O Ofício das Leituras para a memória litúrgica de São Maximiliano Maria Kolbe — mártir religioso, vítima da perseguição nazista — propõe à meditação dos sacerdotes e fiéis que costumam rezá-lo uma importante reflexão. Nesse texto, São Maximiliano fala com tristeza da "doença quase epidêmica que se chama indiferentismo, que se propaga de várias formas", "não só entre os leigos mas também entre os religiosos" [1].

Para responder imediatamente ao problema observado, o santo pede aos católicos uma atenção especial à salvação das almas, a primeira e mais importante das missões da Igreja. "Como a glória de Deus resplandece principalmente na salvação das almas", explica São Maximiliano, "o desejo mais elevado da vida apostólica será procurar a salvação e santificação do maior número possível" [2].

De fato, o indiferentismo religioso, joio que tem minado a educação católica, está na raiz do processo de secularização pelo qual passa o Ocidente. No campo estritamente laical, tal fenômeno se percebe pela exclusão cada vez mais frequente da religião em questões como direitos humanos, por exemplo, sobre as quais a opinião do Magistério parece não valer nada. Também a moda e o estilo de vida denotam esse desprezo pelas virtudes cristãs. Mas é no campo religioso, o qual deveria oferecer uma resistência varonil a esse relativismo da fé, que o indiferentismo tem fincado raízes profundas, perturbando a identidade tanto dos sacerdotes quanto dos fiéis leigos ou religiosos.

Por conta de uma má teologia e compreensão do Concílio Vaticano II, muitas casas de formação sacerdotal e religiosa desenvolveram uma verdadeira "missão às avessas", cujo ideal primário não é a salvação das almas, mas assuntos de ordem temporal, como casa e moradia, saúde e emprego, educação e política — coisas importantes, é óbvio, mas que não constituem o cerne da tarefa da Igreja. Do Corpo de Cristo o povo espera uma libertação para além das questões salariais e empregatícias, para além das fronteiras da técnica. Isso se revela claramente no Brasil, onde muitas pessoas já saíram da linha da pobreza e, ainda assim, continuam a sofrer com a miséria do pecado.

Em uma importante conferência para membros do movimento Comunhão e Libertação, em 1990, o então Cardeal Ratzinger demonstrou, com certa dose de ironia, como a ênfase na realização dos desejos materiais ilude o homem e o afasta da sua verdadeira libertação pessoal:

O pensamento moderno nos fechou cada vez mais no cárcere do positivismo, condenando-nos ao pragmatismo. Este sabe alcançar muitas coisas, sabe viajar à Lua e mesmo mais longe, por espaços incomensuráveis. Não obstante, permanecemos sempre no mesmo lugar, porque não ultrapassamos a verdadeira fronteira do quantitativo e do factível. Alberto Camus descreve o absurdo desta forma de liberdade na figura do imperador Calígula. Este tinha tudo à disposição; entretanto, tudo, para ele, era pouco. Em seu louco desejo de ter sempre mais, e coisas cada vez maiores, ele grita: Quero a Lua; dai-me a Lua. Hoje podemos mais ou menos ter a Lua, mas se não se abrem as fronteiras entre terra e céu, entre Deus e o mundo, a Lua será apenas um pedaço a mais da Terra e o termos chegado lá não nos aproxima um passo sequer da liberdade e da plenitude tão almejadas. (grifos nossos) [3]

As palavras de Ratzinger escandalizam. E não é mesmo isso, uma escravização pelo fascínio da técnica, o que tem ocorrido em nossa sociedade? Apartado do Evangelho e da verdade, iludido pela secularização e pelo indiferentismo, o Ocidente cruzou a fronteira do espaço para conseguir apenas mais um pedaço de terra. Mas o homem continua angustiado por não saber o sentido de sua existência, por não saber de onde veio nem para onde vai, por não saber quem é e quem deve ser no seu breve tempo de existência. O homem foi até a Lua, mas não conseguiu entrar em seu coração.

A Igreja, com seus sacramentos, é o único "meio de transporte" que pode conduzir o ser humano até o seu coração, onde habita a Trindade Divina. Não há nada de errado em lutar por terra, casa e moradia. A Igreja só não pode esquecer, pondera Ratzinger, que a libertação fundamental "consiste em nos manter dentro do horizonte do eterno e em fazer-nos sair dos limites de nosso saber e de nosso poder" [4]. Se o homem precisa de fé para manter-se homem, "a própria fé, em toda a sua grandeza e amplitude, é sempre a reforma essencial de que precisamos" [5].

Peçamos, portanto, a São Maximiliano e à Virgem Santíssima, nossa Mãe e Auxiliadora, a graça de uma fé renovada contra o indiferentismo e o relativismo de nossos dias.

Referências

  1. Das Cartas de São Maximiliano Maria Kolbe (O. Joachim Roman Bar, O.F.M. Conv., ed. Wybór Pism, Warszawa, 1973, 41-42; 226).
  2. Ibidem.
  3. Joseph Ratzinger, Compreender a Igreja hoje: vocação para a comunhão. 3.ª ed., Petrópolis: Editora Vozes, 2006, pp. 80-81.
  4. Ibidem.
  5. Ibidem.

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