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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 8,19-21)

Naquele tempo, a mãe e os irmãos de Jesus aproximaram-se, mas não podiam chegar perto dele, por causa da multidão. Então anunciaram a Jesus: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem te ver”. Jesus respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática”.

O Evangelho de hoje nos fala do misterioso encontro, ou desencontro, poderíamos dizer, entre Jesus e a Virgem Maria. É um Evangelho que nos faz pensar e meditar no mistério do relacionamento entre Jesus e a Virgem Santíssima. “Naquele tempo, a Mãe e os irmãos de Jesus aproximam-se”, mas não puderam chegar perto dele por causa da multidão. Então anunciaram a Jesus: “Tua Mãe e teus irmãos estão aí fora e querem te ver”.

É simplesmente a narrativa, a crônica de um fato singelo, de um fato tão simples; mas a resposta de Jesus pode parecer, aos que não têm fé nem entendem as coisas com profundidade, um desaforo. Ele diz assim: “Minha Mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”. É como se Jesus estivesse “menosprezando” a sua Mãe.

Na realidade, o que Jesus está fazendo é um aprofundamento no grande mistério do seu Corpo místico.

Quem é que realmente faz parte da Igreja, do novo povo de Deus, do Corpo místico? Quem tem um relacionamento com Jesus que é muito mais íntimo e muito mais próximo do que uma simples relação de consanguinidade.

No Antigo Testamento, Deus havia preparado um povo e prometido a Abraão uma numerosa descendência. Essa numerosa descendência é, em primeiro lugar e em sentido literal, uma descendência de sangue, genética e direta: são os nascidos de Isaac, depois os nascidos de Jacó; são as doze tribos. Este era o povo de Deus.

No entanto, Jesus vem reformular isso, para que nós compreendamos em profundidade o que Deus fez no Antigo Testamento. A descendência que Deus prometera a Abraão não foi só uma descendência de sangue, mas sobretudo uma descendência na fé: “Abraão, nosso pai na fé”, de tal forma que Jesus, dirigindo-se aos judeus no evangelho de São João, diz que Deus pode fazer surgir filhos de Abraão (genéticos, carnais e de sangue) até de pedras. Portanto, a filiação que Deus quer de nós, ou seja, o parentesco que Deus quer que tenhamos com Jesus é o parentesco da fé.

Nesse sentido, a Virgem Maria aparece em todo o seu esplendor, com toda a grandeza da sua fé, como disse Santa Isabel: “Bem-aventurada aquela que acreditou”. Esse “ter crido”, esse “ter tido fé” é o novo título da Virgem Maria: πιστεύσασα [pisteusasa], expressão grega praticamente intraduzível em português, porque é uma forma de particípio que para nós não existe. Mas a definição da Virgem Maria é: “Aquela que crê”, ou seja, aquela que, no seu ato de fé, fez o ato mais sublime, portanto se uniu mais intimamente a Cristo.

A união na fé e na caridade da Virgem Maria com Nosso Senhor Jesus Cristo transcende qualquer união que uma mãe possa ter com o filho, inclusive no útero. É um abismo de amor e de unidade que, para nós, é uma luz, porque é disso que somos chamados a participar.

Que Deus nos abençoe e nos faça verdadeiramente membros do Corpo místico de Cristo, por este parentesco extraordinário com Cristo, nosso irmão, não já por vínculos de sangue, mas pela fé e pela caridade que irá nos levar para o Céu, para uma unidade que nunca passará.

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