Com o fim da ditadura de Francisco Franco († 1975) na Espanha e a abertura dos arquivos do Estado espanhol, iniciou-se um processo de redescoberta da Inquisição, a partir de suas fontes primárias. Autores como Edward Peters e Henry Kamen, já apresentados aqui, saíram em busca de documentos originais e chegaram à conclusão de que os tribunais da Inquisição – seja a medieval, seja a espanhola, ainda que esta mereça alguns pontos de interrogação – evitaram milhares de mortes. Onde quer que fosse implantada, a fama da Inquisição era a de ser um tribunal prudente e moderado, sendo que, muitas vezes, a instituição era inclusive criticada, pelos nobres e pelo povo, por sua excessiva brandura e complacência.
No século XIX, porém, a visão popular da Inquisição já era bem diferente. Uma novela gótica intitulada The Monk ["O Monge"], de autoria de Matthew Gregory Lewis († 1818), dava conta de um interrogatório inquisitorial tenebroso, que acontecia dentro de uma sala escura, com cortinas cerradas, homens encapuzados, velas acesas, instrumentos de tortura à mostra e, ao fundo, um grande crucifixo. E, embora nada disso correspondesse de fato à verdade histórica, foi a imagem que...