Nesta sexta-feira, a seleção brasileira enfrentará mais um jogo decisivo contra a seleção da Bélgica, a fim de conseguir uma vaga na semifinal da Copa do Mundo 2018.
Em 2002, o Brasil passou apuros para vencer os chamados “diabos vermelhos”. Com um sofrido gol de Ronaldo e outro de Rivaldo, todos no segundo tempo, a seleção canarinho foi, enfim, para as próximas fases, até chegar ao pentacampeonato. Mas a Bélgica conseguiu assustar.
Para o confronto deste ano, especialistas e torcedores já traçaram algumas estratégias, e os supersticiosos já escolheram até um “amuleto” para a seleção: o russo Yury Torsky, que no último jogo do Brasil contra o México teria “azarado” os nossos adversários com um olhar “maligno”. Bobagens à parte, o fato é que o treinador Tite está bem empenhado em levar os brasileiros para o hexa e apagar de vez o fiasco dos 7 a 1 contra a Alemanha, no Mineirão, na Copa de 2014.
O futebol é mesmo uma paixão brasileira que movimenta o país inteiro. Até o comércio fecha as portas para que os funcionários — e os patrões — tenham a chance de assistir aos jogos do Brasil. Em si, o esporte não tem nada de ruim e até já serviu para ensinamentos apostólicos. Na Primeira Carta aos Coríntios, São Paulo fala das “corridas de um estádio”, onde todos correm, mas só um recebe o prêmio (9, 24). Mas, para que esse esporte não se torne apenas pão e circo, é preciso lembrar que a nossa verdadeira meta não é a taça de ouro da FIFA. Nós corremos por uma coroa incorruptível.
Além da Bélgica, o Brasil tem outros “diabos vermelhos”, muito mais perigosos, para enfrentar: o aborto, o sexo desregrado, a corrupção etc. E somente uma nação que, semelhante aos atletas, aceite fazer sacrifícios pela vitória poderá conquistar o tesouro que a traça não corrói. Há, portanto, uma única e verdadeira estratégia para o Brasil vencer esta “Copa” de nossas vidas: a busca da santidade! E essa busca pode ser compreendida através da própria dinâmica dos esportes, como bem demonstrou São Paulo. Vejamos algumas lições.
O técnico ou o diretor espiritual
Um dos requisitos básicos para o bom desempenho de um time esportivo é a escolha de um bom técnico ou preparador físico. As grandes vitórias das seleções brasileiras, por exemplo, dependeram inegavelmente da tática e da sabedoria de técnicos que, conhecendo os pontos fracos e fortes tanto dos jogadores como dos adversários, elaboraram a melhor e mais eficaz estratégia para vencer.
O técnico é uma espécie de mentor: ele dirige seus discípulos com conselhos, exortações e incentivos, tornando-os capazes de grandes conquistas, até das mais improváveis. Prova disso encontra-se no papel de Tite, atual técnico do Brasil, para a conquista do mais desejado troféu do Corinthians, em 2012: a taça da Libertadores da América.
Na corrida espiritual, por sua vez, a orientação de um bom “treinador” também é imprescindível. São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei, falava assim em seu Caminho: “Diretor. — Precisas dele. — Para te entregares, para te dares…, obedecendo. — E Diretor que conheça o teu apostolado, que saiba o que Deus quer” (n. 62). Com a mesma ênfase São Francisco de Sales fazia esta importante advertência: “Se tens uma vontade sincera de entrar nas veredas da devoção, procura um guia sábio e prático que te conduza” (Introdução à vida devota, cap. 4).
A direção espiritual é uma forma de o cristão praticar as virtudes da obediência e da sinceridade, sem as quais ninguém consegue acessar a própria alma e, por conseguinte, vencer os próprios defeitos. Obedecendo às orientações de um bom diretor, os cristãos fazem como os grandes campeões que, não confiando apenas nos próprios talentos, mas também nas advertências dos técnicos acerca dos inimigos, desviam-se dos golpes rivais e conquistam os pontos necessários para a vitória.
O espírito de equipe
Uma boa seleção trabalha em equipe. A fraternidade desperta os ânimos à sua volta e motiva todos a buscarem o mesmo ideal. Exemplo disso vimos no jogo entre Espanha e Rússia, pelas oitavas de final desta última Copa. Os russos, evidentemente inferiores no futebol, souberam jogar de igual para igual contra os espanhóis, aguentando juntos a pressão dos adversários. Apoiados pela forte torcida, os donos da casa conseguiram sustentar o placar e vencer a partida nos pênaltis, para desespero da grande Espanha.
Influência semelhante exercem os cristãos no ambiente em que vivem. Cheios de alegria e vibração pela vida adquirida na intimidade diária com Cristo, as almas piedosas animam os espíritos abatidos pelo pecado e pelo sofrimento do mundo.
Mais ainda: “A beleza e o júbilo que transparecem em seus semblantes”, nota São Francisco de Sales, “nos ensinam com que tranquilidade devemos encarar os incidentes da vida; sua cabeça, suas mãos e pés descobertos dão-nos a refletir que nenhum outro motivo devemos ter em nossas intenções e ações além de agradar a Deus” (Introdução à vida devota, 2). A vida e o testemunho dos santos, mais do que suas palavras, são o instrumento mais poderoso de que Deus se serve para inflamar os corações dos homens.
O treino
A rotina de exercícios e preparação está para o esporte como a oração e as mortificações estão para a vida interior. A fidelidade dos atletas aos treinos está intimamente relacionada à sua performance em campo. Quem não tem um preparo físico e emocional adequado não aguenta a pressão das disputas.
Mutatis mutandis, o cristão preguiçoso não pode se queixar se a sua vida interior é um completo deserto, uma coisa sem sal, e frequentemente marcada por pecados mortais. Trata-se de uma consequência óbvia do modo como ele trata as coisas de Deus e do mundo. Um cristão sem piedade é um freguês do diabo. É 7 a 1 na certa.
Em seu Caminho de Perfeição, Santa Teresa d’Ávila adverte claramente sobre a purificação da alma — exercida, entre outras coisas, pela luta contra os pecados mortais — como condição inegociável à santidade. Sem o desapego do mundo — as riquezas, o sexo, as pessoas, a vontade etc. — ninguém pode alcançar a perfeição. E isso não é algo absurdo, como podem pensar alguns.
Notem que, para a Copa do Mundo de 2002, quando o Brasil conquistou o pentacampeonato, o então técnico Felipão foi taxativo ao recomendar a abstinência sexual aos jogadores durante a concentração dos jogos. Quem não consegue ter controle sobre a própria sexualidade “não é um ser humano, mas um animal irracional”, declarou o técnico. É claro que a castidade simplesmente por fins esportivos não é propriamente uma coisa virtuosa, mas se até os atletas se impõem a abstinência por um prêmio qualquer, por que os cristãos não podem viver a castidade pela salvação eterna?
Como no karatê, por exemplo, que requer uma alta disciplina, atenção e proatividade nos exercícios, a vida interior deve ser adequadamente preparada, com ambiente e hora marcada para o diálogo com Deus. Caso contrário, toda tentativa de aproximar-se do sagrado será minada pelas distrações e outras artimanhas do inimigo.
O bom combate
A heroicidade de um atleta nos esportes é reconhecida, como dito anteriormente, pela sua motivação, ainda que, ao final de tudo, ele esteja arrebentado pelo cansaço e humilhado pelo choro de uma aparente derrota. Quem se dedica com devoção vence mesmo perdendo.
É assim que São Paulo, mais uma vez, relaciona os esportes seculares ao maior de todos os esportes, que é a conquista da vida eterna. Imolado no altar de Deus pela salvação das almas, ele confessa toda a sua esperança sobrenatural, dizendo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (2Tm 4, 7).
Na história da Igreja, o exemplo dos mártires talvez seja o que melhor expressa essa paradoxal vitória com aparência de derrota. Consumidos pelas chamas, os cristãos cantavam alegremente para desconcerto de Nero e glória de Cristo. Foi esse impressionante testemunho de resistência e fidelidade a Deus que obteve a estima de tantas pessoas mundo afora e levou Tertuliano a declarar: “O sangue dos mártires é semente para novos cristãos”. Na derrota da morte temporal, eles ganharam forças para receber a vida eterna.
Guardadas as devidas proporções, o Brasil amargou uma derrota dramática para a Alemanha na semifinal da Copa de 2014, e isso talvez tenha servido de lição para que, neste campeonato, a nossa seleção esteja mais bem preparada para levar o hexa.
Vencemos com a cruz. Afinal, Jesus é o maior de todos os atletas e técnicos. Derrotando a morte, Ele nos abriu as portas do Céu, onde podemos receber a coroa incorruptível de que falava São Paulo. É do Senhor que ouvimos as seguintes palavras: “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 36). Ao seu lado, a medalha do primeiro lugar está garantida.
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