Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 16, 16-20)

Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: “Pouco tempo ainda, e já não me vereis. E outra vez pouco tempo, e me vereis de novo”. Alguns dos seus discípulos disseram então entre si: “O que significa o que ele nos está dizendo: ‘Pouco tempo, e não me vereis, e outra vez pouco tempo, e me vereis de novo’, e: ‘Eu vou para junto do Pai?’” Diziam, pois: “O que significa este pouco tempo? Não entendemos o que ele quer dizer”. Jesus compreendeu que eles queriam interrogá-lo; então disse-lhes: “Estais discutindo entre vós porque eu disse: ‘Pouco tempo e já não me vereis, e outra vez pouco tempo e me vereis?’
Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria”.

“Pouco tempo ainda, e já não me vereis. E outra vez pouco tempo, e me vereis de novo” (Jo 16, 16). O que quer dizer Jesus com esta frase tão enigmática? Essa é a mesma pergunta presente no coração dos Apóstolos. 

Hoje, quinta-feira, celebraríamos a Ascensão do Senhor se seguíssemos o Calendário Universal, mas como no Brasil infelizmente esta Festa não é feriado, ela é transferida para o próximo domingo, por se tratar de um dia santo de guarda. Contudo, o Evangelho de hoje é lido exatamente à luz desta festa, onde Jesus diz: “Não me vereis”. 

Essa frase indica que estamos em um tempo no qual não podemos conhecer Cristo fisicamente e por isso a Igreja vive de pura fé, chamando-nos a buscar Jesus sem vê-lo. Podemos achar essa situação deprimente, mas o próprio Cristo diz: “Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria” (Jo 16, 20), porque o que nós temos hoje, pela fé, é mais do que o que os Apóstolos tinham quando Jesus estava neste mundo.

Ora, quando Nosso Senhor estava aqui na terra com os Apóstolos, eles podiam se sentar ao redor da fogueira com Ele, mas não podiam sentir a sua presença íntima no coração. Quando Jesus estava em Jerusalém, Ele obviamente não conseguia estar em outros lugares por ter uma presença local. Agora, é diferente: Ele pode estar conosco o tempo todo dentro de nossos corações, e este contato com a sua presença se dá pela fé. 

Logo, é importante entendermos o que é a fé, pois, para a maior parte das pessoas, ela é apenas um “faz de conta”: “Ah, o mundo é cruel; tem morte e dor, mas vamos fingir que Jesus ressuscitou para ficarmos tranquilos”. Essa mentira só é contada por aqueles que querem amortecer o cruel impacto da Verdade, mas trata-se exatamente do contrário: se vivemos somente usando os sentidos e observando o mundo material, permanecemos na irrealidade e não conseguimos ver a realidade invisível, vendo apenas uma faceta da verdade, distorcida pelas nossas paixões, desejos, egoísmo e desordens. 

No entanto, se trabalhamos o nosso coração na fé, começamos a ver a Verdade e a presença invisível de Cristo, que, muitas vezes, não é sensível. Pode ser que, ao estarmos rezando, Jesus nos console e nos dê uma sensação da presença dele de vez em quando, mas a certeza de que Ele está conosco sempre ficará em nós se tivermos fé. 

A fé não é mentira, faz de conta ou autoengano: a fé nos coloca diante da Verdade e nos faz entender que, em todos os momentos tristes e alegres de nossas vidas, Ele está conosco em uma presença íntima, doando-se como fonte de água-vida dentro de nós. Portanto, peçamos hoje a Jesus que nos dê a graça de nunca abandonarmos o caminho da fé, a fim de que continuemos firmes e cada vez mais amemos as verdades do Senhor.