Contempla os exemplos vivos dos Santos Padres nos quais resplandeceu a verdadeira perfeição da vida religiosa e verás quão pouco é e quase nada o que fazemos.

Ai! que é nossa vida comparada com a deles? 

Os santos e amigos de Cristo serviram ao Senhor “em fome e sede, em frio e nudez, em trabalhos e fadigas, em vigílias e jejuns” (2Cor 11, 27), em orações e santas meditações, em mil perseguições e opróbrios. 

Oh! quantas e quão graves tribulações padeceram os Apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens e todos os mais que quiseram seguir as pegadas de Cristo. “Odiaram as suas almas neste mundo para possuí-las na vida eterna” (Jo 12, 25).

Que vida abnegada e austera levaram os Santos Padres no ermo! Que fortes e porfiadas tentações sofreram! Quantas vezes foram atormentados pelo inimigo! Que orações contínuas e fervorosas ofereceram a Deus! Que rigorosas abstinências praticaram! Que zelo, que ardor em seu aproveitamento espiritual! Que combates ríspidos para domar as próprias paixões! Que intenção pura e reta sempre dirigida para Deus!

Santo Antão, por Francisco de Zurbarán.

De dia trabalhavam, e as noites passavam em oração; ainda durante o trabalho não interrompiam a oração mental. 

Todo o tempo empregavam utilmente; pareciam-lhes curtas as horas para tratar com Deus; com a grande doçura da contemplação esqueciam até a necessária refeição do corpo.

A todas as riquezas, dignidades, honras, amigos e parentes, renunciaram; do mundo nada queriam; apenas tomavam o necessário à vida; afligiam-se de servir ao corpo ainda nas coisas necessárias. 

No exterior faltava-lhes tudo, mas internamente eram confortados pela graça e pelas consolações divinas.

Alheios ao mundo, eram íntimos e familiares amigos de Deus. Por nada se tinham e o mundo os desprezava, mas eram queridos de Deus e preciosos a seus olhos. 

Viviam em humildade sincera, em obediência simples, em caridade e paciência; por isso, cresciam cada dia no espírito e alcançavam muita graça diante de Deus. 

São exemplo a todos os religiosos, e mais nos devem eles estimular ao progresso no bem que a multidão dos tíbios ao relaxamento. 

Oh! Como foi grande o fervor de todos os religiosos nos primeiros tempos de seus santos institutos! Que piedade na oração! Que emulação na virtude! Que vigor na disciplina! Como florescia em todos a submissão e obediência à regra do Santo Fundador! 

O que deles ainda nos fica bem atesta que foram na verdade santos e perfeitos aqueles varões que, pelejando com tanto denodo, calcaram aos pés o mundo. 

Hoje já se tem em muito o religioso que não transgride a sua regra e suporta com paciência o jugo que sobre si tomou. 

São Francisco de Assis, por Francisco de Zurbarán.

Oh! por causa da tibieza e negligência em nosso estado, tão depressa arrefecemos do primeiro fervor; lânguidos, cansados, até o viver já nos enfada! 

Praza a Deus que, tendo contemplado tantos exemplos de varões piedosos, não deixes de todo adormecer em ti o zelo de adiantar na virtude.

Reflexões. — Pondera os vários exemplos dos santos: o que não fizeram para amar a Deus e ser devotos? Vê os mártires, invencíveis em suas resoluções: que tormentos não sofreram para mantê-las? Mas, sobretudo, essas belas e jovens damas, mais brancas que o lírio em pureza, mais vermelhas que a rosa em caridade; umas, aos doze, outras, aos treze, quinze, vinte e vinte e cinco anos, sofreram mil tipos de martírios para não renunciar à sua resolução, não somente naquilo que era de sua profissão de fé, mas naquilo que era demonstração de sua devoção; umas morrendo para não perder a virgindade, outras para não deixar de servir os aflitos, consolar os atormentados e sepultar os falecidos. Ó Deus! Que constância o sexo frágil mostrou em tais situações!

Considera quantos santos confessores: com que força desprezaram o mundo! Como permaneceram invencíveis em suas resoluções! Nada os fez desistir delas; abraçaram-nas sem reservas e mantiveram-nas sem exceção. Meu Deus, o que diz Santo Agostinho de sua mãe, Santa Mônica! Com que firmeza ela perseverou na sua decisão de servir a Deus em seu casamento e na sua viuvez! E São Jerônimo, de sua cara discípula Paula; em meio a quantos obstáculos, em meio a quantas variedades de acidentes! O que não seremos capazes de fazer depois de tão excelentes patronos? Eles eram o que somos, e o faziam pelo mesmo Deus, pelas mesmas virtudes; por que não faríamos nós o mesmo em nossa condição, e segundo nossa vocação, para manter a nossa cara resolução e santa demonstração? (São Francisco de Sales, Introdução à vida devota, V, 12, I, 285). 

Oração. — Ó santos e santas de Deus, ó bem-aventurados espíritos angélicos, com cuja doçura inefável de vossa presença Deus se deleita sem cessar, rogai por mim. Eu vos saúdo e vos honro, dou graças ao Senhor que vos escolheu e cumulou com suas bênçãos. Obtende para mim, peço-vos, o perdão de minhas faltas, a graça de Deus e a perfeita união com Ele. Amém (Opusc., III, 145).

Referências

  • Tomás de Kempis, Imitação de Cristo (I, 18: “Dos exemplos dos Santos Padres”). Trad. do Pe. Leonel Franca. Dois Irmãos: Minha Biblioteca Católica, 2019, pp. 51-53.

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