Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho, o grande mestre da sabedoria sagrada, era natural da África. Foi duplamente mãe do santo, pois não só lhe deu a vida terrena, mas também a vida espiritual, regenerando-o para o Céu.

Os pais dela, cristãos e de boas condições, educaram-na na modéstia e na virtude. Desde a infância, dedicou-se a exercícios de piedade. Tendo ouvido de sua mãe como é agradável aos olhos de Deus vencer o sono da noite e passar o tempo em oração, começou logo a levantar-se durante a noite e a rezar. Também não era menos dedicada aos pobres. Privava-se muitas vezes de comer para suprir as necessidades dos indigentes.

Mônica nunca demonstrou qualquer prazer em enfeitar-se em vão, mas vestia-se sempre de acordo com sua posição na vida. Em todas as suas palavras e ações, esforçava-se por ser decente e reservada. Quando adulta, desejava viver na pureza virginal, mas era obediente aos pais, que preferiam que ela se casasse.

Aparição do anjo a Santa Mônica, por Pietro Maggi.

Como esposa, sua conduta foi tão exemplar que pode ser considerada um modelo para todas as pessoas casadas. Patrício, seu marido, atormentava a piedosa mulher de inúmeras maneiras, pois era de temperamento violento, imoral e propenso a muitos vícios. Mônica, no entanto, tratava-o sempre com amor e doçura, nunca censurando-o por seus vícios. Jamais o contrariava quando ele, entregue à paixão, começava a esbravejar; ao contrário, esperava que a cólera passasse e lhe expunha as faltas com serenidade cristã.

Rezando incessantemente a Deus pela conversão do esposo, a santa mulher o transformou tão completamente que ele finalmente passou a levar uma vida muito edificante. Suas vizinhas, que conheciam o temperamento apaixonado de Patrício, admiravam-se muitas vezes de que ele nunca a tivesse agredido ou tratado brutalmente, como seus maridos faziam com elas. Mas Mônica explicava-lhes a razão disso e as ensinava a ser submissas aos esposos, a tratá-los com amor e doçura e, sobretudo, a nunca contradizê-los quando estivessem zangados, suportando suas faltas com paciência e silêncio. 

Mônica estava igualmente empenhada em viver em amor e paz com seu marido, assim como estava decidida a não permitir conflitos e contendas na sua casa, e muito menos outros vícios. Teve três filhos, dois homens e uma mulher, e sua maior preocupação foi dar-lhes uma educação cristã. Porém, Agostinho, o primogênito, não foi obediente, sobretudo depois da morte do pai: levava uma vida desregrada e licenciosa, sem atender às admoestações, súplicas e advertências de sua piedosa mãe; até que, por fim, caiu na heresia dos maniqueus.

Enquanto isso, Mônica vivia a viuvez de acordo com os preceitos que São Paulo dá na primeira epístola ao discípulo Timóteo: era generosa para com pobres, assistia diariamente à Santa Missa, escutava avidamente a palavra de Deus. Não se dedicava a mexericos ociosos, nem a passear; mas lia livros de devoção, rezava e trabalhava. Não lhe interessavam os prazeres mundanos e muito menos as roupas finas ou outras vaidades.

Amava a solidão e levava uma vida discreta e tranquila, tendo como único problema a conduta viciosa do filho. Desfazendo-se em lágrimas, rezava quase dia e noite a Deus pela conversão de Agostinho, e pedia a outros cristão, tanto clérigos como leigos, que rezassem pelo mesmo objetivo. Um dia, ao pedir as orações de um bispo, este disse-lhe: “Vai em paz, um filho por quem a mãe derrama tantas lágrimas não pode perecer.” Tais palavras deram-lhe algum conforto, mas ela sentiu-se ainda mais consolada por uma visão em que Deus lhe anunciava claramente a conversão do filho.

Entretanto, Agostinho desejava sair de Cartago, onde tinha estudado retórica, e seguir para Roma. Mônica tentou impedi-lo de ir, mas Agostinho partiu secretamente enquanto ela estava na igreja. No entanto, mal havia chegado a Roma, ficou perigosamente doente e atribuiu às orações da sua mãe o fato de não ter morrido enquanto estava mergulhado no pecado, certamente destinado à perdição eterna.

“Morte de Santa Mônica”, por Pietro Gagliardi.

Assim que Mônica soube onde estava o filho, decidiu ir procurá-lo para poder cuidar dele. Quando, depois de uma viagem marítima muito perigosa, chegou a Milão, encontrou-o lá, pois tinha sido chamado de Roma para ensinar retórica. Foi então que ela percebeu com alegria que havia sucedido uma mudança em Agostinho, graças às conversas do filho com Santo Ambrósio, que, naquela época, era bispo de Milão. Mônica suplicou ao bispo que não abrandasse o interesse por seu filho, até que ele se convertesse completamente.

Por fim, Deus, em sua misericórdia, atendeu ao desejo da santa viúva. Agostinho renunciou à heresia maniqueísta e foi batizado por Santo Ambrósio aos 30 anos de idade. Pode dizer-se, verdadeiramente, que essa conversão foi fruto das orações e das lágrimas de Santa Mônica. A consolação que ela recebeu por causa da conversão do filho pode ser mais facilmente imaginada do que descrita. 

Pouco depois deste acontecimento, ela decidiu voltar com Agostinho para a África, mas, tendo chegado a Óstia, onde foram obrigados a esperar pela oportunidade de continuar a viagem, foi acometida de uma febre leve. Inicialmente, não parecia algo perigoso, e o próprio Agostinho conta como foi edificante uma conversa que teve com sua santa mãe sobre as glórias do Céu. Ela terminou a conversa com as seguintes palavras: “Meu filho, no que me diz respeito, nada mais espero deste mundo. Só tinha um desejo, que era ver-te católico antes de morrer. Deus concedeu-me mais do que eu pedia, porque vejo que não só o serves, mas que desprezas toda a felicidade terrena. Que me resta, pois, fazer na terra?” 

Nesse meio tempo, a doença agravou-se tão rapidamente que, nove dias depois, Santa Mônica, que há tanto tempo suspirava pelo Céu, entregou sua alma, adornada com tantas virtudes, nas mãos do seu Criador, aos 56 anos de idade. Santo Agostinho relata da seguinte forma o que Mônica pediu antes de morrer aos seus dois filhos que estavam com ela: “Depositai meu corpo onde quiserdes, e não permitais que nenhum pensamento vos perturbe. Só vos peço uma coisa: lembrai-vos de mim diante do Altar do Altíssimo, onde quer que estejais.” 

Ele descreve também como, depois de colocarem o corpo de sua santa mãe junto à sua sepultura aberta, lá ofereceu pelos mortos o sacrifício da nossa Redenção, a Santa Missa, antes de a enterrarem. Uma prova clara de que, naquela época remota, eles também acreditavam no Purgatório e rezavam pelos mortos, como nós, católicos, ainda fazemos hoje.

Considerações práticas

I. A vida de Santa Mônica pode servir de lição e exemplo a todos. Como virgem, era modesta e recatada, dedicava-se à oração, era bondosa com os pobres, não tinha prazer em luxos nem em roupas elegantes, casou-se com a ciência e o consentimento de seus pais, embora mais por obediência a eles do que por desejo próprio. Todos esses pontos merecem ser especialmente levados em conta e imitados por todas as pessoas solteiras. 

Como esposa, ela demonstrou uma discrição e uma paciência quase extraordinárias. Sofreu em silêncio o mal que lhe foi feito, mas esforçou-se por corrigir o marido com argumentos benévolos e orações. No entanto, ela manifestou uma grande preocupação em dar aos seus filhos uma educação cristã. Isso pode ensinar aos cônjuges como devem se comportar, principalmente se um tiver de sofrer com o outro. 

Como viúva, passava o seu tempo no exercício das obras que mencionei acima. Amava a solidão, fugia até dos prazeres lícitos e evitava a menor sombra de vaidade em seus trajes e comportamento. Oxalá todas as viúvas considerassem bem esse exemplo e conformassem suas vidas a ele. Com efeito, viver, após a morte do marido, a mesma vida de vaidade e dissipação, vestir-se com o mesmo luxo e orgulho, procurar os prazeres do mundo com a mesma frequência do passado, ser tão indolente no exercício das obras de caridade, passar ainda mais tempo em mexericos do que em orações ou em ouvir a palavra de Deus, levar uma vida regulada apenas pelo amor ao conforto e à sensualidade, talvez até procurar maiores perigos; tudo isso não é viver como uma viúva que deseja ardentemente ganhar sua salvação eterna. São Paulo diz:

Se uma viúva tem filhos ou netos, aprendam estes, antes de tudo, a exercer a piedade para com sua própria família e a retribuir a seus pais os cuidados que deles receberam porque isto é agradável a Deus. Aquela que é verdadeiramente viúva e desamparada, confie em Deus e persevere em suplicar e orar, de noite e de dia, porque, a que vive em deleites, vivendo, está morta diante de Deus (1Tm 5, 4-6)

II. Santa Mônica teve um marido cruel e um filho ímpio. No entanto, converteu os dois. Mas como e por que meios? Não com brigas e contendas, não com agressões e injúrias, não com palavrões e imprecações, mas com paciência, com ternas exortações e orações constantes. Oxalá todas as mulheres e todos os pais recorressem a esses meios quando têm maridos ou filhos maus. Eles não devem ser mudados por meio de maldições e agressões.

Santa Mônica e Santo Agostinho

Se um marido está zangado, embriagado, ou incapaz de seguir a razão, a mulher deve calar-se, ceder e esperar o momento oportuno para lhe mostrar suas faltas e exortá-lo a corrigir sua conduta. Conflitos ou maldições só servem para colocar lenha na fogueira e intensificar o mal.

Quanto aos pais, devem saber que nunca lhes é permitido amaldiçoar seus filhos ou desejar-lhes o mal, mesmo que os filhos sejam ímpios e maus. Os pais pecam ao amaldiçoar e, muitas vezes, de forma muito grave. Eles dão origem a muitos pecados que os filhos, com o passar do tempo, cometem ao praguejar da mesma maneira: pois vê-se todos os dias que os filhos aprendem a praguejar com os pais e tornam-se tão habituados a isso quanto eles. 

E quem é responsável perante Deus por todas as maldições dos filhos senão os pais, que lhes deram o exemplo? Estou ciente das muitas desculpas que os pais dão, e responderei a elas em outra ocasião. Hoje, digo apenas isto: jamais é permitido amaldiçoar, pois Deus o proíbe. 

Quando os pais amaldiçoam seus filhos, agem contra a lei de Deus: pecam e levam seus filhos a pecar. Praguejar não é um meio adequado, nem permitido, para educar os filhos ou torná-los melhores. Santa Mônica utilizou meios muito diferentes e obteve o que desejava. Onde é que já se viu um pai ou uma mãe que tenha tornado um filho piedoso amaldiçoando-o? Mas mesmo que fosse possível educar bem uma criança e torná-la piedosa amaldiçoando-a, seria pecado fazê-lo com essa intenção. Deus o proibiu, e isto é suficiente.  “Educai-os na disciplina e nas instruções do Senhor”, escreve São Paulo (Ef 6, 4). A correção do Senhor não permite a maldição, mas, pelo contrário, proíbe-a.

Referências

  • Extraído, traduzido e adaptado passim de: Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 1. New York: P. O’Shea, 1876.

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RC
Robson Cola
29 Ago 2024

Uma santa, mãe de um santo!

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LL
Larissa Loschi
28 Ago 2024

Que conteúdo edificante.

Isso nos motiva a buscar o céu 

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NC
Nea Carvalho
28 Ago 2024

Maravilhoso e de alta compreensão. Padre Paulo tem um modo peculiar de colocar os textos de um modo claro e com grande conhecimento do conteúdo exposto.

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