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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 5, 17-26)

Um dia Jesus estava ensinando. À sua volta estavam sentados fariseus e doutores da Lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E a virtude do Senhor o levava a curar.

Uns homens traziam um paralítico num leito e procuravam fazê-lo entrar para apresentá-lo. Mas, não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o desceram com o leito no meio da assembleia diante de Jesus. Vendo-lhes a fé, ele disse: “Homem, teus pecados estão perdoados”.

Os escribas e fariseus começaram a murmurar, dizendo: “Quem é este que assim blasfema? Quem pode perdoar os pecados senão Deus?” Conhecendo-lhes os pensamentos, Jesus respondeu, dizendo: “Por que murmurais em vossos corações? O que é mais fácil dizer: ‘teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘levanta-te e anda?’ Pois, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder de perdoar os pecados — disse ao paralítico — eu te digo: levanta-te, pega o leito e vai para casa”. Imediatamente, diante deles, ele se levantou, tomou o leito e foi para casa, louvando a Deus. Todos ficaram fora de si, glorificavam a Deus e cheios de temor diziam: “Hoje vimos coisas maravilhosas!”

Celebramos hoje a memória do grande S. Ambrósio de Milão, bispo e Doutor da Igreja. S. Ambrósio, tão conhecido por causa da conversão de S. Agostinho, ainda mais conhecido que ele, é para nós um exemplo não só de bispo, mas da atitude espiritual que devemos ter neste tempo do Advento. Senão vejamos. S. Ambrósio, como muitos sabem, foi elevado ao episcopado de forma extraordinária. Reuniu-se em Milão uma espécie de assembleia em que o novo bispo seria eleito. Acontece que, infelizmente, havia partidos rivais digladiando-se, e aquilo começou a virar uma arruaça até à violência. Triste episódio em que cristãos, para escolher um bispo, acabaram precisando de uma “intervenção policial”, por assim dizer, e Ambrósio, como funcionário público, responsável pela ordem, foi lá, sendo ainda simples catecúmeno, justamente para apaziguar a situação. Quando Ambrósio finalmente pôs tudo em ordem, uma criança começou a dizer: “Ambrósio bispo!”, e aquela vozinha foi tomada como voz de Deus. Todos, então, escolheram Ambrósio como o bispo que Deus queria. Ele foi imediatamente ordenado em todas as ordens menores e maiores e elevado ao episcopado. 

Mas o que chama a atenção é que este homem, chamado para o episcopado sem talvez nunca ter imaginado que chegaria a tanto, não foi um bispo despreparado. Pelo contrário, ele fez o que é a ocupação principal de um bispo, como dizem os Apóstolos no livro dos Atos: “Não é razoável que abandonemos a Palavra de Deus, para administrar. Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste ofício. Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da palavra” (At 6, 2ss). Trata-se de ouvir a palavra de Deus e contemplá-la, para então poder pregar. É nisto que S. Ambrósio é, para todos, um modelo: não somente de bispo, mas de verdadeiro cristão. Neste tempo de Advento, em que celebramos a vinda de Cristo a nossas vidas, demo-nos conta de que a vinda de Jesus a nossas almas se dá, sobretudo, por meio da oração: Fides ex auditu, a fé nasce do ouvir, e o ouvir a Deus e sua palavra só pode acontecer em atitude orante. Nós somos chamados, como cristãos, a abrir as portas do nosso coração para Deus que fala, para Deus que quer falar intimamente conosco na meditação da palavra, no contato assíduo com a palavra divina. Com efeito, foi isso que fez de S. Ambrósio um grande Doutor da Igreja. Ao estudar, Ambrósio pegava um volume aqui, outro ali e buscava sem descanso a verdade de Deus. Agostinho ficou edificado de ver que Ambrósio não se limitava a ler e estudar: havia nele algo de sobrenatural, de profundamente amoroso, como quem contempla o que estuda! É isso que nós, cristãos, precisamos fazer: ter vida de oração, vida contemplativa, e estar dispostos a ouvir o nosso divino Mestre. Não há coisa melhor para viver neste tempo de Advento (e, aliás, durante nossa vida inteira). É que o tempo do Advento, mais do que todos, é o tempo em que devemos estar mais atentos às visitas de Deus, ao advento de Cristo e às palavras que Ele nos traz. Como Samuel no Antigo Testamento, também os cristãos, imitando Ambrósio, devemos dizer: “Fala, Senhor, teu servo escuta!” (cf. Sm 3, passim). Escutemos a Deus, que nos fala por sua palavra, nos ilumina a alma e se torna presença e visita que alimenta e dá vida.

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