Você já viu uma delas em público, até em lugares nos quais pensou estar só. É provável que já tenha sido beijada por alguma ao menos uma vez na vida. Nós todos já conhecemos uma delas. É possível que haja uma na sua própria família. Quem sabe você mesma não seja uma delas. Sim, eu estou falando das “velhas senhorinhas de igreja”

Elas existem faz muito tempo. No evangelho deste domingo (festa da Apresentação do Senhor), somos apresentados a uma chamada Ana. Ela é idosa, seu esposo já há muito morrera, e ela passa “noite e dia” rezando e jejuando no Templo (cf. Lc 2, 37). A descrição soa-lhe familiar? Ana se enquadra bem no perfil da “velha senhorinha de igreja”

Nessa leitura, Ana é retratada ao lado de um senhor chamado Simeão. Ele primeiro profetiza que o menino Jesus é o Salvador de Israel e que Maria irá tomar parte no plano salvífico de Deus de uma forma única e misteriosa. Ele sabe, porque recebeu essa revelação do Espírito Santo (cf. Lc 2, 26). De modo semelhante, Ana profetiza sobre Jesus ser o Redentor de Israel bem no final da leitura do evangelho (cf. Lc 2, 38). 

Depois de ler pela primeira vez essa passagem, a importância desses dois “velhinhos de igreja” talvez nos passe desapercebida; afinal de contas, Jesus e Maria geralmente são o foco desse trecho. Poderíamos nos perguntar, então, o que significa a presença de Ana e Simeão. 

A tradição cristã oriental os inclui entre os últimos dos profetas do Antigo Testamento. Por séculos, os profetas pregaram às tribos de Israel, alertando-as para que se arrependessem de seus pecados, voltassem à lei de Deus e se preparassem para a chegada do Messias — palavra que significa, literalmente, “o ungido”. Profetas como Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias e Jonas (a lista poderia se estender ainda mais), todos esperaram ansiosos a vinda do Messias.

Mas, enquanto os profetas do Velho Testamento falaram do Messias que viria, Ana e Simeão receberam a perfeição da profecia, pois testemunharam o cumprimento das promessas de Deus. Ana e Simeão podem ter visto com seus olhos um bebê judeu, mas com os olhos do coração eles viram o verdadeiro Messias de Deus

Esses geralmente esquecidos “velhinhos de igreja” são uns dos primeiros a receber o dom da , dado a todos que acreditarão nessa criança que é o Cristo: “A fé é o fundamento das coisas que se esperam e o argumento das que não se veem” (Hb 11, 1).

O cumprimento da promessa do Messias é muito mais do que poderiam esperar os mais devotos dos judeus: Jesus, o Messias, revela que irá vencer a morte, conceder a vida eterna e habitar nos corações do povo escolhido de Deus por meio do dom da fé. Nas Escrituras, Jesus deixa claro que Ele e seu Pai virão e farão morada nas almas dos que o amam (cf. Jo 14, 23). Santo Tomás acrescenta que é pela fé, então, que “a vida eterna começa em nós” (STh II-II, 4, 1c.).

“Calma, você está me dizendo que, pela fé, a vida eterna, o Céu, começa na minha alma… agora?”

É exatamente isso que estou dizendo.

Nós fomos agraciados com o mesmo dom da fé que deu a Ana ver o Senhor sem um apelo externo — ela recebeu uma luz interior. A “velha senhorinha de igreja” com que se encontraram Maria e José é um lembrete e um sinal de que Deus é fiel a suas promessas: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá, e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá eternamente. Crês nisso?” (Jo 11, 25-26).

Uma “velha senhorinha de igreja” responde a essa pergunta de Cristo com fé simples e despretensiosa: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus” (Jo 11, 27).

Se ter fé significa tornar-se um pouco dessas “velhas senhorinhas de igreja”, e se essas pessoas são realmente agraciadas com uma breve visão do Deus eterno em seus corações… então também eu quero ser como elas.

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