O placar marcava 19 a 18 para a seleção feminina de vôlei da Rússia. Se fizessem aquele último ponto do quinto set, as russas mandariam as brasileiras para casa mais cedo, e seguiriam para a semifinal dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, depois de seis match points. Mas, do outro lado da quadra, havia Jaqueline Endres, a então ponteira da seleção brasileira.
Jaqueline defendeu uma das bolas mais improváveis da partida contra a Rússia, garantindo a sobrevivência do Brasil na competição. Na final contra os Estados Unidos, a atleta foi a maior pontuadora do jogo que daria às brasileiras o bicampeonato olímpico.
Em 2013, Jaqueline decidiu realizar o sonho natural de ser mãe. A escolha, porém, acabou lhe custando uma vaga nos clubes da Superliga, a principal competição de voleibol no país. Após o período de gravidez, Jaque não conseguiu retornar ao esporte porque a maior parte dos clubes já havia montado suas equipes, segundo as exigências da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV).
A CBV confere uma pontuação para cada atleta, e os clubes só podem ter duas jogadoras com pontuação máxima. Jaque valia sete pontos, o mais alto do ranking.
Jaqueline Endres joga atualmente pelo Hinode Barueri. No período em que ficou fora das quadras, porém, alguns comentários nas redes sociais diziam: “É só aceitar o salário de um trabalhador comum e não se achar uma ‘celebridade’ que o patrocinador aparece”. Outras estrelas do voleibol brasileiro como Tandara Caixeta, Camila Brait, Karina Guerra e Dani Lins também não tiveram seus contratos renovados durante a gestação.
Para não se aposentarem antes da hora, as atletas se veem obrigadas a assinar contratos com clubes de outros países. “Os clubes poderiam se preocupar um pouco mais com a gente. Essa questão humana de querer ser mãe e fazer contratos com cláusulas assim, para poder dar uma garantia também para as atletas”, desabafou Dani Lins na época.
Não bastasse toda essa confusão no voleibol feminino, eis que surge Rodrigo de Abreu, um homem de 1,94m de altura e jogador de vôlei que, há cinco anos, passou a se chamar Tiffany.
Como diria a feminista Simone de Beauvoir, Rodrigo não nasceu mulher, tornou-se uma. Em 2013, o jovem iniciou um tratamento hormonal para mudança de sexo, inspirado pela personagem Ramona, interpretada por Cláudia Raia na novela global As filhas da mãe. A transição diminuiu a testosterona de seu corpo até um nível aceitável pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB) e pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para que pudesse jogar pela Superliga feminina.
Na sua estreia pelo Bauru, em dezembro de 2017, Tiffany marcou arrasadores 15 pontos, número que só aumentaria nas partidas seguintes, fazendo dela a maior pontuadora da Superliga, à frente até de Tandara, a oposta da seleção brasileira. O treinador da seleção, José Roberto Guimarães, já avisou: “Eu acho que, se ela foi elegível pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB, na sigla em inglês), pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), ela é elegível para jogar em qualquer lugar, até na seleção”.
Tiffany “não está fazendo nada de errado”, como disse em uma entrevista, pois atua dentro de uma regra criada pelo COI e pela CBV. Ela, na verdade, é apenas mais uma vítima nessa história, e sua presença na Superliga feminina acende o debate sobre a politização do esporte “em nome de uma agenda ideológica que”, como criticou a ex-jogadora Ana Paula Henkel, “humilha e inferioriza as mulheres”.
O Comitê Olímpico e a Confederação Brasileira de Vôlei, que fazem todo tipo de exigências às mulheres para não serem pegas no teste anti-doping, devem explicar por que um atleta que cresceu com uma musculatura masculina pode atuar livremente entre as mulheres, enquanto estas mal podem engravidar sem correrem o risco de perder a vaga no time.
De fato, Tiffany não tem mais os níveis de testosterona que apresentava antes da transição, mas também não engravida nem sofre com ciclo menstrual. Além disso, tem altura, força e decisão. Para os clubes da Superliga, contratar atletas assim será um negócio muito mais lucrativo do que gastar com medalhões como Jaqueline, Dani Lins e Camila Brait que, apesar de grandes jogadoras, são caras e têm o “péssimo hábito” de engravidar.
A ideologia que começou com discussões sobre banheiros públicos agora invade os esportes e coloca contra a parede justo as mulheres, aquelas que, para as feministas, seriam as grandes privilegiadas com a ascensão da teoria de gênero. Aliás, nenhuma feminista abriu o bico sobre esse caso até agora.
Sheilla Castro, uma das heroínas do bicampeonato olímpico da seleção, também se posicionou contra a participação de Tiffany no vôlei feminino. Foi o suficiente para que a grande jogadora passasse de ídolo do voleibol brasileiro para preconceituosa e homofóbica. Os jornais a acusaram de gerar um “mal-estar”.
Sheilla também é uma das vítimas do ranking da CBV, que limita a participação de jogadoras da seleção nos clubes. Em 2017, a atleta declarou: “Somos punidas por sermos as melhores”. Enquanto Tiffany se destaca no Bauru, Sheilla segue sem clube.
Essa discussão, entendam, não tem nada a ver com preconceito. Existem vários homossexuais esportistas, e isso nunca foi um problema. Estamos falando, ao contrário, de uma politização flagrante que, para atender aos desejos de uma militância e ao discurso politicamente correto, desconsidera a biologia e coloca, sim, um homem para substituir e jogar contra mulheres.
A vida particular de Tiffany não está em discussão. Mas, ao mesmo tempo, não somos obrigados a fechar os olhos para uma realidade tão gritante. O órgão que a liberou para jogar entre mulheres — sem sequer exigir a cirurgia para mudança de sexo — é o mesmo que, em 2016, barrou a participação da atleta Dutee Chand nas Olimpíadas do Rio porque, segundo os especialistas, ela produziria testosterona demais. Dutee teve de provar na justiça que é mulher.
Até quando as pessoas vão se iludir? Estamos assistindo à substituição de mulheres por homens nos esportes. O que precisará acontecer de mais grave para que entendam, de uma vez por todas, que a ideologia de gênero não pretende defender minorias, mas provocar um caos irremediável na sociedade? Fatos como esse só comprovam o que há anos estamos dizendo: quando ideologias pretendem substituir a lei natural, não há benefício algum para a sociedade, muito menos para as ditas minorias. E as meninas do vôlei estão sentindo isso na pele.
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