Como será difícil, para quem tem riquezas, entrar no Reino de Deus!
Será isso verdade? Jesus o disse (cf. Mc 10, 23) aos seus Apóstolos após o encontro com o jovem rico, então deve ser verdade. Em países ricos, onde todos, mesmo os pobres, são ricos em termos históricos relativos, os cristãos tendem a pensar que Jesus não quis dizer isso realmente.
Ou que a afirmação não é realmente verdadeira, e que Jesus estava simplesmente usando uma hipérbole (como o “corta-o fora”, “arranca-o para longe de ti”), típica da pregação bíblica.
Se isso fosse verdade, e Jesus realmente estivesse falando de forma literal, um grande número de paroquianos materialmente prósperos não seria contado entre os santos do Céu.
Dois deles, cujas relíquias desfilaram pela Praça de São Pedro há algumas semanas, eram ricos. Deve ter chamado a atenção do Papa Leão XIV o fato de tanto São Pier Giorgio Frassati como São Carlo Acutis serem de famílias ricas, já que ele também mencionou na sua homilia outros jovens ricos da história. Começou com aquele que talvez tenha sido o homem mais rico da história de Israel, o Rei Salomão:
Mas justamente essa grande abundância de meios fez surgir em seu coração uma outra pergunta: “O que devo fazer para que nada disso se perca?”. E compreendeu que a única maneira de encontrar uma resposta era pedir a Deus um dom ainda maior: a sua Sabedoria, para conhecer os seus projetos e aderir fielmente a eles. Na verdade, ele percebeu que só assim tudo encontraria o seu lugar no grande desígnio do Senhor. Sim, porque o maior risco da vida é desperdiçá-la fora do projeto de Deus.
Isso resume o encontro com o jovem rico, que “foi embora triste, pois tinha muitos bens” (Mc 10, 22). Ele aparentemente já sabia que “desperdiçaria” a sua vida, recusando o chamado específico de Deus.
“Muitos jovens, ao longo dos séculos, tiveram de enfrentar esta encruzilhada na vida”, prosseguiu Leão XIV. “Pensemos em São Francisco de Assis: tal como Salomão, também ele era jovem e rico, sedento de glória e fama… Mas Jesus apareceu-lhe ao longo do caminho… E a partir daí, voltando atrás, começou a escrever uma história diferente: a maravilhosa história de santidade que todos conhecemos, despojando-se de tudo para seguir o Senhor (cf. Lc 14, 33), vivendo na pobreza.”
Leão XIV incluiu o seu próprio padroeiro, Santo Agostinho, entre os “muitos santos que também se entregaram totalmente a Ele, sem guardar nada para si mesmos”.
É necessário renunciar às riquezas materiais para ser santo? Salomão não o fez e tornou-se corrupto, embora mais tarde se tenha arrependido. Francisco e Agostinho afastaram-se das riquezas materiais, o primeiro de forma tão radical que o Papa Inocêncio III inicialmente duvidou que fosse possível viver a nova regra proposta por il Poverello.
Por outro lado, temos Abraão — com lugar de destaque no Cânon Romano como nosso “pai na fé” — que era muito rico, assim como o seu neto, Jacó, pai das doze tribos.
Pier Giorgio pertencia a uma das famílias mais proeminentes de Turim. O seu pai, Alfredo, pouco religioso como a sua mãe, era senador e embaixador, além de ter fundado e dirigido o importante jornal La Stampa. Frassati não renunciou à sua riqueza, mas compartilhou-a com tal generosidade, como recordou Leão XIV na sua homilia, “que ao vê-lo circular pelas ruas de Turim com carrinhos cheios de ajuda para os pobres, os amigos o rebatizaram de ‘Empresa de Transportes Frassati’!”
Uma profunda vida sacramental e de oração acompanhava as obras de misericórdia corporais de Pier Giorgio. Ele era um grande amigo, até mesmo um bon vivant, de uma forma totalmente saudável.
Carlo Acutis dependeu da riqueza de sua família para se tornar um católico praticante. Se a família de Carlo não fosse rica, talvez ele não tivesse se tornado um discípulo de Cristo, nem muito menos um santo canonizado. Antes de Carlo nascer, em 1991, a sua mãe só tinha ido à Missa três vezes: para a sua primeira Comunhão, Crisma e casamento. Os seus pais negligenciaram manifestamente as promessas feitas no Batismo de Carlo, ou seja, que se esforçariam por educá-lo na fé — e é provável que nunca tenham tido a intenção de cumpri-las.
A família Acutis era rica o suficiente, no entanto, para contratar funcionários domésticos em sua casa em Milão. E foi uma dessas pessoas, uma babá polonesa, Beata Sperczyńska, que apresentou Carlo a Deus, ensinou-o a rezar e respondeu às suas primeiras perguntas sobre a vida católica.
Nem Pier Giorgio nem Carlo renunciaram à riqueza, mas conseguiram seguir a Deus usando os recursos da família. Ainda é difícil, mas não impossível, como Jesus conclui a sua conversa com os Apóstolos sobre a salvação do jovem rico: “Para os homens é impossível, mas não para Deus; pois tudo é possível para Deus” (Mc 10, 27).
São João Paulo, o Grande, gostava de meditar sobre o jovem rico, dedicado como era ao cuidado pastoral dos jovens desde o início do seu sacerdócio. Uma das suas encíclicas mais importantes, Veritatis Splendor, começa com uma longa reflexão sobre o encontro de Jesus com o jovem rico.
Outro documento, menos importante, mas mais encantador, também toma o jovem rico como ponto de partida. Há quarenta anos, para celebrar o Ano Internacional da Juventude das Nações Unidas e nos primórdios das iniciativas que viriam a se tornar a Jornada Mundial da Juventude, João Paulo II dirigiu uma carta apostólica aos jovens, intitulada simplesmente “Queridos amigos” (Dilecti Amici).
O Santo Padre propôs uma ideia notável e atraente. Todos os jovens são ricos — mesmo os que vivem na miséria da Polônia comunista — porque ser jovem é, de certa forma, desfrutar de riquezas. O jovem rico tinha “bens materiais” abundantes, o que “é a situação de alguns, mas não é o mais comum”.
“Portanto [a passagem bíblica sugere] outra forma de colocar a questão: trata-se do fato de que a juventude é, em si mesma (independentemente de quaisquer bens materiais), um tesouro especial do homem, do rapaz ou da moça, e na maioria das vezes é vivida pelos jovens como um tesouro específico.” Ser jovem é ser rico!
“O período da juventude é o momento de uma descoberta particularmente intensa do ‘eu’ humano e das propriedades e capacidades a ele associadas”, observa João Paulo II. “Este é o tesouro da descoberta e, ao mesmo tempo, da organização, da escolha, da previsão e da tomada das primeiras decisões pessoais, decisões que serão importantes para o futuro.”
O restante da carta aborda a seguinte questão: o tesouro da juventude “afasta necessariamente o homem de Cristo?” Muitos dizem que sim, que os jovens simplesmente não estão interessados em questões de longo prazo, muito menos em questões existenciais ou eternas. A religião é para outra fase da vida. João Paulo II argumenta o contrário: que os ideais da juventude, a busca de sentido, são precisamente questões juvenis que encorajam a pessoa à busca de Cristo. Os santos Pier Giorgio e Carlo fizeram exatamente isso — são jovens santos e ricos para uma era de prosperidade material.

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