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2. Nós podemos mudar, os demônios não!

O estado dos demônios é eterno, definitivo e irreversível. Seu pecado foi frio e calculado, cometido “de olhos abertos”. Não há esperança alguma de salvação no Inferno. No ser humano, porém, Deus quis uma criatura a quem pudesse perdoar — como fez Jesus com São Pedro.

Texto do episódio
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Dando sequência a nosso Retiro de Semana Santa, compreendamos brevemente a importância desses dias que estamos vivendo. 

Nossa redenção aconteceu de uma vez por todas na Cruz. No Calvário, Satanás e seus demônios foram derrotados, e nós fomos verdadeiramente salvos. Acontece que essa salvação objetiva precisa ser aplicada em nossa vida: é a salvação subjetiva

Noutras palavras: os méritos de Cristo em sua Paixão, Morte e Ressurreição foram suficientes para redimir todos os homens, de todos os tempos e lugares — na verdade, uma só gota de seu Sangue seria suficiente para nos remir a todos (tuo sanguine, cuius una stilla salvum facere totum mundum quit ab omni scelere, “o teu sangue, do qual uma gota é capaz de salvar de todo crime o mundo inteiro”), como diz Santo Tomás de Aquino no Adoro te devote —, mas Deus quis que não pairasse dúvida alguma de seu amor por nós, quis oferecer-nos uma verdade incontestável, que pudesse ser prontamente aceita pelos homens e mudar-lhes a vida. É para nos levar a isso — evidentemente com o auxílio da graça divina — que a Igreja propõe a Semana Santa. A liturgia desses dias serve para nos abrir os olhos da alma.

Nós precisamos disso, pois assim funciona a inteligência humana. Diferentemente dos anjos, que são dotados de um intelecto superior, nós só conseguimos enxergar as coisas com um certo trabalho. Quando Deus criou os anjos, Ele os criou com ideias inatas. Os espíritos angélicos sabiam tudo o que lhes era necessário saber a respeito da natureza das coisas criadas. Antes mesmo de “terem visto”, por assim dizer, uma árvore, um cachorro e um ser humano, eles sabiam o que eles eram. Um anjo não confunde, por exemplo, um embrião e um tumor. Nós, porém, se nos deparamos com um aglomerado qualquer de células, só depois de uma análise empírica podemos chegar a uma conclusão a respeito de sua substância: se crescer, nascer e disser “mamãe”, evidentemente é uma criança; se matar a pessoa, é um câncer.

Por que gastar tempo explicando isso? Para compreendermos o sentido do que estamos fazendo aqui. Esse retiro, nosso programa A Paixão segundo os Evangelhos, a liturgia do Tríduo Pascal e tantos outros recursos meditativos que estão à sua disposição nesse tempo, tudo serve para abrir os olhos da sua alma. É só “cavoucando” em seu interior, “ruminando” as passagens do Evangelho, discorrendo a respeito do que Jesus fez por nós, que vamos cair em nós mesmos, “acordar” o nosso espírito, fazer um ato de fé e dizer, por exemplo: “Senhor, pequei, tende piedade e compaixão de mim”; “Meu Deus, eu me arrependo de meus pecados, não quero mais vos ofender”. 

Assim aconteceu com o filho pródigo da famosa parábola: enquanto ele desejava a comida dos porcos, sofrendo nas mãos de um patrão cruel, pôs-se a refletir em como seu pai tratava os próprios empregados, e então decidiu voltar para casa e pedir para ser aceito de volta. No caminho — podemos imaginar —, quantas coisas ele também não foi pensando, quantas vezes não foi ensaiando a prece que depois faria a seu pai: “Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho” (Lc 15, 21)! É esse fenômeno de abrir os olhos da alma que nós chamamos de conversão. Dessa forma age a graça de Deus nos corações humanos. 

Nós dizíamos, porém, que é diferente com os anjos. Eles vêem de imediato o que são as coisas, sem erro. Quando Nosso Senhor curou o cego de nascença e ressuscitou Lázaro dos mortos, os indivíduos a seu redor podiam discorrer a respeito daquele fato e investigá-los para descobrir se eram ou não milagrosos. Os anjos, porém, não precisavam disso. A Carta de São Tiago chega a dizer: “Tu crês que há um só Deus? Fazes bem! Mas também os demônios creem isso, e estremecem de medo” (2, 19). Ou seja, não há demônios ateus. Eles conhecem as coisas, sabem que Deus as criou. 

Mas saber não é o suficiente. (Se fosse, não haveria anjos maus!) Além da inteligência, nós temos a vontade. E é com ela que aderimos a Deus e dizemos: “Sim, quero. Sim, vou. Sim, Senhor, faça-se em mim a vossa vontade”. Miseravelmente, foi com ela também que nossos primeiros pais disseram “sim” à serpente e se colocaram sob o seu domínio. Como o filho pródigo que, deixando a casa de seu pai, acabou na casa de um mau patrão, a humanidade quis ser autônoma e independente, disse a Deus: “Não servirei” e… terminou escrava, nas mãos de um déspota malvado. 

(Esse mesmo fenômeno se repete hoje na juventude: os filhos adolescentes pensam que, “livrando-se” dos pais, rebelando-se contra eles, serão “livres”, mas o fato é que se tornam “vítimas” da peer pressure, fazem-se “escravos” do grupo a que passam a pertencer — por isso, têm de usar drogas como todo o mundo, têm de fazer tatuagem como todo o mundo, pôr piercing como todo o mundo, vestir-se imodestamente como todo o mundo. E ai de quem ouse destoar da corja animalesca! É de pronto reprimido pelos pares, excluído da turma, punido pela sua “desobediência”.)

Assim Satanás age conosco: cativa-nos com uma mentira: “Sereis como deuses”, e depois nos oprime. A libertação disso só da verdade pode advir. Daí Nosso Senhor dizer que “a verdade vos libertará” (Jo 8, 32). Essa frase é dita no contexto das discussões de Jesus com os fariseus, que precedem a sua Paixão. (É por isso que a Igreja as lê na reta final da Quaresma.) Na ocasião, Ele chama os chefes dos judeus de “filhos do diabo”. Por quê? Porque, pela mentira, nós nos tornamos “reféns” dos demônios. Como sair disso? Meditando a verdade! Sem meditação, sem abrir os olhos da sua alma para a verdade aprazível de Deus, você não dará o primeiro passo para sair do cativeiro em que seus pecados o colocaram!

Essa luta entre verdade e mentira é muito importante. Em seu ministério, uma das armas de que os exorcistas se servem, e que é uma tortura para os espíritos maus, é recordar-lhes a alegria que tinham, o gozo de que eles desfrutavam, antes de decaírem da graça. Não é que os demônios vissem a Deus face a face (se o tivessem visto, jamais teriam pecado). É que o simples fato de conhecer a verdade era muito agradável para eles. Há um prazer em conhecer a verdade. Afinal, Deus nos criou para isso — tanto aos anjos, com seus intelectos elevados, quanto a nós, com nossas inteligências inferiores!

Também existem muitas pessoas que já viram a beleza da verdade católica, mas se recusam a dizer “sim” a Deus, estão com a vontade “emperrada”. A recusa dos anjos foi grave, porque definitiva e irreversível. Quando os demônios disseram: “Não servirei”, sua decisão foi tomada de uma vez e para sempre. Nós, porém, podemos (e devemos) mudar. Santo Ambrósio, refletindo a esse respeito, se perguntava por que, mesmo após a queda dos anjos, Deus criou os homens, se sabia que eles pecariam. Sua resposta é belíssima: porque o Criador queria criaturas a quem pudesse perdoar.

Eis aí! Por nossa natureza, nós podemos voltar atrás! Talvez você já tenha assistido a vários vídeos catequéticos, tenha ouvido várias pregações, tenha lido vários livros e tenha ficado “mexido” com as verdades católicas. Não obstante isso, sente-se incapaz de dar o passo da , sem forças para tanto… Mas acredite: a graça divina está à sua disposição! Ela não lhe falta jamais! Tome posse dessa força poderosa de Deus e creia!

Mas não se iluda: como temos dito ao longo desse retiro, estamos em combate! Os demônios, vendo sua busca por Deus, vendo seu esforço por crer, criarão todos os subterfúgios possíveis para demovê-lo de seus bons propósitos! Eles criarão distrações para que você não reze, sugerirão mil e uma “prioridades” para você colocar no lugar de Deus; enfim, não o deixarão em paz. A Sequência de Páscoa, Victimæ paschali laudes, fala justamente de um duelo admirável que travaram a vida e a morte: Mors et vita duello conflixere mirando. Essa luta é por sua alma. Ela foi vencida no Calvário, por Cristo, mas também você precisa vencê-la pessoalmente, colher para si próprio os frutos da Redenção.

Para isso estamos aqui, em retiro. Para isso existe a Semana Santa. Para isso existe o sacramento da Confissão. Saia à procura do nosso bondoso Pai celeste e procure a remissão dos seus pecados. Possivelmente, eles estão se apresentando a você agora, como se apresentaram a Santo Agostinho, e dizendo: “Vais mesmo viver sem nós? Vais mesmo nos abandonar?” Mas você não deve dar ouvidos às fantasias mentirosas de Satanás. Abra os olhos de sua alma à verdade. Peça a ajuda de seu anjo da guarda, de Nossa Senhora, dos santos de sua devoção. Tome os textos da Paixão do Senhor como guia neste caminho.

E, como Jesus olhou para São Pedro — ah! aquele olhar tudo mudou —, deixe-se olhar por Ele também. Pedro o havia negado três vezes. E você? Qual foi a “cachorrada” que “aprontou” com Nosso Senhor? Faça seu exame de consciência. Arrependa-se de seus pecados. Faça desta a sua Semana Santa, a semana mais importante da sua vida.

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