Há quem tenha visitado Loreto e não tenha visto com os próprios olhos e ouvido com os próprios ouvidos os feitos poderosos de Deus, e não os tenha sentido em sua alma [1]?

A mais santa das casas do mundo está na Itália. 

Você leu certo. Ela costumava ficar na Terra Santa, mas “mudou-se”.

A casa de Jesus, Maria e José encontra-se na cidade de Loreto, Itália. Como ela chegou lá? Bem, o que você está prestes a ler é a história real de como a casa da Sagrada Família em Nazaré foi transportada para a Itália por anjos. A história é tão fascinante que, muito provavelmente, você vai ficar com vontade de ir a Loreto depois de lê-la.

De acordo com os historiadores, o lar da Sagrada Família permaneceu em Nazaré por treze séculos. Então, no dia 10 de maio de 1291, de repente, ele desapareceu! Tudo o que permaneceu dela foi a fundação. A desaparição repentina da casa foi notada por todos em Nazaré, deixando a comunidade absolutamente perplexa. Que uma pessoa, ou um grupo de pessoas, a removesse tão rápido, sem que ninguém notasse, era algo impossível de acontecer.

De acordo com a tradição, a Santa Casa foi transportada de Nazaré por anjos. Nos relatos de suas experiências místicas, a Beata Ana Catarina Emmerich falou da transladação da casa pelos anjos. Ela afirma:

Tenho testemunhado com frequência, em visão, o translado da Santa Casa de Loreto. Por muito tempo não pude acreditar no que via, mas continuei a ter visões do fato. Vi a Santa Casa ser transportada sobre o mar por sete anjos. Ela não tinha fundação, mas havia sob ela uma superfície brilhante de luz. Em cada um dos lados, havia uma espécie de alça. Três anjos a carregavam de um lado e três do outro; o sétimo ia à frente, tendo atrás de si um extenso cortejo de luz [2].

Fascinante relato! O que a Beata Ana Catarina não viu, no entanto, foi que os anjos levaram a Santa Casa de Nazaré primeiro para a cidade de Trsat, região onde hoje se localiza a Croácia. Por que a levaram aí? Qual era o sentido de transportá-la, afinal de contas?

A Santa Casa foi transportada em 1291. A razão para seu translado por anjos, saindo de Nazaré, tornou-se clara três anos depois. Em 1294, toda a cidade de Nazaré foi saqueada por invasores muçulmanos. Se a Santa Casa houvesse permanecido em Nazaré, os muçulmanos a teriam destruído por completo. Deus anteviu o ato de sacrilégio e enviou seus santos anjos para levar a casa a outro lugar.

Ao longo dos séculos, Deus usou pessoas como S. Helena para retirar relíquias (objetos associados a Jesus, Maria e os santos) da Terra Santa e colocá-las em locais mais seguros. S. John Henry Newman visitou uma vez a Santa Casa e fez uma declaração muito perspicaz sobre sua mudança de lugar. Ele escreveu:

Aquele que fez a Arca [de Noé] flutuar nas ondas de um imenso mar e nela juntou todos os seres vivos; que ocultou o paraíso terrestre; que disse que a fé pode mover montanhas; que sustentou milhares por quarenta anos em um deserto estéril; que arrebatou Elias e o mantém inacessível até o fim dos tempos, poderia fazer esta maravilha também. E, de fato, vemos todas as outras recordações sobre Nosso Senhor e seus santos reunidas no coração da cristandade desde os confins da Terra, porquanto o paganismo tenta usurpá-las (isto é, suas relíquias). S. Agostinho saiu de Hipona; o profeta Samuel e S. Estêvão saíram de Jerusalém; o presépio em que Nosso Senhor jazia saiu de Belém com S. Jerônimo; a cruz foi desenterrada; S. Atanásio foi para Veneza. Em suma, não sinto dificuldade alguma em acreditar nisso [3].

Mas, então, por que foi primeiro para a Croácia? Por que os anjos não a levaram diretamente para a Itália? Ninguém sabe realmente a resposta. Talvez Deus quisesse abençoar a terra da Croácia com a presença da Santa Casa antes de levá-la ao seu local definitivo. Outrora, Jesus havia curado um surdo também em etapas e não imediatamente. A mudança da Santa Casa, pelos anjos, para vários lugares antes de chegar a Loreto fez com que houvesse uma multidão de testemunhas do milagroso desaparecimento e reaparecimento da casa. Em outras palavras, ao permitir Deus que a casa fosse movida várias vezes antes de colocá-la em Loreto, evidencia-se que ela não estava sendo movida pelo homem, mas pelos santos anjos de Deus.

Vejamos todos os translados milagrosos associados à Santa Casa.

Em 10 de maio de 1291, dia em que a Santa Casa desapareceu de Nazaré, as pessoas da aldeia de Trsat, na Croácia, testemunharam o súbito aparecimento de uma nova casa na aldeia. Ninguém ali sabia como isso tinha acontecido. Curiosamente, os moradores observaram que as quatro paredes da casa estavam apoiadas na terra. Ou seja, a casa não tinha fundação.

Depois de estar na Croácia por três anos, a casa desapareceu milagrosamente em 10 de dezembro de 1294. Ninguém na aldeia viu a casa sair. A única coisa que restou no local onde ela ficava foi o seu contorno na terra. Até hoje, um monumento marca o local exato em Trsat, Croácia, onde a Santa Casa esteve localizada por três anos.

Para onde foi a casa depois da Croácia? Foi levada por anjos para o outro lado do Mar Adriático até a cidade de Piceno, na Itália. Por incrível que pareça, a mesma coisa aconteceu nesta cidade: ninguém viu a casa chegar nem sabia de onde ela tinha vindo. A casa permaneceu ali por oito meses. Provavelmente, ficou em Piceno apenas oito meses porque ladrões começaram a roubar os peregrinos (muitos da Croácia) que estavam indo visitar a Santa Casa. Em agosto de 1295, a casa desapareceu novamente e reapareceu em uma colina não muito longe de Piceno. No entanto, a colina onde a casa foi colocada pertencia a dois irmãos, que passaram a brigar pela propriedade da casa. Incapazes de resolver a disputa, os irmãos começaram a explorar os peregrinos para obter lucro. A Santa Casa só permaneceu na propriedade deles por alguns meses antes de desaparecer novamente, de forma milagrosa!

Perto do fim de dezembro de 1295, a Santa Casa foi levada por anjos a poucos passos de distância do local anterior, longe o suficiente para não ser mais propriedade daqueles irmãos. Este local, conhecido como Loreto, é a localidade onde hoje se encontra a casa. (O milagre da Santa Casa transportada por anjos quatro vezes é a razão pela qual a Igreja Católica declarou Nossa Senhora de Loreto a padroeira da aviação). 

Como sabemos que tudo isso é verdade? Pois bem, em 1296, um ano após a chegada da Santa Casa a Loreto, a Igreja Católica designou 16 emissários para investigar tudo. Eles visitaram Loreto, a Croácia e Nazaré, e realizaram extensos estudos para verificar a autenticidade dos acontecimentos. Os emissários foram primeiro a Loreto. 

Exterior do Santuário da Santa Casa de Loreto.

No terreno em Loreto, fizeram medições precisas da casa, observando cada detalhe. Então viajaram para Trsat, na Croácia, para o local onde a casa havia descansado, e tiraram as medidas das marcas deixadas na terra pela casa. Em seguida, viajaram a Nazaré a fim de comparar as medidas de Loreto e Trsat com a fundação original. Incrivelmente, em todos os três lugares (Loreto, Croácia e Nazaré) as medidas eram exatamente as mesmas! Não houve nenhuma discrepância. Tudo combinou perfeitamente.

Séculos depois, cientistas realizaram uma análise química das pedras das paredes da Santa Casa de Loreto. Também foram feitos estudos químicos sobre a madeira utilizada no teto da casa. O que eles descobriram? Que as paredes da Santa Casa são feitas de pedras exclusivas da região de Nazaré, e a madeira do teto vem da mesma região! Até a argamassa usada para a casa foi identificada como material originário da Terra Santa. 

Devido ao resultado dos estudos, uma igreja maior começou a ser construída ao redor da casa para acomodar os muitos peregrinos que iam a Loreto. Além de atestar a veracidade desses eventos milagrosos, os peregrinos continuaram a viajar para Loreto, vindos de Trsat, na Croácia, todos os anos, pedindo aos céus que trouxessem a Santa Casa de volta àquele país.

Após a chegada da Santa Casa a Loreto, na Itália, em 1295, cerca de 50 papas afirmaram seu milagroso transporte por anjos, às vezes se referindo ao transporte como a “transladação” da Santa Casa. No século XV, dois papas foram milagrosamente curados na Santa Casa. No século XVI, concluiu-se uma basílica fortificada ao redor da Santa Casa para protegê-la de ataques muçulmanos. Posteriormente, para fortalecer ainda mais a estrutura, a Santa Casa foi revestida com mármore de Carrara. 

Quase todos os papas depois de Pio II (um dos papas do século XIII que foi milagrosamente curado) falaram de sua transladação milagrosa [4].

Por que Deus e a Igreja tomaram tais medidas para preservar a casa? Porque ela é o local da Encarnação! A tradição diz que Maria nasceu e foi criada na Santa Casa, e que justamente nessa casa o Arcanjo Gabriel apareceu à Virgem e o Verbo divino se fez carne. É uma casa de maravilhas sobrenaturais!

Diz-se que ela (Maria) nasceu na própria cidade de Nazaré e, de fato, no mesmo quarto em que, sob ação do Espírito Santo, ela concebeu após a anunciação do Anjo [5].

Esta é, na realidade, a Casa de Nazaré que é venerada em Loreto, aquela Casa querida por Deus com tantas reivindicações, construída originalmente na Galileia, separada de seus alicerces e transportada pelo poder divino através dos mares, primeiro para a Dalmácia, e daí para a Itália — a abençoada Casa onde a Santíssima Virgem, predestinada desde a eternidade e perfeitamente isenta do pecado original, foi concebida, nasceu e foi educada; onde o mensageiro do céu a saudou como “cheia de graça”; onde se tornou a Mãe do Filho unigênito de Deus [6].

Na Santa Casa também viveu a Sagrada Família em Nazaré. A casa costuma ser chamada “Santa Casa de Maria”, mas também merece ser chamada “Santa Casa de José”. Quando e como S. José tomou posse da casa não é certo, mas isso provavelmente ocorreu ao se casar com Maria. Na verdade, as escavações recentes perto da Basílica da Anunciação oferecem pistas de como a casa da infância de Maria se tornou o lar da Sagrada Família. 

Quando os peregrinos viajam para a Terra Santa, eles costumam ir a Nazaré para ver a Basílica da Anunciação (onde ficava a Casa Santa e onde permanece a fundação do quarto da Encarnação). O que muitos peregrinos desconhecem completamente é que muito perto da Basílica fica a oficina de S. José

A tradição relata que, quando José e Maria estavam noivos, mas antes de viverem juntos, José morava e trabalhava em sua própria casa naquelas proximidades. Uma vez casados, quando começaram a viver juntos, escolheram morar na casa da infância de Maria, e José passou a usar a outra casa como oficina. Isso nos ajuda a entender por que S. José não estava presente quando o anjo visitou Maria na Anunciação: ele, na época, ainda não morava com ela. 

A Santa Casa é uma relíquia única que centenas, senão milhares, de santos visitaram. Antes de ser transportada para Loreto, S. Francisco de Assis e S. Helena visitaram-na em Nazaré. Desde o seu transporte místico para Loreto, inúmeros santos fizeram peregrinação a Loreto para vê-la, incluindo: 

  • S. Inácio de Loyola;
  • S. Francisco Xavier (ele fez uma peregrinação a Loreto antes de partir em sua jornada missionária para a Índia);
  • S. Francisco Borja;
  • S. Carlos Borromeu;
  • S. Pedro Canísio (ele defendeu a verdade da Santa Casa contra os protestantes que a chamavam de lenda);
  • S. Luiz Gonzaga;
  • S. Tiago da Marca;
  • S. Estanislau Kostka;
  • S. Francisco de Sales;
  • S. Luís Guanella;
  • S. Lourenço de Brindisi;
  • S. Bento José Labre, que é chamado “Santo de Loreto” porque costumava visitar com frequência a Santa Casa;
  • S. Francisco Caracciolo;
  • Beato Antônio Grassi, que cresceu perto da Santa Casa. Certa feita, enquanto se ajoelhava em oração na casa, foi atingido por um raio. O raio curou milagrosamente sua dor aguda de indigestão, que perdurara a vida toda. Devido à cura, ele prometeu visitar a Santa Casa uma vez por ano em peregrinação;
  • S. Afonso de Ligório, que chegou a afirmar que “deixou o coração” em Loreto;
  • S. Maximiliano Maria Kolbe;
  • S. Josemaría Escrivá, que visitou a Santa Casa sete vezes e consagrou o Opus Dei a Maria em Loreto;
  • Papa S. João XXIII;
  • Papa S. João Paulo II.

S. Teresa de Lisieux visitou a Santa Casa em 1887, quando se dirigia a Roma com o pai. Ela escreveu sobre sua visita na História de uma alma

Estava contente em tomar a estrada de Loreto. Não me admiro de que a Santíssima Virgem tenha escolhido este lugar para transportar sua casa bendita. A paz, a alegria, a pobreza reinam aí, como soberanas. Tudo é simples e primitivo, as mulheres conservaram seu gracioso traje italiano e não adotaram, como as outras cidades, a moda de Paris. Enfim, Loreto me fascinou! Que direi da santa casa?... Ah! Minha emoção foi profunda, achando-me sob o mesmo teto que a Sagrada Família, contemplando as paredes sobre as quais Jesus fixara seus olhares divinos, pisando a terra que São José regara de suores, onde Maria carregara Jesus em seus braços, após o ter trazido em seu seio virginal… Vi o pequeno quarto onde o Anjo descera junto da Santíssima Virgem… Coloquei meu terço na tigelinha do Menino Jesus… Que lembranças encantadoras!... [7]
“Transladação da Santa Casa”, de Francesco Foschi.

A Santa Casa é uma relíquia poderosa. Nela, Jesus, Maria e José viveram, dormiram, comeram e oraram. É tão poderosa que o diabo não quer ter nada a ver com ela. O Beato Batista Spagnoli de Mântua (1447-1516), chefe da Ordem Carmelita de 1513 a 1516 e sacerdote muito dedicado à Santa Casa, deixou-nos o seguinte relato, de uma testemunha ocular, sobre um exorcismo realizado numa mulher na Santa Casa de Loreto, em 16 de julho de 1489:

Não posso ignorar o que vi com meus próprios olhos e ouvi com meus próprios ouvidos. Aconteceu que uma senhora francesa de poucos recursos e de nobre ascendência chamada Antônia, que há muito estava possuída por espíritos malignos, foi levada ao lugar sagrado por seu marido para que pudesse ser liberta. Enquanto um padre chamado Estêvão, homem exemplar, lia sobre ela os exorcismos habituais, um dos demônios que se gabava de ter sido o instigador do massacre dos Santos Inocentes, ao ser questionado, para sua confusão, se aquele tinha sido o quarto da Virgem Imaculada, respondeu que sim, mas o reconhecia [confessava] contra sua vontade, compelido por Maria a admitir a verdade. Além disso, o demônio apontou para os lugares da Santa Casa onde estavam Gabriel e Maria [8].

A Santa Casa possui até seu próprio dia de festa litúrgica. Em 12 de abril de 1916, o Papa Bento XV emitiu um decreto estabelecendo o dia 10 de dezembro como festa litúrgica anual da Transladação da Santa Casa. Até hoje, a festa é celebrada em Loreto com grande solenidade todos os anos.

Naquela bendita Casa teve lugar o início da salvação do homem pelo grande e admirável mistério de Deus feito homem. Em meio à pobreza, nesta casa retirada viviam aqueles modelos de vida doméstica e de harmonia [9].

Não é por um milagre sem paralelo que esta Santa Casa foi trazida por terra e mar da Galileia para a Itália? Por um supremo ato de benevolência da parte do Deus de toda misericórdia, foi colocada em nosso domínio pontifício, onde por tantos séculos tornou-se objeto de veneração de todas as nações do mundo e resplandece com incessantes milagres [10].

A Santa Casa de Loreto é a morada na qual o Verbo divino assumiu a carne humana, e foi transladada pelo ministério dos anjos. Sua autenticidade é comprovada por monumentos antigos e tradição ininterrupta, pelo testemunho de Sumos Pontífices, pelo consentimento dos fiéis e pelos contínuos milagres que são realizados até hoje [11].

Referências

  • Texto extraído de: Pe. Donald H. Calloway. Consecration to St. Joseph: The Wonders of Our Spiritual Father. Stockbridge: Marian Press, 2020, pp. 180-187.

Notas

  1. S. Pedro Canísio apud Godfrey E. Phillips, The House of the Virgin Mary. Manchester: Sophia Institute Press, 2017, p. 155.
  2. Beata Ana Catarina Emmerich, The Complete Visons of Anne Catherine Emmerich. San Bernardino: Catholic Book Club, 2018, p. 76.
  3. S. John Henry Newman apud E. Phillips, The House of the Virgin Mary, p. 3-4.
  4. S. Afonso Maria de Ligório, The Glories of Mary. Brooklyn, Redemptorist Fathers, 1931, p. 696.
  5. S. Jerônimo apud E. Phillips, The House of the Virgin Mary, p. 26.
  6. Beato Papa Pio IX apud E. Phillips, The House of the Virgin Mary, p. 142.
  7. S. Teresa do Menino Jesus. Manuscrito A, 59v. In: Obras completas: escritos e últimos colóquios. S. Paulo: Paulus, 2002, pp. 128-129.
  8. Beato Batista Spagnoli de Mântua apud E. Phillips, The House of the Virgin Mary, p. 108.
  9. Papa Leão XIII apud E. Phillips, The House of the Virgin Mary, p. 142.
  10. Beato Papa Pio IX apud E. Phillips, The House of the Virgin Mary, p. 141.
  11. Papa Bento XIV apud The Glories of Mary. Brooklyn, Redemptorist Fathers, 1931, p. 696.

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