Aristóteles disse certa vez que “todos os homens, por natureza, desejam conhecer”. Foi assim que ele começou a introdução à sua “Metafísica”. É isso o que busca a filosofia, mas trata-se de algo vivenciado no coração e na mente de cada ser humano. Todos nós ansiamos por respostas porque nossa mente foi criada para acolher a verdade. Por isso ela nos cativa. Ao longo dos últimos dois anos, pude comprovar esses princípios em minha paróquia.

Há vários anos, iniciamos um projeto chamado “Conversas de Domingo” [i]. Elas acontecem uma vez por mês, após uma das Missas. Oferecemos café e lanches para as poucas dezenas de pessoas que participam de uma palestra de 30 minutos sobre diversos temas. Entregamos um folheto apresentando o assunto, bem como sua importância para a vida de fé e para o aprofundamento da nossa relação com Cristo.

Alguns dos tópicos abordados recentemente foram: a evidência científica da vida após a morte; como a “pequena via” pode mudar a nossa vida; e o último desejo de Jesus. Os paroquianos chegam com fome de conhecimentos básicos sobre a fé — e desejosos de falar sobre o que lhes vêm em mente quanto ao tema em questão. 

Devido ao crescimento e à consistência do programa dominical, procuramos um modo ainda mais específico de enriquecer academicamente a mente dos paroquianos. Por isso, criamos The St. Rose Institute [o “Instituto Santa Rosa”], que oferece cursos gratuitos de teologia três vezes por ano. Nós nos reunimos em três terças-feiras consecutivas, à noite, e estudamos a fé de maneira inteligente. A iniciativa foi promovida como um dos eventos de evangelização mais intelectuais, senão o mais intelectual, que organizamos. A resposta tem sido edificante, tanto em relação ao número de participantes quanto em relação ao impacto causado. 

Detalhe de “Jesus entre os doutores no Templo”, por Paolo Veronese.

Primeiro, alguns números. Tivemos dezenas de paroquianos inscritos em cada uma das sessões que organizamos. A maioria deles participou das três palestras. A faixa etária foi variada, sendo a média de idade bastante inferior à de outros eventos. Participaram alguns estudantes universitários e até mesmo alunos do ensino médio. Esses eventos também tiveram maior presença masculina do que outros que já organizamos. Além disso, percebemos que fiéis de outras paróquias também começaram a participar. No geral, a participação superou as expectativas e foi muito diversificada.

Em segundo lugar, o impacto tem sido fenomenal. Os paroquianos tendem a levar seus amigos ou entes queridos para esses encontros noturnos mais do que para outros eventos dos quais participo. Isso apesar do fato de serem palestras de uma hora com seis a oito páginas de anotações em estilo clássico usadas como apostila. Quando as sessões terminam, muitos participantes permanecem no local para fazer perguntas ou comentários, o que gera oportunidades naturais para os católicos cultivarem uma verdadeira comunidade. Em geral, essas aulas revelaram que muitos católicos que vão à igreja desejam mais profundidade na fé.

Em última análise, os encontros têm sido bem-sucedidos devido tanto à sede da mente humana pela verdade quanto aos temas específicos escolhidos.

Platão e Aristóteles na célebre “Escola de Atenas”, pintada por Rafael.

Aqueles que sentem um chamado a uma conversão mais profunda estão convencidos de que seguir Jesus deve impactar suas vidas para além da mera frequência à Missa dominical. Os participantes desses encontros noturnos buscam maneiras práticas de enriquecer sua vida de oração diária. E procuram respostas para perguntas que os seres humanos sempre se fizeram: Quem sou eu? De onde vim? Como posso saber se Deus existe? Jesus realmente existiu? Como posso encontrar a Deus hoje?

Tais questionamentos surgem no contexto mais amplo desses encontros, mas, com maior frequência, ocorrem nas conversas individuais que se seguem a eles: o paroquiano que permanece até o fim da noite para fazer aquela pergunta pessoal relacionada a determinado ensinamento da Igreja; o jovem que envia um e-mail perguntando como pode se envolver mais na vida paroquial; aquele paroquiano mais velho que lhe diz que é católico desde sempre, mas nunca soube por que deve acreditar naquele ensinamento ou como encontrar a Cristo pessoalmente.

Já ministramos cursos sobre o sacrifício da Missa, apologética e os santos. Foram palestras muito detalhadas, que uma pessoa que não frequenta a igreja poderia considerar sem sentido ou muito abstratas. No entanto, a participação foi expressiva; e a reação, maravilhosa. Muitos participantes nunca tinham ouvido falar da natureza sacrificial do culto eucarístico, das razões para crer na divindade de Jesus ou de como os santos revelam o Coração de Jesus. Quem participa desses encontros noturnos está aberto a reconsiderar suas ideias preconcebidas. E, mais importante ainda, essas pessoas estão sedentas por descobrir como seus novos conhecimentos farão delas católicos mais conscientes

O Instituto mostrou-me que, quando convidamos as pessoas a receber a verdade proclamada por Jesus e ensinada por nossa fé católica, elas aceitam o convite e são transformadas. A mensagem que ouvem tem causado impacto nelas porque Jesus é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6). A busca humana por respostas é a busca pelo encontro com Cristo vivo, e é por isso que a vida intelectual nas paróquias é de fundamental importância.

“O Menino Jesus no Templo”, por Heinrich Hofmann.

Sem isso, as conversões permanecerão latentes. Jesus quer que o conheçamos com profundidade, não de forma superficial. Sem a busca intelectual da fé, as conversões permanecerão superficiais. Jesus deseja todo o nosso ser: coração, mente e alma. 

Portanto, se você tiver a formação adequada para ensinar a fé, considere a possibilidade de conversar com seu pároco sobre a organização de algumas aulas desse gênero. Se não se sentir capaz de conduzir tais discussões, fale com seu pároco e pergunte se ele poderia organizar encontros noturnos semelhantes. Mesmo que o número de participantes seja pequeno no início, isso sem dúvida renovará a vida dos que participarem, e também provará que todos nós temos fome da verdade, e todos somos chamados a conhecer a Cristo mais profundamente.

É por isso que precisamos de vida intelectual nas paróquias.

Notas

  1. O autor fala, evidentemente, de uma experiência particular sua, em Long Island, nos Estados Unidos. Considerando porém que esse desejo por conhecimento é inerente ao ser humano, as observações feitas aqui são sem dúvida muito apropriadas também para o público católico brasileiro. (N.T.)

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