4 de julho de 1776 é a data em que 13 colônias da América, chefiadas por homens dispostos a perder suas vidas, suas fortunas e sua sagrada honra, puseram fim à tirania de uma coroa corrupta e puderam dar um grito de liberdade e autonomia. A Independência dos Estados Unidos foi conquistada graças a esforços corajosos e viris, o que torna esse feriado americano algo emblemático não somente para os filhos do Tio Sam, mas também para todo o Ocidente — este cada vez mais calejado por causa da febre de pusilanimidade que invadiu a sua cultura.

É questionável se, nos dias de hoje, aqueles homens que assinaram a Declaração de Independência Americana — empenhando, para isso, seus bens mais preciosos — teriam a mesma coragem de lutar e sacrificar-se por um mesmo ideal. A completa ausência de personalidades viris na sociedade contemporânea é um fenômeno espantoso. A ojeriza contra virtudes como força e coragem impregnou-se tanto nos espíritos, que se tornou quase um pecado portar-se de maneira mais masculina. A própria opinião pública faz pressão sobre os jovens para que vivam mais o seu "lado feminino". E o resultado disso se reflete não somente no seu vestuário — cada vez mais fresco —, mas também — e mais gravemente — na sua maneira de lidar com conflitos e decisões sérias.

Vejam, por exemplo, o comportamento dos líderes políticos. Com raríssimas exceções, é praticamente impossível encontrar um que inspire segurança e paternidade. Ao contrário, a esmagadora maioria deles parece mais preocupada com a estética diante das câmeras, com o discurso ambíguo e a imagem de bom mocinho, do que com tomadas de decisões objetivas, ainda que estas venham a desagradar a algum grupo.

É claro que todo esse afrouxamento de caráter não se desenvolveu espontaneamente. Tratou-se de um grave equívoco filosófico e teológico, de cujos resultados muitos grupos sedentos por poder têm se aproveitado.

Em sua Análise sobre o homem, o psicólogo Erich Fromm explica que, no século XVIII, a filosofia de Immanuel Kant desenvolveu uma espécie de "consciência culpada". Esse filósofo alemão, piedoso e escrupuloso que era, retirou a moralidade da ordem do amor para colocá-la na ordem da justiça. E, nessa visão, toda ação humana deve ser absolutamente desinteressada; a moral torna-se um "imperativo categórico", ou seja, um dever social que está acima de qualquer direito: mesmo sob uma ditadura, nenhuma pessoa pode reivindicar algo para si. O que Kant conseguiu produzir, por conseguinte, foi "a mais glacial atmosfera ética jamais proposta ao homem" [2].

Notem: o que rege a coragem de um homem para defender sua vida e a de sua família é o amor e a ordem com que ele ama essas mesmas coisas. Mas Kant condenou o amor, chamando-o de interesseiro. Para ele, os homens devem defender suas famílias não porque as amam, mas porque é seu dever. O homem que defende sua família por amor é entendido pela filosofia kantiana como alguém egoísta. Enfim, Kant separou as virtudes da caridade e da fortaleza. E, como dizia Chesterton, as virtudes separadas umas das outras ficam loucas. Sem o motor do amor, na verdade, todas as demais virtudes, como a fortaleza e a justiça, perdem o seu elã e a covardia toma conta do espaço.

Em sua análise, Fromm adverte que essa condenação do amor em nome do puro dever foi assumida pela cultura ocidental, de modo que as pessoas facilmente deixaram de lutar para se submeterem a uma falsa autoridade superior:

"Não seja egoísta" é uma frase que foi usada para impressionar milhões de crianças, em gerações sucessivas. Seu significado é um tanto impreciso; a maioria das pessoas diria que não se deve ser egoísta, sem consideração ou preocupação com os outros. Na verdade, geralmente quer dizer mais do que isso. Não ser egoísta implica não se fazer o que se quer, desistir de suas próprias vontades em benefício dos que detêm autoridade. "Não seja egoísta", em última análise, tem a mesma ambiguidade que tem no calvinismo. Além de seu sentido óbvio, quer dizer "não ame a si mesmo", mas submeta-se a algo mais importante do que você, a um poder exterior ou à sua interiorização, o "dever". "Não seja egoísta" transforma-se em uma das mais poderosas ferramentas para suprimir a espontaneidade e o livre desenvolvimento da personalidade. Sob a pressão desse slogan, pede-se à gente todo sacrifício e submissão completa. [3]

Não há como ler essas linhas terríveis do psicólogo judeu sem pensar nos efeitos trágicos que essa propaganda demagoga teria causado àquelas 13 colônias americanas, caso seus homens tivessem sido contaminados por tal servilismo. Ao contrário, é porque eles nutriam um sadio amor de si mesmo que puderam defender seus compatriotas da opressão estrangeira. A cultura contemporânea, por outro lado, criou homens passivos e incapazes de qualquer reação viril, porque suas personalidades foram tomadas pelo "amolecimento", pela "docilidade sem virtude", pela "mansidão sem brio", pela "resignação sem mérito" [4]. Em poucas palavras: eles deixaram de ser homens.

A Independência dos Estados Unidos é, sem dúvida, uma lição de virilidade para o nosso tempo. Os Founding Fathers, sim, amaram verdadeiramente ao próximo quando, primeiramente, amaram o "Juiz Supremo" e a "Divina Providência", amaram suas famílias, a natureza humana e seus direitos inalienáveis, e por tudo isso empenharam suas vidas. A medida do amor ao próximo é, afinal, o amor de si mesmo: "Amarás o próximo como a ti mesmo" (Mc 12, 31). Os "pais fundadores" deste tolerante Ocidente, por sua vez, não amam nem o Juiz Supremo, nem suas famílias, nem a natureza humana e seus direitos inalienáveis. Exatamente por essa razão ele se encontra prostrado diante da ameaça terrorista e de tantos outros projetos megalomaníacos de poder global.

"Sê enérgico. — Sê viril. — Sê homem. — E depois... sê anjo" [5]. Talvez nunca esse conselho de São Josemaria Escrivá tenha valido tanto como nos dias de hoje.

Referências

  1. Erich Fromm, Análise do homem, 13. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983, p. 107-115.
  2. Gustavo Corção, Dois amores e duas cidades, Rio de Janeiro: Agir, 1967, v. 2, p. 86.
  3. Erich Fromm, op. cit., p. 113-114.
  4. Gustavo Corção, op. cit., p. 87.
  5. Caminho, n. 22.

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