Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 17, 11b-19)

Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos para o céu e rezou, dizendo: “Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que eles sejam um assim como nós somos um. Quando eu estava com eles, guardava-os em teu nome, o nome que me deste. Eu guardei-os e nenhum deles se perdeu, a não ser o filho da perdição, para se cumprir a Escritura. Agora, eu vou para junto de ti, e digo estas coisas, estando ainda no mundo, para que eles tenham em si a minha alegria plenamente realizada. Eu lhes dei a tua palavra, mas o mundo os rejeitou, porque não são do mundo, como eu não sou do mundo. Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo.
Consagra-os na verdade; a tua palavra é verdade. Como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo. Eu me consagro por eles, a fim de que eles também sejam consagrados na verdade”.

No Evangelho de hoje, Jesus faz a sua oração pela Igreja e pede para que nós sejamos um, dizendo: “Pai santo, guarda-os em teu Nome, o Nome que me destes para que eles sejam um assim como nós somos um” (Jo 17, 11). 

Em tempos de ecumenismo, interpretamos esse versículo como sendo uma oração de Jesus pela unidade das Igrejas. Contudo, devemos esclarecer o vocabulário, porque a linguagem pode ser equívoca. Primeiro, a palavra “Igreja”, no sentido próprio da palavra, não pode ser usada no plural, pois só existe a Igreja una, santa, católica e apostólica. Ora, a unidade é uma nota da Igreja de Cristo, uma vez que Jesus possui apenas um Corpo, o Corpo Místico; e apenas uma esposa, a sua Igreja.

No entanto, a Igreja de Cristo foi se organizando em dioceses, as quais podem ser chamadas também de igrejas — no sentido de igreja local. A Igreja primária de Cristo é a Igreja universal que está presente no Céu, no Purgatório e na terra; já a diocese é uma bela representação concreta da Igreja de Cristo. Portanto, só usamos “igreja” no plural quando nos referimos às dioceses, conforme está escrito em um documento que foi publicado pela Congregação da Doutrina da Fé, assinado pelo Cardeal Joseph Ratzinger.

Entretanto, existem algumas dioceses do Oriente cujos bispos não estão em comunhão com Roma e a Santa Igreja Católica; são as chamadas “Igrejas Ortodoxas”. Outro exemplo são as comunidades protestantes, que, apesar de serem eclesiais por possuírem elementos da Igreja, como a Sagrada Escritura e o “batismo”, não podem ser chamadas de igreja nem no sentido mais profundo da única Igreja de Cristo, nem no sentido de diocese. Por isso, elas são orientadas a voltar à plena comunhão, aderindo à fé reta da única Igreja de Cristo, que é a Santa Igreja Católica. 

Vemos hoje que Jesus reza pela unidade do seu Corpo, porque o que faz a Igreja ser uma só é o fato de nós estarmos ligados a Cristo através da graça do Espírito Santo. Então, nesta novena de Pentecostes, precisamos verdadeiramente pedir a Deus o Paráclito, para que Ele nos una cada vez mais a Cristo. Mas de que modo o Espírito Santo opera isso? Jesus dá a resposta em sua oração, ao dizer: “Santifica-os na Verdade”.

 Ou seja, em primeiríssimo lugar, devemos nos abrir para a única Verdade de Cristo e sua única doutrina verdadeira, à sua Palavra viva, ao seu Evangelho, que é força de Deus para aquele que crê, e na nossa santíssima fé católica. Assim, iremos nos santificando, pois a Palavra de Deus vai nos mudando por dentro, tornando-nos “cristos” em seu Cristo. 

Assim, Nosso Senhor pede ao Pai por seus discípulos: “Eu lhes dei a tua Palavra, mas o mundo os rejeitou, porque não são do mundo, como eu não sou do mundo. Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno.” (Jo 17, 14-15). A Palavra de Deus age em nós de modo que nos tornamos estrangeiros em nossa própria pátria. Realmente, existe um estranhamento entre a Igreja e o mundo, mas não porque a Igreja se fecha ao mundo, e sim porque o mundo se fecha à Igreja. A Igreja quer converter e trazer as pessoas para consagrá-las na Verdade, e essa é uma das principais razões de nós rezarmos cada vez mais para que o Corpo de Cristo chegue à plenitude de todos aqueles que foram escolhidos e pensados por Deus para fazer parte dele. 

Portanto, rezemos pela Igreja, a fim de que todos os membros dispersos se reúnam na Casa do Pai. Pode ser que olhemos dentro de nós e enxerguemos muitas coisas que não são boas, mas, se perseverarmos na oração, estaremos cada vez mais unidos a Cristo e em comunhão com a sua Única e Santa Igreja.