A página do Padre Paulo Ricardo no Facebook foi alvo de uma enxurrada de protestos ferozes na última semana. O motivo da celeuma foi este vídeo aqui. Nele, Padre Paulo explica os perigos que existem no uso da chamada pílula anticoncepcional. "Usando um simples anticoncepcional, você, mulher, pode transformar o seu útero num túmulo, e matar muitas crianças sem saber", afirma o sacerdote. A reação foi imediata. Sobraram ataques pessoais, faltaram argumentos.
É preciso esclarecer, em primeiro lugar, que o vídeo em questão não traz nenhuma citação bíblica, nenhuma pregação religiosa, nenhum sermão moralista. Quem se deu ao trabalho de assisti-lo sabe do que se trata. Abortos Ocultos apenas apresenta um histórico do que eram as pílulas anticoncepcionais quando surgiram, no início da década de 1960, e no que se transformaram após as denúncias do movimento pró-vida. A princípio, diz Padre Paulo, os anticoncepcionais eram verdadeiras "bombas de hormônio". Isso provocava efeitos colaterais terríveis para o organismo da mulher. Os produtores, então, decidiram diminuir a quantidade dessas substâncias, a fim de que não causassem os danos apresentados até aquele momento. O anticoncepcional tornou-se, assim, um "contraceptivo de componentes combinados".
Eis aí. Um desses componentes, de fato, impede apenas a ovulação. Ora, todo mundo sabe que não existe aborto se o óvulo não é fecundado. Até um estudante de ensino fundamental sabe disso. O problema está no outro componente. Trata-se de um hormônio para impedir a implantação do embrião no útero da mulher, isto é, o hormônio provoca um aborto. Isso não é teoria da conspiração nem fanatismo religioso. Está tudo descrito nas bulas desses remédios. Ou melhor, estava. Porque depois das denúncias do movimento pró-vida, os produtores de anticoncepcionais magicamente excluíram essas informações de suas clientes. Assim funciona a indústria da contracepção. Vale tudo em nome do lucro e da cultura da morte.
Para que não reste dúvida, leiam vocês mesmos as bulas dos remédios citados no vídeo aqui, aqui e aqui. Informar-se não dói. É libertador!
O engodo feminista
O movimento feminista celebra a contracepção como uma grande conquista das mulheres. Daí a fúria contra o vídeo. Afinal de contas, agora elas podem supostamente ter sexo como os homens. Não precisam preocupar-se com gravidez. Não precisam preocupar-se com casamento. Não precisam preocupar-se com família. E chamam isso de liberdade. Ocorre que as pílulas anticoncepcionais — para além dos efeitos abortivos, que por si só já bastariam para repudiar a produção desses venenos — trouxeram problemas gravíssimos às mulheres, tanto no aspecto psicológico quanto no social.
Há poucos meses, a revista Época publicou uma reportagem bombástica sobre vítimas dos anticoncepcionais. Uma das entrevistadas, segundo a revista, precisou amputar os dez dedos dos pés, devido a complicações causadas pelo remédio. E tem mais. Ela conta que sofreu três paradas cardíacas e embolia pulmonar. Apesar disso, denuncia Época, pouco se tem feito no Brasil — ao contrário de outros países, onde já existe uma regulamentação mais firme a respeito — para esclarecer a população quanto ao risco que oferecem as pílulas contraceptivas. É praxe médica, diz a reportagem, manter o silêncio: "Poucos são os que relatam às autoridades os casos de complicações após o uso de pílula". Perguntar não ofende: Onde estão as senhoras que vociferaram contra o Padre Paulo Ricardo no Facebook neste momento? Onde estão as vozes feministas que dizem defender as mulheres em nome dos "direitos reprodutivos"?
Infelizmente, a reportagem de Época falha ao endossar outros métodos contraceptivos como alternativa às pílulas. Essa é a questão. Os métodos contraceptivos artificiais fundamentam uma ideologia: a falsa ideologia de que a mulher só será livre quando for completamente desvinculada da figura materna.
Trata-se de um ataque orquestrado à dignidade da mulher. Notem: as pílulas anticoncepcionais não trouxeram a liberdade sexual às mulheres, mas tornaram-na um objeto de consumo masculino. Agora os homens podem "usá-las" sem correr o "risco" de engravidá-las. Podem praticar a torpeza do "sexo sem compromisso". E isso é devastador tanto para o homem quanto para a mulher. Argumentam alguns: "Ah, mas agora as mulheres também podem usar os homens e ter sexo sem compromisso". Exatamente. E a dignidade humana que vá para o lixo.
Desde que o sexo se tornou um lazer, o ser humano ficou refém de suas próprias paixões e dos interesses ideológicos. Paulo VI, na profética encíclica Humanae Vitae, havia alertado para isso:
"Considerem, antes de mais, o caminho amplo e fácil que tais métodos abririam à infidelidade conjugal e à degradação da moralidade. Não é preciso ter muita experiência para conhecer a fraqueza humana e para compreender que os homens — os jovens especialmente, tão vulneráveis neste ponto — precisam de estímulo para serem fiéis à lei moral e não se lhes deve proporcionar qualquer meio fácil para eles eludirem a sua observância. É ainda de recear que o homem, habituando-se ao uso das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito pela mulher e, sem se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, chegue a considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira, respeitada e amada."
"Pense-se ainda seriamente na arma perigosa que se viria a pôr nas mãos de autoridades públicas, pouco preocupadas com exigências morais. Quem poderia reprovar a um governo o fato de ele aplicar à solução dos problemas da coletividade aquilo que viesse a ser reconhecido como lícito aos cônjuges para a solução de um problema familiar? Quem impediria os governantes de favorecerem e até mesmo de imporem às suas populações, se o julgassem necessário, o método de contracepção que eles reputassem mais eficaz? Deste modo, os homens, querendo evitar dificuldades individuais, familiares, ou sociais, que se verificam na observância da lei divina, acabariam por deixar à mercê da intervenção das autoridades públicas o setor mais pessoal e mais reservado da intimidade conjugal." [1]
Sejamos francos. A realidade descrita pelo Beato Paulo VI não é precisamente a que vivemos hoje? Em Portugal, reportamos aqui, causou escândalo a história da mãe Liliane Melo, a qual foi obrigada pelo Estado a submeter-se a uma cirurgia de esterilização. Essas são as consequências dos métodos contraceptivos artificiais.
Os "pingos nos is" e mais um pouco de informação
Certas vozes reclamaram: "Temos que 'botar' um monte de filho no mundo, então? A Igreja vai pagar a conta?" Não é segredo para ninguém o apreço e o apoio que a Igreja presta àquelas famílias que têm muitos filhos. Elas são uma "esperança para a sociedade", como disse o papa Francisco recentemente. Muitas pessoas confundem, no entanto, famílias numerosas com falta de responsabilidade. Engano comum. A doutrina da Igreja é clara em ensinar a "paternidade responsável", que é a generosidade dos pais na abertura à vida, conforme as suas próprias condições. Trata-se de uma capacidade de doação e entrega a Deus. Filhos são sempre um "dom" de Deus, nunca um estorvo. Neste sentido, o Método de Ovulação Billings tem se mostrado um ótimo instrumento para o exercício da desejável "paternidade responsável", pois além de sempre favorecer a abertura do casal à vida, permite que marido e mulher se conheçam melhor e aprendam juntos a viver a continência necessária ao matrimônio.
A mentalidade contraceptiva, no entanto, criou um relacionamento egoísta entre o casal, imprimindo a ideia de que "criança" é algo ruim. Nascem, assim, várias desculpas para a contracepção. A maior delas seria o custo financeiro. Impressiona, todavia, que tantos casais que se recusam a ter filhos não reclamem de dispender gastos consideráveis em alimentação e tratamento veterinário a seus cães e gatos de estimação. Pesquisa recente do IBGE revela que, no Brasil, o número de animais domésticos por casal está ultrapassando o número de crianças. Nunca foi tão real o perigo, apontado pelo Catecismo da Igreja Católica [2], de que as pessoas dirijam aos animais "o afeto devido exclusivamente às pessoas".
O problema, portanto, parece ser de outra ordem. É que, na verdade, os filhos tiram as pessoas de sua "zona de conforto". Como Padre Paulo mesmo coloca em outro vídeo, "ter uma família numerosa tem o seu preço": quem faz uma escolha pela vida, deve estar disposto a renunciar às férias em Cancún, ao seu iate ou à sua casa na praia. Além disso, educar esses pequenos — diferentemente de adestrar animais — é um trabalho custoso, que demanda dedicação integral e um desenvolvimento especial do próprio caráter. Não se pode, de fato, "pôr filhos no mundo" e negligenciar a sua formação. É preciso sair do mundo do próprio ego — dos "meus planos", da "minha carreira", do "meu lazer" — para entrar de cabeça nesse universo novo e exigente. No fim das contas, a raiz da esterilidade do "novo mundo" não passa de um egoísmo disfarçado sob a máscara de "prudência".
No que diz respeito às mulheres, acrescente-se ainda o fator cultural: vivemos em um tempo avesso e hostil à maternidade. Quando Simone de Beauvoir declarou, com todas as letras, que, enquanto "os mitos da família, da maternidade e do instinto materno" não fossem destruídos, as mulheres continuariam a ser oprimidas [3], ela trazia à luz os projetos mais obscuros do movimento feminista — projetos que estão a pleno vapor ainda hoje. O discurso de "empoderamento" e "independência" da mulher, aliado a uma completa subversão da própria identidade feminina, não é um "processo automático de progresso da humanidade", como muitas vezes se pensa. Trata-se de um discurso artificialmente construído — e que, infelizmente, só trouxe frustração e infelicidade às mulheres.
Vejam, mulheres, que São João Paulo II deixou uma herança belíssima a vocês, com a sua carta apostólica Mulieris Dignitatem. Vale a pena redescobri-la. Vocês não precisam de anticoncepcionais para serem livres. Vocês precisam de dignidade. O cristianismo sabe disso há muito tempo. Parece que o feminismo não.
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