Salve, Rainha, nós te saudamos pelo dia dos teus anos, a ti, que és a única a fazê-lo eternamente, pois talvez nem passaste pela morte, ou logo a venceste, retirada do sepulcro pelos anjos impacientes. Nós filhos de Eva, que temos a certeza de morrer um dia, te saudamos e convocamos, a cada instante, para a hora, o momento de nossa morte. Queremos-te agora, mas também naquela hora decisiva. Tu, e mais ninguém em teu lugar. Porque só tu podes tudo. Poderás obter que o teu Filho prepare diretamente o nosso coração, se já os outros sacerdotes não lhe tiverem acesso, pela distância ou enevoado véu que nos envolva. Tu estarás presente. Tu és a mais presente, e não apenas a mais bendita entre as mulheres.
Já o anjo te achou presente. Tu respondeste: "Eis a escrava, que a sua vontade se faça..." E logo já estavas presente junto à velha Isabel, que ia precisar de ti como criada, como escrava, quando te saudava, ao chegares: "Bendita é o fruto do teu ventre!" E, depois, já estavas de novo presente junto àquele que te tomara por esposa. Ele é que pensou em deixar-te. Seja porque duvidasse da tua fidelidade, como pretendem alguns, seja porque pressentisse o que em ti se passava e não ousasse permanecer à sombra de um Deus.
E tu estavas presente em Belém. E nem podia ser de outro modo. Pois eras tu que levavas em ti o que devia nascer entre as palhas. Podia faltar a estrela, faltassem os anjos, o boi, o burro, e até mesmo José – só tu não podias faltar, jardim eternamente fechado, fonte lacrada, jorrando no entanto a salvação do mundo. Tu estavas presente. E que presença a tua naquela noite em que não disseste palavra, como se as palavras te distraíssem da contemplação absoluta! Guardavas, como escreve São Lucas, todas as coisas no coração. Guardavas, guardavas tudo, como um cofre imenso, arca de duas alianças, que vai recolhendo rápidos tesouros. Guardaste os anjos, guardaste a manjedoura, guardaste os panos que o envolviam, guardaste os pastores, como alguém recolhe numa grande caixa, no dia dos Reis, o presépio de cada ano... Só por São Lucas sabemos a existência de tudo, e foi ele teu confidente.
Tu estavas sempre presente em Nazaré, com a mesa posta para teu marido e teu Filho. Eles é que nem sempre estavam. Aos doze anos o menino, já quase um mocinho, desapareceu por três dias: estaria cuidando dos negócios do Pai do céu, e tu nem compreendeste. Depois foi José que partiu para sempre, assistido por ti, pois era preciso que santificasses também a viuvez, como santificaras a orfandade, a virgindade, o matrimônio e a própria maternidade. Os outros é que te deixavam, não tu.
Em cada momento importante o Evangelho usa a teu respeito o verbo estar. "Houve um casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava lá." E, então já compreendias, antecipavas a hora do teu Filho, exigias o vinho, precursor das bodas de sangue. E, agora, ele sempre ausente, cercado, devorado pela multidão faminta de pães e de prodígios, talvez de amor. E nem protestas quando lhe vão dizer: "Tua mãe e teus irmãos estão aí...", e ele responde: "Quem é minha mãe e meus irmãos! Todo aquele que cumpre a minha palavra".
Mas houve um momento em que também O deixaste. Pois a tua presença O impediria de sofrer, no Horto, tudo o que era preciso para pagar os pecados do mundo, do primeiro ao último. Tu, a sem pecado, serias um oásis, gota de mel no amargo cálice. Mas, depois que ele sofrera o máximo, o infinito, já estás também no calvário, Stabat Mater, Não Lhe faltaste, Santa Maria, Mãe de Deus, na hora de Sua morte. Não faltarás também na hora da nossa. Pois, na pessoa de João, nos deu a ti como filhos.
Não estavas, com as outras Marias, no sepulcro do Ressuscitado; pois, adivinhando a sua vontade, passaste a cuidar da sua Igreja: as Escrituras te apontam no Cenáculo, Rainha dos apóstolos. Estarás, daí por diante, com todos nós. Discreta, mas pronta a intervir ao menor apelo, ou mesmo antes, ou mesmo sem ele.
Salve, Rainha, salve, estrela do mar! Rainha das virgens, das esposas e das mães; e das donas-de-casa, em Nazaré; e dos viajantes, em Belém; e das festas, em Caná; e dos poetas ao compor o Magnificat; e das viúvas, ao assistir a morte de José; e das dores, ao pé da cruz; e dos anjos, que te saúdam e trazem recados. Rainha de todos, mas escrava nossa, servidora nossa. Sempre atenta, sempre solícita, sempre a nos preparar o mais belo presente, mesmo quando, como hoje, o aniversario é teu!.
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