O lema que inspirou a vida e o apostolado de São Luís Maria Grignion de Montfort resume-se em duas breves palavras: "Só Deus". Toda a sua existência – a ânsia de humilhações, desde muito cedo; o incansável ardor missionário, que o fez atravessar a pé grandes porções de terra; o amor à pobreza, que consagrou fazendo-se escravo de Maria Santíssima –, tudo apontava para o alto.

Para defender esse primado de Deus, São Luís não media palavras nem ficava "cheio de dedos": "Se a prudência consiste em não empreender nada de novo por amor de Deus e em não dar que falar, os Apóstolos cometeram um grande erro quando saíram de Jerusalém, São Paulo não devia ter viajado tanto nem São Pedro levantado a cruz no Capitólio" [1], dizia. Contra o respeito humano, ele ostentava, com coragem, o seu terço e um grande crucifixo, com os quais partia em missão França afora, pregando, levantando cruzeiros e reconstruindo igrejas.

Fiel às palavras de Jesus – "Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me" [2] –, não se gloriava em nada senão na Cruz de nosso Senhor. Assim como São Paulo que, tendo "muitas coisas grandiosas e divinas para recordar a respeito de Cristo, não disse que se gloriava dessas grandezas admiráveis (...), mas afirmou: "Quanto a mim, que eu me glorie somente na cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo" [3], São Luís proclamava:

"Encontro-me mais que nunca empobrecido, crucificado, humilhado. Os homens e os demônios fazem-me uma guerra bem amável e bem doce. Que me caluniem, que escarneçam de mim, que despedacem a minha reputação, que me metam na cadeia: esses dons são preciosos para mim, esses manjares são deliciosos para mim! Ah! Quando serei crucificado e perdido para o mundo?" [4]

Para seguir a Cruz, o próprio Luís fazia questão de pregar-se ao madeiro com Cristo. E indicava o mesmo caminho aos seus filhos: " Para nos despojar de nós mesmos, é preciso morrer todos os dias. (...) Se não morrermos para nós mesmos, e se as nossas devoções mais santas não nos levam a esta morte necessária e fecunda, não daremos fruto que valha" [5]. E advertia aos que chamava de "amigos da Cruz": "Tende bem cuidado para não admitir em vossa companhia os delicados e sensuais, que temem a menor picadela, que se queixam de mínima dor, que nunca provaram a crina, o cilício, a disciplina e, entre as suas devoções em moda, misturam a mais disfarçada e refinada delicadeza e falta de mortificação" [6].

Devotíssimo da Virgem Maria, recebia seus favores desde a mais tenra infância. Na idade adulta, escreveu um livro no qual explicou, com piedade e clareza impressionantes, em que consiste o verdadeiro amor à Mãe de Deus. O hoje conhecido "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem" ficou desconhecido por vários séculos. Como São Luís mesmo previu em seu livro – "muitos animais frementes virão em fúria para rasgar com seus dentes diabólicos este pequeno escrito (...) ou pelo menos procurarão envolver este livrinho nas trevas e no silêncio duma arca, a fim de que não apareça" [7] –, esta grande preciosidade permaneceu escondida por muito tempo.

Quando foi encontrada, porém, não só estimulou os fiéis a amarem mais Nossa Senhora, mas influenciou o magistério de pontífices como Leão XIII, São Pio X e, nos últimos anos, de São João Paulo II.

Nesta obra, São Luís responde com força aos escrupulosos: "Maria ainda não foi suficientemente louvada e exaltada, honrada, amada e servida. Merece ainda muito maior louvor, respeito, amor e serviço" [8]. E aponta com insistência ao fundamento desta devoção: "Se a Devoção à Santíssima Virgem afastasse de Jesus Cristo, deveríamos repeli-la como uma ilusão do demônio" [9]. Mas, como pode a lua ofuscar o brilho do sol, se, ao contrário, é do próprio sol que vêm a sua glória e a sua majestade? Do mesmo modo, como pode Maria "obstruir" o caminho até Jesus, se é justamente em virtude d'Ele que Deus a preservou da mancha do pecado original e a cumulou de todas as graças? Se é justamente para melhor honrá-Lo e glorificá-Lo que se estabeleceu o seu culto na Igreja universal?

A devoção que ensinou São Luís não pretendia ser uma "nova revelação", mas simplesmente, nas palavras do próprio sacerdote francês, "uma renovação perfeita dos votos ou promessas do Santo Batismo" [10]. Recomendando a escravidão a Nossa Senhora, São Luís não pretendia criar uma "casta" de pessoas separadas e diferentes, mas tão somente apontar para as águas do Batismo, pelas quais todos aqueles que se tornam filhos de Deus devem passar; não pretendia inventar um caminho diferente, mas dar novo ânimo para que os fiéis pudessem trilhar a mesma estrada do Evangelho, rumo ao Calvário.

"Só Deus": isso basta. Eis a grande lição de São Luís de Montfort. Que ele nos ajude a amar, buscando a coroa de glória do Céu, mas sem rejeitar a coroa de espinhos que este "vale de lágrimas" nos reserva. Afinal, "nada existe que seja tão necessário, tão útil, tão doce ou tão glorioso quanto sofrer alguma coisa por Jesus Cristo" [11].

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