Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 9,57-62)
Naquele tempo, enquanto Jesus e seus discípulos caminhavam, alguém na estrada disse a Jesus: “Eu te seguirei para onde quer que fores”. Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. Jesus disse a outro: “Segue-me”. Este respondeu: “Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai”. Jesus respondeu: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o Reino de Deus”. Um outro ainda lhe disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares”. Jesus, porém, respondeu-lhe: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus”.
No Evangelho de ontem, Jesus tomou a firme decisão de ir para Jerusalém; agora, as pessoas querem segui-lo, e logo de início nós vemos com toda a clareza que existe uma consequência, existe um preço: “As aves têm os seus ninhos, as raposas têm a sua toca, mas o Filho de homem não tem onde reclinar a cabeça”. Eis aqui a consequência principal de nós resolvermos seguir Jesus. Quando nós resolvemos seguir Jesus, nós nos tornamos estrangeiros e peregrinos neste mundo.
É isso que significa o conceito de “paróquia”. Você, católico, frequenta uma paróquia. Você é paroquiano. De onde vem a palavra “paróquia”? “Paróquia” vem do grego παροικία, que quer dizer “acampamento de peregrinos”. Exatamente essa é a ideia. Nós somos peregrinos neste mundo, nós somos Igreja peregrina, quer dizer, não temos aqui a nossa pátria.
Existe na linguagem cristã a tradição de chamar o Céu de Pátria (com pê maiúsculo). Na Pátria, nós entramos no lugar do nosso repouso. Neste mundo, por enquanto, somos peregrinos; mas na Santa Missa, todos os dias na Eucaristia, quando nós recebemos a Comunhão, nós temos uma espécie de “mistura” dessas duas coisas. Sim, nós ainda estamos nesse lugar de peregrinação, mas na Missa nós temos uma pequena experiência da Pátria. É por isso que nós, na Eucaristia, recebemos o “pão dos peregrinos”, “o pão dos viandantes”.
Você vai se lembrar de que, quando o povo de Israel saiu do Egito, eles precisaram levar pão, mas não tiveram tempo de fermentá-lo, por isso levaram pães ázimos, exatamente o pão com que são feitas as hóstias que nós comungamos. É um pão de peregrino, é um pão que resiste mais ao tempo, porque o pão com fermento tende a perecer e a se estragar, já o pão ázimo, que é mais duro, é também mais resistente ao tempo, ainda mais para uma longa caminhada.
A partir disso, vemos que, embora sejamos estrangeiros peregrinando neste mundo, na Santa Missa nós encontramos o alimento da Pátria celeste, pelo qual somos fortalecidos e restaurados para continuar esta caminhada. De alguma forma, “embora o Filho do homem não tenha onde reclinar a cabeça”, na santa Missa nós encontramos um lugar de repouso.
Por quê? Porque, como na Última Ceia São João teve a possibilidade de reclinar a cabeça no peito de Jesus, em cada Missa e em cada Comunhão nós podemos fazer o mesmo: nós podemos reclinar o nosso peito, reclinar a nossa cabeça no peito de Cristo, e ali sentir as pulsações do seu Coração e do seu amor. Nela recebemos a graça, a força, a coragem e o amor que nos alimentam e fazem com que continuemos nesta peregrinação, desejando a Pátria do Céu.
Um dia, nós iremos nos encontrar com o mesmo Cristo face a face! Um dia, vai acontecer verdadeiramente o banquete nupcial, o casamento entre a humanidade e Cristo! Um dia, nós estaremos em casa, então, não seremos mais peregrinos.
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