O Sábado Santo é um dia alitúrgico. O que celebraremos a partir da tarde de hoje, com efeito, já corresponderá à liturgia da noite pascal, quando o nosso Salvador, saindo glorioso do sepulcro na manhã de domingo, vencer a morte e dar-nos uma nova vida. É um dia em que a Igreja dirige o nosso olhar para a Virgem SS., que presenciou ao longo deste Tríduo, compadecida como ninguém mais, a Paixão dolorosíssima de seu Filho.
Ontem, Jesus ofereceu ao Pai seu sacrifício na cruz. Por essa oblação, prevista de distintas maneiras no Antigo Testamento, a humanidade foi resgatada. Uma das prefigurações e anúncios do sacrifício vicário de Cristo encontra-se, por exemplo, no sacrifício de Isaac (cf. Gn 22). Abraão, nosso pai na fé, subiu o monte Moriá acompanhado de seu filho, a quem gerara na velhice. Isaac, como diz a Escritura, levava aos ombros a lenha do holocausto sobre a qual ele mesmo seria sacrificado; Abraão, de coração aflito, trazia o fogo, símbolo de sua fé, e a faca para a imolação.
Esse episódio, prenúncio e figura do sacrifício vindouro, repetir-se-ia, segundo a tradição, no mesmo lugar. O monte Moriá, com efeito, seria o próprio monte Sião, sobre o qual fora erguida a cidade santa de Jerusalém, que tempos depois mataria sobre o Calvário o seu divino Redentor. No mesmo lugar, cerca de dois mil antes, Abraão subira a mesma montaha que subirá a Virgem SS.: ele, acompanhado de seu filho com a lenha nas costas, para ser provado na fé; ela, seguindo a seu Filho com a cruz nos ombros, levava no Coração a tocha de uma fé perfeitíssima.
Maria, que ouviu do Anjo as seguintes palavras: “O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi” (Lc 1, 32), via ontem o seu Filho entregue aos algozes e pregado a uma cruz. E no entanto a sua fé não vacilou. Ela, iluminada desde sempre pelo Espírito Santo, entrevia a necessidade daquela morte, tão ultrajante como gloriosa, tão dura de contemplar e, ao mesmo tempo, tão cheia de esperança. Maria sabia, sim, que a morte não daria a última palavra, porque o Senhor mesmo tinha dito: “Depois de três dias ressuscitarei”.
Mas como podemos ter certeza de que o Coração Imaculado de nossa Mãe não fraquejo, não esboçou, ainda que de leve, uma certa desconfiança ou descrença? A resposta consta com toda clareza nas páginas do Evangelho. S. Marcos nos relata que, quando passou o sábado, três mulheres — Maria Madalena, a mãe de Tiago e Salomé — saíram às pressas ao sepulcro com o propósito de embalsamar o corpo de Nosso Senhor. São três mulheres fidelíssimas que, segundo o Evangelho (cf. Jo 19, 25), permaneceram firmes junto da cruz de Cristo.
O que chama a atenção é que, entre elas, na manhã de domingo, não estivesse também Maria. Como entender essa ausência? Por que justamente a Mãe do crucificado, após três horas de pé vendo-lhe o suplício, se recusaria a dar-lhe os últimos cuidados, fechando-lhe as feridas e dando-lhe digna sepultura? Que mãe se negaria a ver pela última vez o corpo do filho, de prestar-lhe a última homenagem, de expressar-lhe o último sinal de carinho, de amor, de saudade?
E no entanto Maria não as acompanhou. Maria não foi ao sepulcro porque sabia, pela fé que durante toda a vida alimentara, que o Senhor não estava mais lá. A fé das outras mulheres, essa, sim, sucumbiu; do contrário, teriam crido na promessa de Jesus. Quando Ele deu o último suspiro, apagou-se-lhes do coração o pouco de fé que tinham. Maria Madalena, a mãe de Tiago e Salomé deram, sim, prova de fidelidade; mas, no fim, não conseguiram crer na Ressurreição prometida. O mesmo se diga de S. João, o único sacerdote ordenado que permaneceu, impávido e fiel, diante do Senhor crucificado: também ele, ao receber a notícia de que o corpo de Jesus sumira do sepulcro, saiu correndo a ver se era verdade o que lhe diziam.
Maria, porém, teve fé desde o início. Com a morte de Cristo, a Igreja vê-se reduzida, neste dia de amarga solidão e silêncio, a um só coração, ao único que jamais deixou de crer: ao Coração de Nossa Senhora. Neste Sábado Santo, portanto, somos instados a pedir-lhe um coração semelhante, capaz de crer verdadeiramente na palavra e no amor de Jesus Cristo. E não só isso: dentro do panorama da Paixão, devemos pedir a nossa Mãe bendita um coração que seja também sensível aos padecimentos do Senhor. Maria é Mãe fiel, mas é ainda Virgem dolorosa, compadecida dos sofrimentos suportados pela Vítima santa dos nossos crimes.
O pecado, com efeito, nos endurece a alma, torna-nos indiferentes às dores de Cristo na Cruz. Mas quem o ama, compadece-se de vê-lo padecer. E esse amor só é possível se antes houver fé. Sem isso, a figura do crucificado não representará mais do que um simples crime, de uma injustiça, capaz talvez de gerar alguma comoção, superficial e passageira. Mas não é só isso o que lá está: na cruz, vista sob a luz da fé, está pregado o nosso Amor e Sumo Bem, desprezado, rejeitado, desfigurado, saturado de opróbrios.
Que nossa Mãe e Senhora, Virgem corredentora, ajude-nos a tomar parte em sua compaixão cheia de dor e amor, a fim de podermos oferecer a Cristo uma caridade mais pura e ao Pai, o sacrifício de uma fé firme e sincera. — Ó Mãe Santíssima, aproximamo-nos neste Sábado Santo do vosso materno Coração: dai-nos descobrir, sob o véu de vossas lágrimas, a chama ardentíssima de fé e amor que, acendida em vosso Imaculado Coração, ilumina este dia de silêncio e saudade. Que, fortalecidos na fé por vosso auxílio, mereçamos dar ao vosso Filho todo o amor de que Ele é digno.
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