Muitos autores de esquerda têm dificuldade em explicar a atração dos jovens pela religião, particularmente em suas formas mais tradicionais. Em tese, essa atração não deveria existir. Ela dá curto-circuito na lógica das narrativas prediletas da esquerda. Jovens deveriam sentir-se atraídos por narrativas revolucionárias que pregam o progresso e a igualdade. A história, dizem os esquerdistas, é uma sucessão de disputas de poder que dividem as pessoas entre exploradores e explorados. Jovens religiosos não se encaixam na narrativa porque buscam um Deus que é amor e perdão.

Quando esse autores não conseguem identificar a luta de classes nessa atração religiosa, resolvem elaborar uma ladainha de acusações, tachando os jovens crentes de “racistas”, “misóginos”, “homofóbicos” e até “elitistas”.

Recentemente, a jornalista Tara Isabella Burton causou alvoroço com um ensaio publicado em The New York Times, intitulado Christianity Gets Weird [“O cristianismo torna-se esquisito”]. Ela se identifica como uma jovem cristã tradicional, atraída pelas formas externas mais antigas. Ama incenso, véus, canto gregoriano e sacramentais. No entanto, como moça pós-moderna alheia às principais narrativas ocidentais, ela acha difícil explicar sua atração pelo esplendor medieval e pela “pompa histórica” do culto em latim.

Os liberais que acompanham a tendência sentem uma perplexidade semelhante. Eles tentam minimizar essa atração rotulando-a como uma “moda” da juventude. Dizem que a culpa disso é o apego superficial e fetichista a uma “estética sobrenatural”, que os deixa exasperados, e rotulam de “esquisito” aquilo que não conseguem entender. Isabella e muitos outros que se unem a ela online adotaram o rótulo com certa ironia.

Portanto, cristãos “esquisitos” estão aparecendo na cena cultural, muitas vezes em espaços na internet onde podem se reunir e compartilhar suas opiniões.

A jornalista afirma que “cada vez mais jovens cristãos, desiludidos com binarismos políticos, incertezas econômicas e com o vazio espiritual que define a América moderna, encontram alívio numa visão da fé claramente antimoderna”. 

Os membros das gerações Y e Z percebem o vazio do deserto cultural pós-moderno. Também rejeitam o vazio das principais igrejas protestantes, que atenuaram as verdades sobrenaturais e exaltaram trivialidades. Esses peregrinos online detestam os aspectos estéreis, feios e cruéis da vida moderna.

Eles anseiam por algo verdadeiro e profundo. Sua propensão a “voltar” à Idade Média e à fé tradicional é o pior pesadelo de um esquerdista. Este fica perturbado não apenas por causa da atração que esses jovens sentem por um cristianismo vigoroso, mas também por sua rejeição dos fundamentos antimetafísicos da ordem de esquerda, que foram intensificados pela desagregação política e econômica dessa ordem, provocada pelo coronavírus.

O problema dessa corrente contracultural é a sua dificuldade em se definir e se expressar. Seus seguidores jamais conheceram o mundo tradicional, e agora o admiram. São vítimas de uma cultura pós-moderna caótica, destituída de estrutura e estabilidade. Isabella afirma que uma rebeldia “punk” caracteriza o movimento, que parece ser contrário a tudo o que faz parte do establishment, inclusive a economia moderna.  

Esses jovens são movidos pela “ânsia de algo que está além do que a cultura americana contemporânea lhes pode oferecer, algo transcendente, politicamente significativo e pessoalmente desafiador”.

Eles não sabem exatamente o que estão a buscar, mas detectam algo que os fascina e se apegam a isso com paixão. Críticos superficiais rejeitam esse apego, pois acham que a adesão a aspectos externos pode levar a vários perigos.

Mas esses críticos estão errados.

Existe um nome para o que esses jovens cristãos buscam e encontram nas formas tradicionais de culto, como nas Missas em latim, no incenso e nas Vésperas solenes. Eles encontram uma beleza autêntica que toca e eleva sua alma, fazendo-os distanciar-se da feiura da modernidade. O pensamento filosófico ocidental chama essa beleza de sublime.

É com acerto que Edmund Burke considera o sublime a “emoção mais forte que a mente é capaz de sentir”. Ele consiste em coisas transcendentes que provocam fascínio por causa de sua magnificência. É algo que nos convida a superar o egoísmo e a autossatisfação e a olhar para coisas mais elevadas — o bem comum, a santidade e, em última análise, Deus —, coisas que dão sentido e propósito à vida.  

Quer se manifeste em obras de arte, em grandes feitos ou na liturgia religiosa, o sublime fomenta sentimentos de lealdade, dedicação e devoção que podem preencher o vazio do deserto pós-moderno. 

A Igreja se cerca de coisas sublimes, coisas que sem dúvida atraem e convertem as pessoas para o culto e o serviço a Deus (coisas que, infelizmente, foram abandonadas pelos progressistas). Elas são manifestações externas que revelam algo da própria grandiosidade de Deus. A natureza humana se sente naturalmente atraída por elas e por princípios e doutrinas que fascinam o intelecto, em razão de sua lógica e sabedoria.

Os jovens cristãos estão certos ao presumir que as coisas que provocam fascínio são parte de um modo de vida distinto daquele que encontram hoje no mundo. Também estão corretos em sua percepção do colapso irreversível da ordem esquerdista, que nada lhes oferece de sublime. Não há nada de “esquisito” em sua descoberta de uma ordem social cristã que trilha o caminho oposto das alternativas individualistas e estéreis, que são, elas sim, a verdadeira esquisitice na história humana.

Os esquerdistas pós-modernos não se sentem ameaçados quando o cristianismo tradicional aceita ser apenas mais um de tantos elementos no bufê cultural. Porém, quando as pessoas rejeitam a infraestrutura filosófica que sustenta o esquerdismo, eles perdem toda a tranquilidade. 

O problema, para esse sedentos jovens cristãos, não está no objeto de seu fascínio, mas em como dar os próximos passos que levariam, normalmente, a um aprofundamento de sua fé. É preciso ir além da “esquisitice” e abraçar com sinceridade o sublime, em toda a sua plenitude e autenticidade.

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