Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 15, 12-17)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos.
Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que, então, pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”.

No Evangelho de hoje, depois de Jesus dizer aos seus Apóstolos que eles deveriam permanecer nele como os ramos na videira, Ele os chama de “amigos”. Esse trecho deu a Santo Tomás de Aquino a ocasião de refletir a respeito da “virtude” especial da amizade. 

Uma boa amizade é fruto de uma eleição, algo que o próprio Jesus confirma aos seus discípulos: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 16). Nesse contexto, vemos a realidade de que nós não podemos ter amigos a partir de uma escolha irracional e passional, mas devemos escolher as pessoas que têm o coração no mesmo lugar que nós temos, ou seja, a chamada concórdia: “Vós sois meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando”(Jo 15, 14). 

Jesus quer ser nosso amigo, como se nos dissesse: “Não vos chamo servos, mas amigos, porque o servo não conhece o que faz o seu senhor, e vós agora conheceis o que está em meu coração. Portanto, para termos uma verdadeira amizade, é necessário que coloqueis os vossos corações junto ao meu”. Eis um belo exemplo do que é a concórdia.

Contudo, isso nos leva à reflexão sobre uma situação problemática em que as pessoas querem ser amigas de todo mundo, mas, naquilo que é fundamental, não querem concordar. Sim, nós podemos discordar de coisas triviais como, por exemplo, a roupa que mais gostamos ou o time pelo qual torcemos, mas se o nosso amor a Jesus, o centro de nossas vidas, não agrada a alguém, não há verdadeira amizade. Você pode desejar o bem a essa pessoa, mas não existe amizade.

Não é possível ter amizade com uma pessoa que odeia tudo aquilo que mais amamos. Ora, imagina conviver com alguém que diz que o Santíssimo Sacramento é uma idolatria tola, um pedaço de pão; ou que a Virgem Maria é apenas uma mulher comum! Podemos até ter uma parceria ou uma aliança para propósitos comuns com pessoas assim, mas é impossível termos amizade — no sentido profundo da palavra —, pois esta precisa de concórdia para florescer. 

Então, o Evangelho de hoje nos mostra como podemos cultivar amizades e escolher bem os nossos amigos. A amizade é uma eleição onde escolhemos uma pessoa racionalmente e com uma visão de fé sobrenatural, vendo que ela ama as mesmas coisas que nós amamos, o que há de principal em nossas vidas. 

Desse modo, surge aquilo que o próprio Jesus estava descrevendo para os Apóstolos quando Ele falou da videira e dos ramos: a Comunhão, ou seja, assim como os ramos necessitam da seiva da videira para sobreviverem, nós e nossos amigos devemos viver da mesma vida e, ao amarmos as mesmas coisas, a graça de Deus que opera em nós também irá operar neles. 

Santo Agostinho exclama com grande entusiasmo, em seu famoso “De Trinitate”, sobre o homem de Deus que, ao ouvir falar de alguém que é amigo do Senhor, deseja conhecê-lo e estar junto dele. De fato, há concórdia, comunhão e verdadeira amizade quando reconhecemos em alguém o amor por Aquele que é o maior amor de nossas vidas: Jesus Cristo. Portanto, peçamos a Ele que nos ilumine no momento de escolhermos nossos amigos, para que juntos cresçamos espiritualmente na fé e no amor a Deus.