Antes mesmo que as Olimpíadas de 2016 tivessem início, o cardeal e arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, abençoou a tocha olímpica aos pés da estátua do Cristo Redentor. Já naquele momento, imagens de Jesus com os braços estendidos imediatamente "abraçaram" incontáveis famílias no mundo inteiro.

Nada disso tinha sido previsto nem agendado pelo Comitê Olímpico Internacional, mas mesmo assim aconteceu. Em meio ao frenesi olímpico, com todos os holofotes voltados a corpos atléticos, símbolos neopagãos e gastos suntuosos, esse foi apenas um dos muitos sinais de contradição que ainda muitos outros ostentariam no decorrer dos Jogos Olímpicos: lembranças do Salvador, da verdadeira luz que ilumina o mundo, muito mais gloriosa que qualquer fogo terreno.

Quando a seleção de rugby de Fiji, por exemplo, celebrou a conquista da medalha de ouro, as câmeras captaram e nós assistimos aos jogadores cantando um belo hino de ação de graças. Qualquer um poderia prever essa cena se acompanhasse a página do time na internet, onde é possível ler o testemunho do agora medalhista Leone Nakarawa: "Nós sabemos que estamos aqui não por nossos esforços, mas graças a Deus, e é tudo plano de Deus que estejamos aqui". Os atletas fijianos são assumidamente cristãos e revelam ser Deus a motivação última de eles jogarem.

Depois de esperarem ansiosamente a corrida de Usain Bolt nos 100 metros rasos, independentemente de serem ateus, muçulmanos ou hinduístas, todos tiveram de assistir ao corredor fazendo o sinal da cruz antes de assumir a sua posição na largada. O jamaicano entrou para a história dos Jogos Olímpicos como o primeiro atleta a ganhar por três vezes consecutivas o título de "homem mais rápido do mundo", com uma velocidade de 9,81 segundos.

A corredora etíope Meseret Defar, depois de vencer os 5 mil metros nos Jogos de Londres, trouxe nas mãos uma imagem da Virgem do Perpétuo Socorro.

Mas Bolt não só faz o sinal da cruz, como sempre leva no pescoço a catolicíssima Medalha Milagrosa, fazendo uma oração no silêncio antes de qualquer prova em que venha a competir. Novamente às claras, sem medo, o atleta revela com orgulho o seu nome do meio: Usain St. Leo Bolt, uma singela homenagem ao papa e santo católico Leão Magno. Sua postura faz lembrar a da corredora etíope Meseret Defar, que, depois de vencer os 5.000 metros nos Jogos de Londres, trouxe nas mãos uma imagem da Virgem do Perpétuo Socorro, exibindo-a ao mundo inteiro. A etíope tinha carregado aquele ícone mariano por toda a corrida.

Talvez a mais dramática das histórias de superação deste ano seja a de Simone Biles, a garota de 19 anos que fez a sua primeira aparição nas Olimpíadas do Rio. Nascida em Ohio, de pais com problemas de dependência química, Simone viu o pai abandonar a família quando ela era ainda pequena e, com os seus irmãos, a menina alternava entre a casa materna e um lar adotivo. O grande ponto de virada em sua vida veio não com a conquista recente de 5 medalhas olímpicas, as quais ela obteve com uma performance impecável na ginástica. Muito antes disso, foram seus avós católicos, Nellie e Ron Biles, que deram à jovem a chance de desenvolver seu talento e dominar a ginástica olímpica. Eles transmitiram a fé católica a Simone e a sua irmã, praticando com elas o homeschooling.

Para se ter uma ideia da influência que tem a religião em sua vida, a ginasta revela que viaja com uma imagem de São Sebastião, o santo padroeiro dos esportistas, além de carregar sempre consigo um Rosário que ganhou de sua mãe biológica. Simone também recita uma Ave-Maria antes de suas apresentações e não tem vergonha de dizer publicamente que tem fé, ainda que muitos na mídia secular tentem abafar o seu testemunho.

Katie Ledecky e as medalhas que conquistou nas Olimpíadas do Rio.

Ouvi pela primeira vez o nome de Katie Ledecky durante essas Olimpíadas e, como o resto do mundo, impressionei-me com a nadadora que parecia entrar na água como uma flecha, mantendo uma larga distância à frente de suas adversárias. Passei a me perguntar, então, de onde vinha a sua aparente simplicidade e equilíbrio, especialmente quando subia ao pódio. Foi quando descobri uma entrevista recente da nadadora ao site Catholic Standard, na qual ela revela algo muito bonito de sua vida interior: "Minha fé católica é muito importante para mim. Sempre foi e sempre será. É parte de quem eu sou e me traz um grande conforto. É algo que me ajuda a pôr as coisas em perspectiva."

Na mesma entrevista, a nadadora presta tributo à "educação excelente e cheia de fé que recebeu" nas escolas católicas que frequentou, além de confessar que também reza uma Ave-Maria antes de entrar na piscina. No Rio, ela ganhou 4 medalhas de ouro e 1 de prata.

Ledecky sempre admirou o fenômeno Michael Phelps, cujas atuações lhe renderam, em vários estilos da natação, a impressionante cifra de 23 medalhas de ouro em 5 Jogos Olímpicos. A revista Time anunciou que "o domínio de Michael Phelps tem sido a história reinante das Olimpíadas de 2016 no Rio".

Só que existe ainda uma outra história por trás desta.

O atleta norte-americano, assim como muitos outros esportistas, já teve uma amarga experiência com as drogas e terminou preso em 2014. Deprimido, vendo sua carreira chegar ao fim e sua vida arruinada, Phelps chegou a considerar a possibilidade do suicídio. Aqui entra a força escondida do alto: para recomeçar, o nadador contou com a ajuda de Ray Lewis, o lendário jogador de futebol americano, que também é cristão devoto. Graças à intervenção do amigo e à reabilitação, Phelps assumiu a sua fé em Deus e as rédeas de sua família.

Este ano, no Rio de Janeiro, ele encerrou a sua participação em Olimpíadas com grande estilo, consolidando o posto de maior medalhista da história.

Considerando que os Jogos Olímpicos no Rio não foram apenas sobre "ganhar medalhas", mas também "dar o melhor de si", é interessante que algumas estrelas queiram ainda, não obstante suas conquistas no esporte, oferecer publicamente um testemunho espiritual. Alguém até poderia esperar isso de um país católico, como a Polônia, onde recentemente, antes de um jogo de futebol, os torcedores estenderam um pôster em defesa do cristianismo e contra o Islã. Ver todavia símbolos de fé sendo usados nos Jogos Olímpicos, um festival de acentos tradicionalmente pagãos, é um forte sinal de contradição, especialmente para a mídia secular, obrigada a filmar essas manifestações, ainda que a contragosto.

As orações e os sinais cristãos desses atletas constituem um autêntico testemunho em defesa do cristianismo. Acima de qualquer conquista meramente humana, esses homens e mulheres falaram de Deus de maneira simples e descomplicada, para os quatro cantos do mundo.

O que achou desse conteúdo?

0
0
Mais recentes
Mais antigos