O esporte é, sem dúvida, uma das atividades humanas com maior poder atrativo. Basta ver o empenho com que atletas se dedicam à conquista de uma medalha ou troféu para ter ideia da influência que essas grandes competições exercem sobre as pessoas, sejam homens ou mulheres, jovens ou adultos, crianças ou idosos. Dada a série de exercícios e de trabalhos de autossuperação que os esportes exigem, o desempenho de um atleta pode representar o mais alto nível de heroicidade.

A seleção brasileira masculina de vôlei experimentou uma enorme pressão no último sábado, dia 8 de julho, quando, lutando por sua décima vitória na Liga Mundial de Vôlei, acabou vendo seu sonho frustrado pela imbatível França e seus carrascos Boyer e Ngapeth, o qual sozinho marcou inacreditáveis 28 pontos. Nem os saques do central Lucão e as cortadas do oposto Wallace impediram a derrota do Brasil.

Apesar disso, os 23 mil torcedores na Arena da Baixada, em Curitiba-PR, não deixaram de louvar os guerreiros da seleção brasileira, cujos esforços para vencer a disputa mantiveram-se vivos até o último ponto do quinto set. A França levou a medalha por sofridos 3 sets a 2.

O mesmo não se viu há exatos três anos durante a Copa do Mundo de 2014. A tragédia dos 7 a 1 em pleno Maracanã caiu tão mal, que foram necessárias a entrada de Tite — o então bem-sucedido técnico do Corinthians — e a conquista do ouro olímpico — em nova partida contra a Alemanha, em 2016 —, para que a seleção brasileira de futebol recuperasse sua credibilidade perante o público. Ainda hoje, no entanto, existe quem torça o nariz e faça piadas com o vexame brasileiro contra os alemães naquele fatídico 8 de julho.

Todo esse misto de glórias e decepções presente no mundo esportivo é, de fato, bastante inspirador, e pode servir de modelo para quem deseja empreender um combate decisivo contra o pecado e a favor da santidade. São Paulo mesmo viu esse paralelo entre a vida interior e as competições esportivas. Na sua Primeira Carta aos Coríntios, o apóstolo dos gentios fala das "corridas de um estádio", onde todos correm, mas só um recebe o prêmio (9, 24). Assim como "os atletas se impõem a si muitas privações" por uma coroa corruptível, explica São Paulo, também os cristãos devem correr e dar golpes no rumo certo, a fim de alcançarem uma coroa incorruptível, castigando o próprio corpo e mantendo-o em servidão (9, 25). Em resumo, os fãs do esporte podem aplicar todo o entusiasmo que sentem em um "esporte" ainda mais importante e desafiador, que é a conquista do Céu.

O técnico ou o diretor espiritual

Um dos requisitos mais importantes para o bom desempenho de um time esportivo é a escolha de um bom preparador físico ou técnico. As grandes vitórias das seleções brasileiras, por exemplo, dependeram inegavelmente da tática e da sabedoria de seus técnicos que, conhecendo os pontos fracos e fortes tanto de seus jogadores como de seus adversários, elaboraram a melhor e mais eficaz estratégia para vencer. O técnico é uma espécie de mentor: ele dirige seus discípulos com conselhos, exortações e incentivos, tornando-os capazes de grandes conquistas, até das mais improváveis. Prova disso encontra-se no papel do técnico Tite para a conquista do mais desejado troféu do Corinthians: a taça da Libertadores da América, em 2012.

Técnico Tite, hoje na Seleção Brasileira, ostentando a Taça do torneio Libertadores da América.

Na corrida espiritual, por sua vez, a orientação de um bom "treinador" também é imprescindível. São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei, falava assim em seu Caminho: "Diretor. — Precisas dele. — Para te entregares, para te dares..., obedecendo. — E Diretor que conheça o teu apostolado, que saiba o que Deus quer" (n. 62). Com a mesma ênfase São Francisco de Sales fazia esta importante advertência: "Se tens uma vontade sincera de entrar nas veredas da devoção, procura um guia sábio e prático que te conduza" (Introdução à vida devota, cap. 4).

Foi a paternal direção de São João Bosco a causa eficiente do coração puro de São Domingos Sávio. Não menos importante foram os conselhos de um confessor a Santa Faustina Kowalska, pelo que a apóstola da Divina Misericórdia pôde seguramente discernir as revelações de Cristo. De fato, a necessidade de um diretor espiritual para o progresso na santidade é tamanha, que Santa Teresa d'Ávila passou longos anos à procura de quem pudesse dirigi-la com autêntica piedade e sabedoria.

A direção espiritual é uma forma de o cristão praticar as virtudes da obediência e da sinceridade, sem as quais ninguém consegue acessar a própria alma e, por conseguinte, vencer os próprios defeitos. Obedecendo às orientações de seu diretor, os cristãos fazem como os grandes campeões que, não confiando apenas em seus próprios talentos, mas também nas advertências de seus técnicos acerca dos inimigos, desviam-se dos golpes rivais e conquistam os pontos necessários para a vitória.

O espírito de liderança

O bom atleta é naturalmente um bom líder. Com sua vibração e entusiasmo, ele desperta os ânimos à sua volta e os motiva a buscarem o mesmo ideal. Quem assistiu à épica batalha entre Brasil e Rússia nas quartas de finais do vôlei feminino, nas Olimpíadas de Londres (2012), entende bem isso. A atuação da oposta Sheilla Castro no quinto set da partida, derrubando cada um dos seis match points das adversárias, foi algo tão inacreditável, que suas companheiras de seleção simplesmente ressurgiram das cinzas, por assim dizer, e ajudaram-na a vencer não apenas aquele jogo decisivo, mas também os demais desafios até o fim da competição. A equipe que havia chegado a Londres desacreditada acabou levando para casa o bicampeonato olímpico, quase como um milagre.

Seleção feminina de vôlei, depois de ganhar o ouro nas Olimpíadas de Londres, em 2012.

Influência semelhante exerce a alma piedosa no ambiente em que vive. Cheia de alegria e vibração pela vida adquirida na intimidade diária com Cristo, a alma piedosa é uma verdadeira injeção de ânimo para os espíritos abatidos pelo pecado e pelo sofrimento do mundo. Mais ainda: "A beleza e o júbilo que transparecem em seus semblantes", nota São Francisco de Sales, "nos ensinam com que tranquilidade devemos encarar os incidentes da vida; sua cabeça, suas mãos e pés descobertos dão-nos a refletir que nenhum outro motivo devemos ter em nossas intenções e ações além de agradar a Deus" ( Introdução à vida devota, cap 2). A vida e o testemunho dos santos, mais do que suas palavras, é o instrumento mais poderoso de que Deus se serve para inflamar os corações dos homens.

O treino

A rotina de exercícios e preparação está para o esporte como a oração e as mortificações estão para a vida interior. A fidelidade dos atletas aos treinos está intimamente relacionada à sua performance em campo. Quem não tem um preparo físico e emocional adequado não aguenta a pressão das disputas. Mutatis mutandis, o cristão preguiçoso não pode se queixar se sua vida interior é um completo deserto, uma coisa sem sal, e frequentemente marcada por pecados mortais. Trata-se de uma consequência óbvia do modo como ele trata as coisas de Deus e do mundo. Um cristão sem piedade é um freguês do diabo. É 7 a 1 na certa.

Em seu Caminho de Perfeição, Santa Teresa d'Ávila adverte claramente sobre a purificação da alma — exercida, entre outras coisas, pela luta contra os pecados mortais — como condição inegociável à santidade. Sem o desapego do mundo — as riquezas, o sexo, as pessoas, a vontade etc — ninguém pode alcançar a perfeição. E isso não é algo absurdo, como podem pensar alguns. Notem que, para a Copa do Mundo de 2002, quando o Brasil conquistou seu pentacampeonato, o então técnico Felipão foi taxativo ao recomendar a abstinência sexual aos seus jogadores durante a concentração dos jogos. Quem não consegue ter controle sobre sua própria sexualidade "não é um ser humano, mas um animal irracional", declarou o técnico.

Como no Karatê, por exemplo, que requer uma alta disciplina, atenção e proatividade nos exercícios, a vida interior deve ser adequadamente preparada, com ambiente e hora marcada para o diálogo com Deus. Caso contrário, toda tentativa de aproximar-se do sagrado será minada pelas distrações e outras artimanhas do inimigo.

O bom combate

A heroicidade de um atleta nos esportes é reconhecida, como dito anteriormente, pela sua motivação, ainda que, ao final de tudo, ele esteja arrebentado pelo cansaço e humilhado pelo choro de uma aparente derrota. Quem se dedica com devoção, na verdade, vence mesmo perdendo. É assim que São Paulo, mais uma vez, relaciona os esportes seculares ao maior de todos os esportes, que é a conquista da vida eterna. Imolado no altar de Deus pela salvação das almas, ele confessa toda sua esperança sobrenatural, dizendo: "Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé" (2 Tm 4, 7).

Na história da Igreja, o exemplo dos mártires talvez seja o que melhor expressa essa paradoxal vitória com aparência de derrota. Consumidos pelas chamas, os cristãos cantavam alegremente para desconcerto de Nero e glória de Cristo. Foi esse impressionante testemunho de resistência e fidelidade a Deus que obteve a estima de tantas pessoas mundo afora e levou Tertuliano a declarar: "O sangue dos mártires é semente para novos cristãos".

A sensação que o Brasil experimentou na semifinal da Copa de 2014, por outro lado, expressa bem o vexame dos apóstatas. Os cristãos que não se preparam para o combate espiritual, além de amargarem uma derrota acachapante para o diabo, têm de suportar o escárnio da plateia, isto é, o desprezo do mundo pagão.

Jesus é o maior de todos os atletas e técnicos. Vencendo a morte, Ele nos abriu as portas do Céu, onde podemos receber a coroa incorruptível de que falava São Paulo. É do Senhor que ouvimos as seguintes palavras: "No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo." ( Jo 16, 36) Ao seu lado, a medalha de ouro está garantida.

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