Padre Paulo Ricardo começa com este episódio uma série de vídeos sobre o verdadeiro espírito do Concílio Vaticano II e desmascara as artimanhas dos modernistas que tentaram raptar o Concílio.
Em 2012, o Concílio Vaticano II completará 50 anos e, por isso, o Papa Bento XVI inaugurará no mês de outubro o Ano da Fé. Algumas pessoas não concordam com essa atitude do Papa, pois não entendem que exista algo a ser comemorado. Os avanços trazidos pelo CVII não são motivo de alegria para muitas pessoas. Outras, pensam que se trata de uma incoerência, uma vez que em contraposição com os "novos ventos" conciliares, o Papa reafirma aos fiéis a necessidade de se estudar o Catecismo da Igreja Católica, o último e grande documento do CVII, que traz em seu bojo nada mais que a dureza da Doutrina. Nem uma coisa nem outra.
O Bem Aventurado Papa João XXIII no seu discurso de inauguração do próprio CVII afirmou que "o que mais importa ao concílio ecumênico: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz". E ainda: "para que esta doutrina atinja os múltiplos níveis da atividade humana (os indivíduos, a família, a vida social) é necessário primeiramente que a Igreja não se aparte do patrimônio sagrado da Verdade recebido dos seus maiores", essa afirmação é muito clara em seu objetivo, portanto, ninguém deve querer inventar uma nova fé. E ele não para por aí: "Ao mesmo tempo, deve também olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo hodierno que abriram novos caminhos ao apostolado católico". Esta é a finalidade do CVII.
O Concílio Vaticano II é um concílio teológico. Os anteriores a ele tinham finalidade dogmática, objetivavam mostrar onde se encontra a fé católica. João XXIII propunha que a assembleia conciliar pudesse expressar de uma forma mais acertada as verdades de sempre, sem pervertê-las, evidentemente.
Os documentos conciliares são exemplos claros do diálogo e da comunhão que se encontrava a assembleia naquele momento. É evidente, portanto, que ali havia uma correspondência, uma unidade, uma comunhão somente possível pela junção da sabedoria teológica, do diálogo e da inspiração divina. O problema reside no fato de que o grande dom que foi o CVII permanece escondido ainda 50 anos depois. Ele precisa chegar aos fieis. Mas, não é interessante para muitos que o CVII seja descoberto e propagado. Por quê?
Na época do CVII havia três grandes correntes teológicas: a primeira, conservadora, era a corrente tomista, formada por homens que viam em Santo Tomás de Aquino um grande tesouro para a Igreja. A segunda, denominada Teologia das Fontes, formada por teólogos que, embora venerassem Santo Tomás de Aquino, criam que as outras riquezas da Igreja presentes na Patrística, na Bíblia, na Liturgia deveriam ser recuperadas. O terceiro grupo estava voltado para a filosofia moderna, para o mundo moderno. Estes teólogos queriam um diálogo com o mundo, que a Igreja falasse uma linguagem que os homens modernos compreendessem.
O equilíbrio entre essas três correntes foi alcançado e os documentos são prova disso. Como exemplo de que os três grupos foram contemplados basta observar o que diz o nº 16 do documento do CVII, Optatam Totius:
"A teologia dogmática ordene-se de tal forma que os temas bíblicos se proponham em primeiro lugar. Exponha-se aos alunos o contributo dos Padres da Igreja oriental e ocidental para a Interpretação e transmissão fiel de cada uma das verdades da Revelação, bem como a história posterior do Dogma tendo em conta a sua relação com a história geral da Igreja. Depois, para aclarar, quanto for possível, os mistérios da salvação de forma perfeita, aprendam a penetra-los mais profundamente pela especulação, tendo por guia Santo Tomás, e a ver o nexo existente entre eles. Aprendam a vê-los presentes e operantes nas acções litúrgicas e em toda a vida da Igreja. Saibam buscar, à luz da Revelação, a solução dos problemas humanos, aplicar as verdades eternas à condição mutável das coisas humanas e anuncia-las de modo conveniente aos homens seus contemporâneos."
Percebe-se claramente a presença das três grandes correntes teológicas em perfeita harmonia. Trata-se de um texto católico. Contudo, algumas pessoas pertencentes ao grupo ligado à filosofia moderna, ainda hoje apropriaram-se da última frase e esquecem-se de todo o resto, jogando-o no lixo. Eles se autodenominam intérpretes e representantes do Concílio Vaticano II, utilizando-se dos meios de comunicação, sempre sedentos de novidades, apresentam uma nova forma de fazer teologia, de ser Igreja. Assim, o evento conciliar foi desequilibrado. É por isso que tornar conhecidos e apreciados os documentos elaborados neste Concílio não é interessante para eles: evidenciaria apenas o caráter católico dos documentos e comprovaria o acerto da hermenêutica da continuidade proposta pelo Papa Bento XVI (leitura dos documentos conciliares em sintonia com os concílios anteriores).
Os representantes dessa terceira corrente, também chamada de hermenêutica da ruptura, estavam presentes desde as reuniões conciliares. Lamentavelmente esses teólogos raptaram o Concílio Vaticano II, transformando-o no concílio da novidade. As novidades se tornaram o chamado espírito do Concílio. É uma inverdade, pois o verdadeiro espírito do Concílio Vaticano II é o católico:
O Ano da Fé, portanto, é o momento propício encontrado pelo Papa Bento XVI para que todos os fiéis possam realizar aquilo que era a intenção original do Bem Aventurado João XXIII, pois, somente "arraigados solidamente na doutrina que recebemos dos nossos maiores" podemos agora apresentá-la ao homem moderno.
Este é o verdadeiro espírito do Concílio Vaticano II.
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