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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 9,32-38)

Naquele tempo, apresentaram a Jesus um homem mudo, que estava possuído pelo demônio. Quando o demônio foi expulso, o mudo começou a falar. As multidões ficaram admiradas e diziam: “Nunca se viu coisa igual em Israel”. Os fariseus, porém, diziam: “É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios”.

Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, e curando todo o tipo de doença e enfermidade. Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!”

O demônio, lembra-nos São Pedro, anda ao redor de nós “como um leão que ruge, buscando a quem devorar” (1Pd 5,8). Para não cairmos nas mãos do adversário, o Senhor quis confiar-nos aos pastores do seu rebanho: em primeiro lugar, aos Apóstolos, fundamentos da Igreja e testemunhas oculares da ressurreição; em segundo, aos bispos, sucessores dos Apóstolos e encarregados de apascentar a Igreja de Deus (cf. Concílio Vaticano II, LG §20); e, por fim, aos presbíteros, empenhados em pregar o Evangelho e “celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento”.

Unindo os operários da messe pelos vínculos da fraternidade sacramental (cf. CIC 1568), Cristo deseja que nós, ovelhas de seu rebanho, supliquemos que nos envie pastores segundo o seu Coração: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” Dediquemos este dia a rezar de modo especial pelas vocações. Oremos também ao Senhor para que santifique o bispo de nossa diocese, tornando-o humilde servidor daqueles a quem governa.

Que a Virgem Maria, Regina Apostolorum, proteja todos os que Deus, em sua Providência, escolheu como ministros e dispensadores dos sagrados Mistérios. — Enviai, Senhor, trabalhadores santos para a vossa messe!

* * *

Início da missão apostólica. — V. 35. Jesus ia percorrendo todas as cidades e aldeias. “Descreve o evangelista o empenho de Cristo em percorrer todas, sem omitir nenhuma, cidades e aldeias, i.e., pequenos povoados, porquanto não desdenhava pregar nas pequenas cidades. Ensinando nas sinagogas, i.e., nos lugares destinados à doutrina e à pregação, pregando o Evangelho do reino celeste. Isto, com efeito, é próprio do Evangelho, diferentemente do Antigo Testamento, que prometia bens temporais na terra da promissão. E curando toda a doença e toda a enfermidade no povo” [1]. Nisto “se dá exemplo aos pregadores, para que não se contentem em pregar em somente um lugar: Eu vos destinei para que vades e deis fruto (Jo 15,16)” [2].

V. 36. Vendo Jesus as multidões, i.e., sua miséria não só corporal, mas sobretudo espiritual, compadeceu-se delas (gr. ἐσπλαγχνίσθη περὶ αὐτῶν), quer dizer, comoveu-se internamente, condoendo-se com sumo afeto e comiseração dos males daquela gente. Porque estavam cansadas e abatidas, i.e., afligidas por muitos males, como ovelhas que não têm pastor, que erram de um lado para outro, sem saber nem onde nem como encontrar o pastor e o restante do rebanho. Significa, portanto, que o povo judeu se desgarrrara por diversos gêneros de vícios e erros, vexado por diversos males causados pelos demônios, sem que houvesse um pastor que tomasse conta de sua salvação. Por isso disse Jesus aos discípulos:

V. 37s. A messe é verdadeiramente grande, i.e., do povo judeu, pois no meio dela fora semeada pelos profetas a palavra de Deus e a esperança do Messias. Por isso em Jo se diz dos judeus: Os campos que já estão branquejando para a ceifa (4,35), ou seja, já estão maduros, tendo recebido a doutrina evangélica, para passar da sinagoga para a Igreja como do campo para o celeiro, porque o fim da lei é Cristo. Eis por que, com respeito aos judeus, não se diz que os Apóstolos semeiam (o que mais lhes convinha com respeito aos gentios), mas que colhem o que já foi semeado; cf. Jo 4, 38: Eu enviei-vos a segar o que vós não trabalhaste etc. — Os operários, i.e., os segadores ou ceifeiros encarregados de trazer a messe de Israel para a Igreja pregando o Evangelho do Reino anunciado pela lei, são poucos, ou porque, antes dos Apóstolos, só houvesse Cristo e João Batista, ou porque fossem poucos os bons operários [3]. — Rogai pois ao Senhor da messe (Jesus, segundo Crisóstomo, refere-se tacitamente a si mesmo, embora seja provável tratar-se do Pai, a quem o Senhor costuma referir todas as suas coisas) que mande operários para a sua messe. A Deus compete enviar, pois os que se intrometem em seu campo, sem ter sido legitimamente enviados, passam a foice em messe alheia e tornam-se réus de sacrilégio, como todos os hereges. Por isso são operários de Deus somente os que ele mesmo manda, porque só Deus lhes pode dar o título de operários e torná-los idôneos e fiéis [4].

Notas

  1. Cateano, in Matth. 9,35 (ed. Lyon, 1639, vol. 4, p. 49).
  2. Santo Tomás de Aquino, super Matth. X l. 5 (5.ª ed., Marietti, 1951, p. 125, n. 796s).
  3. Cf. Id., ibid. (p. 126, n. 808).
  4. Cf. Jansênio, Tetrateuchus (ed. Bruxelas, Typis F. t’Serstevens, 1755, p. 88s). — Cf. Santo Tomás de Aquino, op. cit., loc. cit. (p. 126, n. 809): “Rogai pois ao Senhor da messe que mande operários, não interesseiros [questuarios = ambiciosos, mercenários] que corrompem com mau exemplo, para a sua messe, i.e., para a messe de Deus. Os interesseiros, com efeito, não são enviados para a messe de Deus, mas para a sua messe, porque não buscam a glória de Deus, mas o próprio interesse”.

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