Foi moda durante um tempo, particularmente nos ambientes acadêmicos, defender que doutrinas e rituais religiosos podem, em última instância, reduzir-se a um conjunto de símbolos e ações simbólicas fundamentais de alcance universal e intercambiáveis entre todas as religiões — uma linguagem divina implícita.

De acordo com esse sofisticado reducionismo, todas as religiões e seus escritos sagrados representam, no fundo, o esforço (mais ou menos bem-sucedido) da imaginação humana por entender mistérios cósmicos incompreensíveis. De acordo com essa forma de pensamento, a religião é um produto da mente humana e expressa seus próprios pensamentos e desejos. Portanto, não podemos considerar uma religião verdadeira ou falsa, ou dizer que esta religião é verdadeira ou mais verdadeira do que aquela: todas seriam apenas diferentes sistemas simbólicos.  

Antes de responder a essa alegação, parece necessário insistir num ponto que já foi óbvio: a fé católica não é hostil a símbolos e ações simbólicas; ao contrário, sempre fez uso amplo e constante deles. Até as questionáveis reformas litúrgicas do século XX, que tenderam a ser acompanhadas por uma estética modernista e minimalista que enalteceu o conteúdo verbal e cerebral em detrimento de expressões mais intuitivas, subconscientes e viscerais do sagrado, o culto católico sempre foi um verdadeiro desfile de símbolos, que se alastravam pela vida cotidiana. Felizmente, boa parte dessa dimensão perdida está sendo redescoberta por jovens sedentos do sentido que só podemos acessar por meio dessa rica panóplia de sinais repletos de espiritualidade. 

Exemplos de símbolos católicos estão facilmente disponíveis em qualquer lugar: a água e o óleo do Batismo, o pão e o vinho da Eucaristia, as velas e as flores sobre o altar, o óleo usado para as unções, os anéis trocados na realização das promessas matrimoniais, as sempre verdes guirlanda de Advento e árvore de Natal, ovos de páscoa coloridos. Sempre e onde quer que floresça, a cultura cristã fica repleta de símbolos físicos de realidades celestes, sinais externos da graça e da verdade invisíveis. No coração mesmo de nosso culto estão os sete sacramentos, que são sinais perceptíveis instituídos por Deus e que têm o incrível poder de conferir a quem os recebe a graça que significam.

Consequentemente, a Igreja Católica não apenas não é inimiga do simbolismo, como ela mesma é um jardim exuberante no qual símbolos se desenvolvem com mais riqueza e variedade do que na maior parte da deslumbrante poesia da imaginação humana ou nos mais desenvolvidos ritos das religiões pagãs. Se algum dia já houve uma religião que tenha falado tanto à imaginação como ao intelecto — ou, antes, que fale ao intelecto por meio da imaginação —, com certeza esta é a fé católica. Aqueles que têm sede do sagrado, que desejam ver e escutar os sublimes mistérios do cosmos e do mundo sobrenatural, não poderiam fazer melhor escolha senão assistir a uma Missa solene em latim (a chamada forma extraordinária ou usus antiquior). Lá eles verão a Criação reunida e oferecida em sacrifício de louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, o Deus transcendente cuja Palavra criou os céus e a terra e tudo o que há neles.

Retornemos porém à alegação de que a religião é puro simbolismo. Quando alguém explica o “sentido interior” dos “símbolos externos”, ele demonstra (segundo essa perspectiva) o que o catolicismo tem em comum com outras religiões e assim refuta a alegação de que ela é o único caminho de salvação. 

Um importante defensor dessa linha argumentativa, ou ao menos alguém cujas ideias são muitas vezes apresentadas para reforçá-la, é o pioneiro da psicanálise, C. G. Jung, que desenvolveu uma escola de análise dos símbolos religiosos e dos conteúdos dos sonhos como arquétipos pré-existentes com os quais a mente humana está naturalmente equipada e por meio dos quais ela compreende a realidade — uma espécie de linguagem religiosa natural que pode ser acessada, direcionada e moldada em prol da saúde psíquica do organismo. 

algo de verdadeiro na abordagem de Jung. A linguagem religiosa é natural ao homem, no sentido de que a pessoa humana busca a Deus naturalmente; está plantado no coração de cada pessoa um desejo natural pelo conhecimento da deidade e uma atitude natural de reverência àquilo que é percebido como santo ou sagrado. Ao menos em seu estado de pureza, a consciência expressa a lei moral implantada no coração por Deus. Além disso, a saúde psicológica realmente depende da tomada de consciência a respeito dessa orientação fundamental para o divino, não apenas aceitando-a, mas cultivando-a e seguindo-a para onde ela levar; jamais aceitando meias-verdades e sempre buscando a plenitude da verdade. Qualquer coisa aquém da verdade plena é indigna do homem e será uma fonte de vazio, confusão e frustração.  

Não obstante, é necessário afirmar de modo incansável que as religiões não podem ser todas igualmente verdadeiras, nem mesmo as mais antigas e mais difundidas, pois apresentam descrições das realidades definitivas incompatíveis umas com as outras — por exemplo, a natureza de Deus, a fonte e a finalidade da vida humana, o pecado e a salvação do homem, o valor (e até a realidade) do corpo, o sentido do sofrimento e da morte e outras coisas semelhantes. Nosso coração não está em paz enquanto não descobrimos um conjunto de respostas coerentes e satisfatórias para as questões mais fundamentais e não confirmamos que outras respostas possíveis são falsas ou deficientes. Não existe uma coisa genérica chamada “religião”; existe esta ou aquela determinada religião. Nós temos de escolher uma delas.

A fé católica apresenta fatos da revelação, da vida de Jesus Cristo e de seus santos — fatos que devem ser aceitos ou rejeitados. Não é uma religião baseada em símbolos genéricos ou universais, mas em intervenções de Deus na história, específicas e decisivas, intervenções que dão às coisas não somente um significado simbólico exterior, mas um poder transformador interior. 

Semelhanças no nível simbólico (às vezes notáveis) indicam que é impossível que todas as religiões sejam completamente falsas; todas elas “selecionaram” um ou outro aspecto da realidade e expressam seus insights. A questão, então, é precisamente esta: qual religião é verdadeira, isto é, qual delas oferece a verdadeira explicação da realidade como um todo — do homem, de Deus e da relação entre eles?

Não surpreende que os símbolos dessa religião também sejam os mais verdadeiros, os mais precisos, os mais profundos e os mais abrangentes; mas isso acontece porque eles expressam algo ainda mais elementar e mais fundamental do que os símbolos, a saber: as realidades das quais os símbolos são símbolos. Em última análise, não é possível que haja símbolos suspensos sobre o nada. Deve haver uma doutrina, um ensinamento definido que os símbolos representam e preservam; deve haver, em suma, um credo.

Na modernidade, devemos lembrar às pessoas que não há, nunca houve e nunca haverá alguém que viva sem um credo. Todas as pessoas têm um credo, um sistema de crenças aceitas a partir da confiança, uma “filosofia de vida” que poderia, ao menos em teoria, ser articulada de modo proposicional. A religião é inerentemente doutrinal e moral; caso contrário, não poderá existir de modo algum. A única pergunta válida é: um homem tem um credo defensável ou um credo ridículo; uma trajetória de vida boa ou má? Os símbolos que ele toma por regra de vida são densos e profundos, ou dispersos e superficiais? 

É bom contornar a falácia racionalista segundo a qual existem pessoas sem religião, ou religiões sem doutrina. Afinal, todo homem é religioso (à sua maneira), assim como toda religião é doutrinal (à sua maneira). Só existem dois tipos de pessoa: a verdadeiramente religiosa e a supersticiosa ou idólatra. A posse e a valorização dos símbolos não desempenham o papel fundamental de distinguir uns dos outros.

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