumar maconha, para ter sexo com quem quiserem, para matar os próprios filhos, para dizer que homem e mulher são meras "construções sociais" – e, no entanto, quando uma família decide ensinar aos seus membros as verdades da fé cristã – ou simplesmente que "Deus castiga o pecado" –, o Estado rouba-lhes os filhos. Há liberdade para tudo, menos para ser cristão. Não se pode dizer que Deus castiga, se não quem castiga é o Estado.
"Há muitos casos de abuso dentro das famílias", reconhece Daniel Bodnariu. "Obviamente, esses casos devem ser punidos. Mas é uma enorme responsabilidade ser capaz de discernir quando realmente há ou não um abuso, porque, ao não fazer isso apropriadamente, você pode destruir uma família".
É o que está acontecendo com os Bodnariu, na Noruega, e é o que pode acontecer em todo o globo, caso os pais não despertem com urgência para o seu imperativo – e intransferível! – dever de educar os próprios filhos. Só isso pode dar jeito à farsa totalitária da "Pátria Educadora".
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