Pouco diz a Sagrada Escritura sobre a vida do pai nutrício de Jesus, São José, cuja solenidade é celebrada hoje pela Igreja universal. Ela limita-se a citar a sua genealogia [1], o fato de que era "justo" [2], o sonho no qual recebeu a visita de um anjo [3], a sua profissão [4] e a paternidade que ele verdadeiramente exerceu junto de Jesus [5]. Nada mais. E, se isso pode levar algumas pessoas a desprezar o valor e a virtude desse grande santo, é porque não consideraram o quanto fala alto o silêncio de uma vida oculta aos olhos dos homens, mas resplandecente diante de Deus.
É importante considerar, em primeiro lugar, a grandeza dos bens que Deus colocou nas mãos de São José, para apreciar com justeza o valor de seu escondimento. A providência quis que esse homem fosse depositário fiel da virgindade perpétua de Maria Santíssima, sua esposa; do menino Jesus, o próprio Deus feito homem; e – não fossem os dois o bastante – do segredo da encarnação do Verbo. Uma vida toda passada ao lado de Jesus e Maria e tão poucas palavras ditas a seu respeito, nenhuma palavra saída de sua boca... Como isso é possível?
O beato João Paulo II tem uma frase que se adequa de modo preciso ao silêncio de José: "O bem não faz ruído, a força do amor expressa-se na discrição tranquila do serviço quotidiano" [6]. Na mesma lógica, o grande orador francês, padre Jacques Bossuet, diz "que se pode ser grande sem esplendor, bem-aventurado sem ruído; que se pode ter a verdadeira glória sem o socorro da fama, com o único testemunho de sua consciência" [7]. De fato, escreve o Apóstolo: "Gloria nostra haec est, testimonium conscientiae nostrae – A razão da nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência..." [8].
A virtude que teve São José, desprezando as glórias humanas e escolhendo como única testemunha a palavra de Deus talhada em sua consciência, deve animar-nos a fazer o mesmo: ter em pouco caso o parecer das pessoas, para receber unicamente de Deus, "que vê o escondido" [9], a recompensa." Que os homens jamais falem de nós, contanto que Jesus Cristo fale um dia" [10].
Olhando ainda para o silêncio de São José, alguém poderia perguntar se não seria errado manter obscuro um tesouro tão precioso como Jesus, sem nada dizer sobre ele. Bossuet faz notar, com razão, uma aparente oposição entre a missão confiada aos Apóstolos e a missão confiada a José: Jesus "é revelado aos apóstolos para ser anunciado em todo o universo; é revelado a José para calar e ocultá-lo" [11]. Novamente, como isso é possível? O mesmo padre Bossuet explica essa diferença:
"Será Deus contrário a si próprio nessas vocações opostas? Não, fiéis; não credes: toda essa disparidade tem por fim ensinar aos filhos de Deus esta verdade importante, que toda a perfeição cristã está na obediência. Aquele que glorifica os apóstolos pela honra da pregação, glorifica também São José pela humildade do silêncio. Aprendemos por aí que a glória dos cristãos brilhantes não está nos empregos, e sim em fazer a vontade de Deus. Se todos não podem ter a honra de pregar Jesus Cristo, todos podem ter a honra de obedecer-lhe, e esta é a glória de São José e a grande honra do cristianismo." [12]
"Se todos não podem ter a honra de pregar Jesus Cristo, todos podem ter a honra de obedecer-lhe". Se nem todos podem ter a honra de atravessar terras e mares para anunciar o Evangelho aos quatro cantos do mundo, se nem todos receberão de Deus a coroa do martírio, todas as pessoas, sem exceção, podem obedecer a Deus e amá-Lo sobre todas as coisas: "ainda que, na Igreja, nem todos sigam pelo mesmo caminho, todos são, contudo, chamados à santidade" [13].
A santidade no escondimento é possível: eis a grande lição de São José. Como ensinou Paulo VI, ele "é a prova de que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não se necessitam 'grandes coisas', mas requerem-se somente virtudes comuns, humanas, simples e autênticas". [14]
Glorioso São José, rogai por nós!
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