“A qualquer mulher que deseje se casar, meu conselho é: case-se com um homem capaz de jejuar”, dizia um monge beneditino. Eis uma exigência interessante na hora de procurar um esposo. A princípio, poderíamos julgar que, certamente, qualquer um pode jejuar. Mas há jejuns e jejuns.
O jejum geralmente se refere à renúncia de alimentos, mas pode referir-se também a dizer “não” a outras coisas; por exemplo, alguém pode fazer jejum de redes sociais. Qualquer tipo de jejum é um “não” que se diz. Todavia, é sempre um “não” por alguma razão; podemos dizer que se trata de um “não” enraizado num “sim”.
O desejo da saúde corporal ou de uma aparência elegante são dois “sins” que podem inspirar a dizer “não” à comida. Outro poderia ser o desejo da força de vontade que vem de dizer repetidamente “não” a algo que eu quero.
Para pensar com clareza sobre o jejum, especialmente, o jejum que mais queremos fazer, precisamos pensar no porquê: o “sim” por trás do “não”. Os cristãos que iniciam a prática do jejum na Quaresma devem perguntar a si próprios: por que eu estou fazendo isso? Qual é exatamente o “sim” que está me movendo aqui ou, em todo caso, o “sim” que eu quero que me mova aqui?
Tradicionalmente, existem várias razões pelas quais os cristãos jejuam. Duas delas se destacam por estar obviamente ligadas uma à outra e firmemente enraizadas na experiência humana. O jejum pode refrear o desejo pelas coisas inferiores, e pode elevar a mente às coisas superiores. Esta última razão, que confere especial importância à primeira, deve nos fazer pensar. Claramente, nem todo jejum eleva a mente às coisas mais elevadas. Então, o que é necessário para que o jejum tenha esse fruto tão importante?
O passo mais óbvio é reconhecer nisso uma razão e um fruto. Eu escolho basear o “não” do meu jejum no “sim” de me voltar para as coisas mais elevadas. Eu poderia muito facilmente começar a jejuar simplesmente porque devo, e esse jejum ainda pode dar bons frutos. Mas será muito diferente do jejum que é feito conscientemente tendo em vista as coisas mais elevadas. Santo Tomás de Aquino é ainda mais específico: ad sublimia contemplanda, para “contemplar as coisas sublimes” (cf. STh II-II 147 1c.).
Eis aqui uma coisa que pode quebrar a monotonia e a dor do nosso jejum, e realmente dar vida a ele: treinar a alma para ver as coisas sublimes, amá-las e entregar-se a elas.
Dizer “não” às coisas não é algo qualquer. Trata-se de dizer “não” ao que queremos quando não precisamos dizer “não”, a fim de desviar o nosso olhar para outra coisa. Com a motivação do amor, esse desvio fornece uma visão mais ampla. E assim cresce o nosso amor. Nosso “sim” torna-se mais firme e mais profundo.
Aqui começa a fazer sentido que a capacidade de jejuar seja considerada uma espécie de requisito para o casamento. Um homem capaz de jejuar é um homem capaz de ver, e de amar. Ele pôs em prática aquilo que é o cerne de qualquer relacionamento de verdade, seja com Deus seja com as outras pessoas. Ele aprendeu a dizer “não” a si próprio. E de quantas maneiras — algumas óbvias, outras não tão óbvias — um homem deve dizer “não”, de novo e de novo, em sua vida! Tudo por causa dos “sins” mais importantes; como naquele dia, quando ele disser [o grande] “sim”.
Mesmo já casados, ainda assim podemos nos tornar o homem com quem nossa esposa gostaria de ter se casado, ou o homem com quem ela de fato quis se casar, quer ela vislumbrasse isso com clareza quer não. Seja qual for o meu estado de vida, ainda posso me tornar um homem capaz de jejuar. Devo isso aos outros e a Deus. E, ao fazê-lo, finalmente eu descobrirei o homem que eles sabem que eu posso ser.
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